10 de maio de 2012

DELMIRO, O HERÓI DO SERTÃO

De caixeiro a coronel do sertão, o cearense Delmiro Gouveia tornou-se lenda por seus projetos ousados.

Nem as passagens controversas de sua trajetória, nem a morte trágica por assassinato impediram que o cearense Delmiro Augusto da Cruz Gouveia cravasse seu nome na história do Brasil como um dos pioneiros no desenvolvimento da região Nordeste. Ele é um dos 24 perfis de empresários brasileiros que compõem a exposição "Pioneiros & Empreendedores", em cartaz até o dia 13 de maio na Universidade de Fortaleza (Unifor).

Retratado na literatura em meia dúzia de biografias, folhetos de cordel e romances, na música, no teatro e no cinema, o empresário se destacou pela ousadia de projetos para levar água, energia e industrializar o sertão em uma época em que quase ninguém apostava no potencial da região para além do plantio da mandioca e da cana de açúcar.

A localidade de Pedra, ex-distrito de Água Branca, no sertão alagoano, onde ele montou, em 1952, sua fábrica de linhas (alimentada por hidrelétrica, o que também foi ideia sua), passou a chamar-se Delmiro Gouveia, elevada ao status de município.

Comércio

Objetos de Delmiro Gouveia em exposição no Espaço Cultural Unifor. Foto: Rodrigo Carvalho
Sem ter frequentado a escola formal e órfão de pai ainda criança, aos 15 anos Delmiro perde também sua mãe e começa a trabalhar em Recife, onde morava com a família desde os cinco anos. No começo, foi bilheteiro e chefe de estação ferroviária, mas foi na compra e venda de mercadorias que descobriu seu talento.


Em 1881, já se dedicava ao comércio, trabalhando como "Caixeiro Despachante" em Recife. Em seguida, passou a negociar couro de bode e carneiro, comprando muitas vezes a crédito e fazendo a ponte entre criadores de animais do agreste e do sertão e grandes exportadores da Capital.

A grande virada aconteceu nos anos 1890, quando passou a trabalhar também como funcionário da filial brasileira da Keen Suttery, empresa de beneficiamento de couro norte-americana. Após um ano como funcionário da filial, consta que ele teria viajado aos Estados Unidos para negociar a filial brasileira pela metade dos custos da época.

Era o início da nova trajetória, que seguiu com associações lucrativas como a feita com o empresário norte-americano Jacob Astor Rossbach, proprietário da J.H. Rossbach Brothers, com quem estabeleceu boa relação comercial e amizade que lhe rendeu confiança, por exemplo, a receber adiantamento em dinheiro para montar sua primeira fábrica de linhas. No final da década, em 1897, Delmiro chegou a exportar dez mil contos de réis.

Disputas

Os anos seguintes, de prosperidade, foram marcados ainda por uma série de polêmicas relacionadas a disputas políticas e a sua vida pessoal. Empreendimentos como o Mercado do Derby, construído no terreno do Prado da Estância, no bairro recifense das Graças, foi o foco de uma disputa que culminaria com sua saída de Recife. Inaugurado em 1899, o novo mercado foi seguidas vezes sabotado pelo então prefeito, Esmeraldino Bandeira, aliado do governador Segismundo Gonçalves e de Rosa e Silva, líder político de Pernambuco que na época exercia os cargos de senador e vice-presidente da República.


Foi a Rosa e Silva que Delmiro recorreu em viagem ao Rio de Janeiro para sugerir uma trégua. A tentativa fracassou após Delmiro receber informações de que dois pistoleiros de Recife teriam sido mandados à capital carioca para matar-lhe. O empresário reagiu acusando publicamente Rosa e Silva por seu possível assassinato e o agredindo a bengaladas. Foi recebido como herói pela população do Recife.

As hostilidades se acentuaram e em 1900 Delmiro Gouveia e seu sócio Napoleão Duarte foram presos acusados de incendiar o próprio mercado. Um boato de que o Derby seria incendiado teria gerado uma troca de acusações entre apoiadores dos dois e as autoridades: de um lado, acusavam o poder público da intenção de incendiar o local; do outro, acusavam os sócios de planejar o incêndio para fugir da falência.

A prisão marcou a separação de Delmiro da esposa, Dona Iaiá, (atormentada por escândalos de infidelidade do marido) e, posteriormente, de seu sócio, que chegou a atirar-lhe no joelho.

Coronel

Um novo escândalo obrigou o empresário a se refugiar na localidade de Pedra, distrito de Água Branca, no sertão alagoano, onde contava com a proteção do governador do Estado, Euclides Malta.

Delmiro foi acusado e condenado por rapto de menor após iniciar romance com a filha bastarda do governador Segismundo Gonçalves, que tinha na época 16 anos. Em Pedra, ele encontrou apenas algumas casas de taipa e uma pequena estação da Ferrovia Paulo Affonso. A estada marca o último e mais célebre período da vida do cearense.

Ali, ele construiu açudes, desviou via encanamento de 24 km as águas do São Francisco e passou a comercializar couro, criar gado, introduzindo inovações como o cultivo de uma espécie desconhecida de palma para o gado. Lá, ele também montou ainda a fábrica de linhas Cia. Agro Fabril Mercantil, utilizando mão de obra da região e energia elétrica da usina que idealizara na queda d´água de Angiquinhos.

O coronel, como ficou conhecido na localidade, foi morto a tiros no dia 10 de outubro de 1917 na varanda de sua casa, deixando em Pedra um povoado com cerca de seis mil moradores e uma fábrica de linhas que produzia quase 600 mil carretéis por dia com algodão plantado na região.

Extraído do sítio Diário do Nordeste

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