31 de março de 2013

CONSUMO DE VINHO NA FRANÇA CAI E GERA TEMOR SOBRE "PERDA DE VALORES" - Hugh Schofield

A queda no consumo de vinho foi registrada nas últimas três gerações

A queda no consumo de vinho na França nas últimas décadas vem gerando preocupação entre analistas e enófilos do país, que temem que a mudança seja um sinal da perda de valores considerados essenciais da identidade francesa.

Segundo dados do FranceAgriMer, um órgão de supervisão das políticas do Ministério da Agricultura e Pesca da França, em 1980 mais da metade dos adultos (51%) consumiam vinho diariamente ou quase todos os dias.

Atualmente este número caiu para 17%, e a proporção de franceses que nunca bebem vinho dobrou e chegou aos 38%.

Em 1965 a quantidade de vinho consumida per capita era de 160 litros por ano. Em 2010, a quantidade caiu para 57 litros e deve cair para não mais do que 30 litros nos próximos anos.

Em jantares na França, o vinho é a terceira bebida mais popular, depois da água de torneira e a água mineral. Por outro lado, refrigerantes e sucos de frutas estariam subindo rapidamente nas preferências.
Gerações

Segundo um estudo recente da publicação especializada International Journal of Entrepreneurship, as mudanças dos hábitos dos franceses podem ser percebidas claramente por meio das atitudes de várias gerações.

As pessoas com idades entre 60 e 70 anos cresceram com o vinho na mesa em todas as refeições. Para eles, o vinho continua uma parte importante de seu patrimônio cultural.

A geração seguinte, agora entre 40 e 50 anos de idade, acredita que vinho é algo que deve ser consumido ocasionalmente. Eles compensam o declínio no consumo, gastando mais com vinhos, pois, apesar de beberem menos, preferem um vinho de mais qualidade.

Membros da terceira geração, a geração da internet, nem mesmo se interessam por vinho antes dos vinte e poucos anos. Para eles, vinho é um produto como qualquer outro, e eles precisam ser convencidos de que a bebida merece o investimento.

Os autores do estudo, Thierry Lorey e Pascal Poutet, afirmam que o que está acontecendo é uma "erosão da identidade do vinho e de suas representações sagradas e imaginárias".

Vinho agora precisa competir com a cerveja pela preferência dos franceses

A queda no consumo também ocorreu em outros países como a Itália e Espanha, outros produtores tradicionais de vinho. Mas, não prejudicou as perspectivas da França em termos de exportação do produto.

Declínio da civilização?

Mas o que preocupa analistas na França são os efeitos da queda do consumo do vinho na vida do país, na civilização francesa.

Eles temem que os valores franceses de convivência, tradição e apreciação das boas coisas da vida sejam esquecidos.

"O vinho não é um produto-troféu, que usamos para comemorar grandes ocasiões ou para exibir nosso status social. É uma bebida que deve acompanhar a refeição e ser um complemento do que quer que esteja em nosso prato", afirmou o escritor especializado em gastronomia Perico Legasse.

"(...) O que aconteceu é que (o vinho) passou de popular a elitista. É totalmente ridículo. Deveria ser perfeitamente possível beber moderadamente vinho de qualidade diariamente."

Para Legasse, parte do problema é a mudança na abordagem do país à alimentação e gastronomia como um todo.

"Durante muitos anos as pessoas vêm abandonando o que em nossa sociologia francesa chamamos de repas, ou refeição, (palavra) que significa reunião, convivência em volta de uma mesa, e não a versão individualizada e acelerada que vemos hoje em dia", afirmou.

"A refeição em família tradicional está desaparecendo. Em vez disso, temos um forma puramente técnica de nutrição, cujo objetivo é garantir que tenhamos combustível da forma mais eficaz e rápida possível."

História e trincheiras

Soldados bebiam vinho nas trincheiras; posteriormente bebida ganharia perfil 'elitista'

Não se pode afirmar que os franceses sempre consumiram as grandes quantidades de vinho que consumiam há, por exemplo, 50 anos.

Na Idade Média, o vinho era uma bebida comum, pelo menos nas regiões produtoras, mas era uma mistura fraca e, ao contrário da água, era seguro para beber.

A revolução de 1789 acabou com a imagem aristocrática que o vinho tinha na época, e as mudanças econômicas do século 19 ajudaram a popularizar a bebida.

Denis Saverot, editor da publicação especializada La Revue des Vins de France, afirmou que a ascensão do vinho refletiu a ascensão da classe trabalhadora, e a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) consolidou a posição da bebida, fazendo com que normandos e bretões aprendessem a beber "nas trincheiras".

"Depois disso, na França, generalizamos o consumo de vinho barato, então, na década de 1950, havia estabelecimentos para beber, cafés e bares em todos os lugares. Vilarejos minúsculos tinham cinco ou seis. Mas este foi o ponto alto. O declínio do consumo volta (nos anos seguintes) até a década de 1960."

Todos concordam com os principais fatores que causaram este declínio: menos pessoas trabalham ao ar livre, então menos pessoas precisam das “qualidades fortificantes” do vinho.

Os escritórios precisam que as pessoas fiquem acordadas, então os almoços geralmente não têm bebidas alcoólicas.

A maior minoria da França, os muçulmanos, não consome bebidas alcoólicas, e o vinho também precisa competir com a crescente popularidade das cervejas.

Saúde e carros

Denis Saverot aponta também outros responsáveis.

Um seria a "elite burguesa e tecnocrata com suas campanhas contra bebida e direção e contra o alcoolismo, colocando o vinho na mesma categoria de qualquer outro tipo de bebida alcoólica, ainda que (o vinho) devesse ser visto de uma forma totalmente diferente", disse.

"Recentemente, ouvi uma autoridade de saúde dizendo que o vinho causa câncer 'a partir da primeira taça'. Isto vindo de um francês."

Para Saverot, o lobby de saúde e do politicamente correto significa que as elites preferem manter o país à base de antidepressivos em vez de vinho.

"Apenas analise os números. Na década de 1960, bebíamos 160 litros de vinho cada um por ano e não tomávamos comprimidos. Hoje, consumimos 80 milhões de caixas de antidepressivos, e as vendas de vinho estão caindo."

"O vinho é o mais sutil, mais civilizado e nobre dos antidepressivos. Mas, olhe para nossos vilarejos, o bar foi fechado, substituído por uma farmácia", acrescentou.

Para Theodore Zeldin, escritor francês que mora na cidade de Oxford, no sul da Grã-Bretanha, e observador veterano da sociedade francesa, a cultura mais voltada para negócios substituiu "companheirismo por networking", entre outros problemas.

Mas ele ainda tem esperanças.

"A velha art de vivre francesa ainda está aqui. É um ideal. (...) Claro que os tempos mudaram, mas ainda sobrevive. É aquele sentimento que você tem na França de que, em relações humanas, precisamos de mais do que conduzir os negócios. Temos o dever de entreter, conversar (...) E o vinho é parte disto, pois, com o vinho, você precisa dispor de tempo", afirmou.

Extraído do sítio BBC Brasil

PORTO ALEGRE COMPLETA 241 ANOS EM MEIO AOS DESAFIOS DA SUSTENTABILIDADE

Porto Alegre completou 241 anos na terça-feira, 26 de março, repleta de conquistas e desafios, como praticamente todas as grandes cidades brasileiras. Obviamente, não é mais a província onde casais açorianos aportaram em meados do século 18, seguidos posteriormente por imigrantes alemães, italianos, judeus, africanos, poloneses e árabes. A capital gaúcha tornou-se uma metrópole habitada por 1,5 milhão de pessoas, segundo dados do IBGE, e pretende buscar o desenvolvimento sustentável.

Por-do-dol sobre o rio Guaíba. Foto: Giuliano Griffante

Há muito tempo que ando
nas ruas de um Porto não muito Alegre
e que não entanto
me traz encantos
e um por-de-sol lhe traduz em versos. 

(Horizontes - composição: José Fogaça)

Porto Alegre completa 241 anos na terça-feira, 26 de março, repleta de conquistas e desafios, como praticamente todas as grandes cidades brasileiras. Obviamente, não é mais a província onde casais açorianos aportaram em meados do século 18, seguidos posteriormente por imigrantes alemães, italianos, judeus, africanos, poloneses e árabes. A capital gaúcha tornou-se uma metrópole habitada por 1,5 milhão de pessoas, segundo dados do IBGE, e pretende buscar o desenvolvimento sustentável.

É de lá que vem o Orçamento Participativo (OP), uma das iniciativas que integram os mais de 80 prêmios e títulos que distinguem Porto Alegre como uma das melhores capitais brasileiras para morar, trabalhar, fazer negócios, estudar e se divertir.

Participação cidadã

Exemplo de participação cidadã copiado em diversos países da Europa, o OP é um sistema de co-gestão com a participação da comunidade para a estruturação do orçamento da cidade. Os moradores apresentam propostas e informações, assessoria técnica e infraestrutura, além de possuir representatividade sobre as instâncias deliberativas. 

Desde que foi implantado, há mais de 20 anos, alguns de seus principais resultados foram:
- Melhoria na infraestrutura em áreas mais vulneráveis socialmente;
- Melhoria no transporte público;
- Triplicação do número de creches;
- Triplicação do número de crianças que frequentam a escola;
- Aumento de investimentos no setor de saúde;
- Transparência, responsabilização, eficácia na gestão municipal;
- Redução da corrupção.

Pluralidade e participação cidadã marcam o Fórum Social Mundial, que nasceu em Porto Alegre. Foto: Murilo Gitel/EcoD

Foi também em Porto Alegre que nasceu, em 2001, o Fórum Social Mundial, que em 2010 contou com cobertura especial do EcoD. O evento foi criado por uma série de organizações de esquerda como partidos políticos, sindicatos e ONGs, com o objetivo de se contrapor ao Fórum Econômico Mundial de Davos (Suíça), realizado tradicionalmente no mês de janeiro. As três primeiras edições do encontro foram realizadas na capital gaúcha, então administrada pelo Partido dos Trabalhadores (PT), e ficaram marcadas pelo caráter combativo e militante dos participantes.

Cidade Inteligente

Aproveitar as tecnologias já existentes para ajudar a solucionar os problemas dos grandes centros urbanos é a base do conceito de cidades inteligentes. Nesse sentido, Porto Alegre foi reconhecida em novembro de 2012, em Nova York, quando foi premiada pela empresa IBM durante o evento Smarter Cities Challenge Summit 2012.

O prefeito José Fortunati (3º da esq. para à dir.) participou do evento em NY. Foto: PRNewsFoto/IBM

Cidade-sede da Copa do Mundo Fifa 2014, a capital gaúcha deverá inaugurar o Aeromóvel ainda no primeiro semestre de 2013, que fará o trajeto entre a Estação Aeroporto da Trensurb e o Terminal 1 do Aeroporto Internacional Salgado Filho em menos de dois minutos. Já as obras do Metrô, orçadas em 2,4 bilhões, devem começar entre julho e setembro, com conclusão prevista para 2017, segundo informações de Zero Hora.

O primeiro aeromóvel da linha Trensurb-Infraero, que fará o trajeto entre a Estação Aeroporto da Trensurb e o Terminal 1 do Aeroporto Internacional Salgado Filho, está pronto desde outubro de 2012. Foto: Trensurb/Divulgação

Em maio de 2012, o EcoD mostrou que os ciclistas de Porto Alegre realizaram a campanha intitulada Mais amor, menos motor, na qual reivindicaram respeito dos motoristas, além de solicitarem uma rede completa de ciclofaixas e ciclovias na cidade. Três meses antes, nós mostramos aqui uma novidade bem interessante: a proteção da ciclovia da Avenida Ipiranga conta com plástico reciclável, em vez de toras de eucalipto - como a prefeitura havia proposto inicialmente, o que causou protestos de arquitetos, urbanistas e ambientalistas.

Coleta seletiva

Modelo nacionalmente reconhecido por conta de seu pioneirismo e eficácia, a coleta seletiva de Porto Alegre ainda não consegue atingir todas as ruas da cidade, embora alcance 100% dos bairros. O sistema tem dificuldades em cumprir com pontualidade os horários de recolhimento e apresenta poucos projetos de incentivo à reciclagem por parte da população.

Com cerca de 800 pessoas trabalhando nas unidades de triagem conveniadas pelo DMLU (Departamento Municipal de Limpeza Urbana), que recebem R$ 610 mensais do governo municipal para a execução da coleta, o serviço é realizado duas vezes por semana.

Em alguns bairros, segundo o órgão, não há como chegar em 100% das ruas. Existem locais que o acesso é difícil e que falta material de reciclagem.

Uma das cidades mais alfabetizadas e arborizadas do país, Porto Alegre já foi destacada pela ONU como a metrópole nº1 em qualidade de vida do Brasil por três vezes; possuindo um dos 40 melhores modelos de gestão pública democrática pelo seu Orçamento Participativo, e por ter o melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre as metrópoles nacionais.

Dados do IBGE a apontaram em 2009 como a capital brasileira com a menor taxa de desemprego; a empresa de consultoria britânica Jones Lang LaSalle a inclui em 2004 entre as 24 cidades com maior potencial para atrair investimentos no mundo e figura na lista da Pricewaterhouse Coopers entre as cem cidades mais ricas do mundo.

Extraído do sítio EcoDesenvolvimento

INFLUÊNCIA NA ARTE E CULTURA MINEIRAS

Igrejas construídas pelas irmandades de São Francisco e Nossa Senhora do Carmo em Mariana 

Associações religiosas do século XVIII influenciaram a arte e a cultura mineiras. Além de importantes pilares da fé no Estado, irmandades, ordens terceiras e confrarias também contribuíram para disseminar a cultura e a educação.

Com forte presença na cultura mineira, sobretudo no século XVIII, as organizações religiosas (irmandades, ordens terceiras e confrarias) foram responsáveis pela construção e manutenção de boa parte das igrejas históricas e pelo patrocínio de quase toda atividade artística durante o período colonial, dando contribuições inestimáveis à vida intelectual e cultural de Minas Gerais.

Até hoje, o papel destas organizações religiosas como uma das bases da estruturação da sociedade mineira é visível em um amplo legado histórico e cultural de Minas que, na Semana Santa ou em qualquer época do ano, vale a pena a visita.

De acordo com o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), as associações reuniam homens e mulheres de diferentes classes sociais, das camadas mais abastadas às mais pobres, que se associavam em torno de um santo de devoção em busca de proteção e graças divinas. “O principal objetivo destas associações era de se ajudarem mutuamente, praticarem a caridade e adorarem a um santo em comum. Na morte, o irmão recebia um funeral digno e era enterrado na igreja”, explica o analista de Gestão e Proteção do Iepha, Carlos Henrique Rangel.

As irmandades também prestavam assistência a seus associados, particularmente na hora da morte e cuidavam para que seus membros tivessem enterros solenes, marcados pela pompa fúnebre que expressavam prestígio social.

A formação das irmandades começou com a instalação das primeiras freguesias e paróquias. A partir de 1720-1740, essas corporações surgiam para apoiar e promover a construção de igrejas, polarizando interesses de grupos sociais diferentes. Cada irmandade reunia determinado grupo social ou camada. Existiam irmandades e ordens terceiras de negros, brancos e mestiços, que competiam religiosa, social e esteticamente.

“Essa adoração culminava na construção de igrejas dedicadas ao santo de devoção. Quando ainda não possuíam igreja, as irmandades possuíam um altar lateral em igrejas de outras irmandades”, destaca Carlos Henrique. A Mesa de Consciência e Ordens, criada em Lisboa em 1532, era a responsável por fiscalizar as anuidades cobradas, os bens e os livros internos, a ereção e a construção de templos.

Ainda no século XIX, associações continuaram a ser importantes instituições religiosas. No Império, apesar da diminuição de sua representação social, elas mantiveram a essência: a devoção a um santo e a assistência a seus membros.

Incentivo à cultura e à educação

Foram as ordens terceiras religiosas e irmandades os maiores patrocinadores de quase toda a atividade artística da capitania. A rivalidade entre duas grandes ordens terceiras, do Carmo e São Francisco, resultou em praticamente metade da obra de Aleijadinho e do Mestre Ataíde. Alguns exemplos de construções erguidas a partir das associações religiosas são a Igreja de Nossa Senhora do Carmo e a Igreja de São Francisco, ambas em Mariana.

A Festa de Nossa do Rosário, organizada desde o século XVIII pela irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Chapada do Norte, é outro legado cultural das irmandades mineiras.

Também no terreno da música e educação musical, essas associações deixaram frutos. Em determinado período do século XVIII, existia em Minas maior número de músicos ilustres do que na própria corte portuguesa, segundo estudos de Curt Lange, citado por Fritz Teixeira de Salles.

“As irmandades conheceram o seu auge durante o século XVIII, financiando as artes para os templos, a fatura de imagens e altares forros. Permitiram o surgimento de grandes artistas dedicados a servi-las, culminando em uma manifestação artística barroca e rococó típica de Minas Gerais”, explica Carlos Henrique Rangel.

As contribuições das irmandades também refletiram na educação: à época de seu surgimento, as irmandades foram responsáveis pela instrução, por meio de um convívio disciplinado, pelos sermões proferidos nas grandes festas religiosas e no contato direto com os sacerdotes, em uma sociedade onde a educação formal ainda não era institucionalizada.

Invocações prediletas

Os fiéis se uniam em torno da adoração a um santo padroeiro de devoção, que representava um grupo social ou raça. De acordo com o livro "Associações Religiosas no Ciclo do Ouro", de Fritz Teixeira de Salles, as invocações prediletas dos cidadãos brancos no interior de Minas eram Nossa Senhora do Carmo, São Francisco, Nossa Senhora da Conceição, Pilar, Santíssimo Sacramento, Arcanjo São Miguel, São Pedro dos Clérigos, Senhor dos Passos e Santana.

Os cidadãos pardos preferiam a Nossa Senhora do Amparo, São Francisco de Paula, São José dos Bem Casados, São Gonçalo e Pardos do Cordão, enquanto os negros, além de escravos e crioulos, invocavam Rosário, São Benedito, Mercês, Santa Efigênia e Nossa Senhora dos Remédios.

Investimento em obras de restauração e revitalização
Em fevereiro deste ano, o presidente do Iepha, Fernando Viana Cabral, assinou ordem de serviços para obras de restauração e conservação de igrejas em Minas Gerais, muitas delas erguidas a partir das associações religiosas.

Lançado pelo governador Antonio Anastasia em 2011, o programa Minas Patrimônio Vivo é um dos mais completos no tocante à proteção do patrimônio cultural de Minas Gerais.

Em 2013 serão investidos R$ 5.686.405,49 na recuperação de 16 bens culturais tombados – a maioria igrejas, como a Igreja Matriz de Santana, em Congonhas do Norte. O prazo de conclusão dos contratos é de três a cinco meses para projetos e de seis a 18 meses para obras.

Clique aqui para conhecer cada um dos 16 projetos e obras contemplados.

O Iepha também promove a restauração de esculturas religiosas que possuem relevância histórica para as comunidades às quais pertencem. E membros da comunidade - estudantes, profissionais e curiosos – podem visitar as dependências do Iepha para acompanhar este trabalho.

As visitas ao ateliê de conservação e restauração são sempre às sextas-feiras, de 9h às 17h, sendo que grupos maiores devem agendar a visita pelo e-mail restauracaoacervo@iepha.mg.gov.br.

Quem não está em Belo Horizonte também pode acompanhar o processo através do blog Restauração de Acervos, que pode ser acessado no site do Iepha. Quinzenalmente serão postadas fotos e comentários sobre o processo de restauração.

Em 2012, foram restauradas 19 imagens religiosas, como a de Nossa Senhora do Carmo, da Igreja Matriz de Santo Antônio, de Conceição do Mato Dentro. De modo geral, as peças apresentam sujidades generalizadas e aderidas, craquelês, desprendimentos de policromia em áreas pontuais e perda de suportes.

Clique aqui para conhecer as obras recuperadas em 2012.

Extraído do sítio Farol Comunitário

30 de março de 2013

LIDIO CARRARO GANHA SELO DE VINHO LICENCIADO OFICIAL DA COPA DO MUNDO - Neiva Mello

A Lidio Carraro, pequena e jovem vinícola boutique da Serra Gaúcha, com uma qualificada lista de reconhecimentos na Europa e nos Estados Unidos, venceu gigantes como a Concha y Toro, Miolo, Salton e Valduga na disputa pelo exclusivo selo de Vinho Licenciado Oficial da Copa do Mundo da FIFA 2014. 


O anúncio internacional do FACES, nome batizado pela família Carraro no vinho que vai representar o Brasil no maior evento esportivo do mundo, aconteceu no domingo 24, na PROWEIN, em Düsseldorf, Alemanha, principal feira de vinhos da Europa. 

A parceria com a FIFA vai dobrar a produção da Lidio Carraro e dará um salto fundamental na ampliação dos canais de distribuição da vinícola, dando ao torcedor a possibilidade de conhecer a marca, antes restrita a mercados mais especializados. 

O lançamento do primeiro rótulo tinto está previsto para maio, já para a estreia da Copa das Confederações.

A opção da FIFA por uma vinícola boutique e não por marcas tradicionais já consagradas, demonstra a relevância do quesito diferenciação. “O vinho do Brasil está começando a ser reconhecido e a COPA do Mundo é uma oportunidade histórica imperdível para posicionar o país como um produtor de vinho de qualidade. A nossa responsabilidade é imensa, mas vem ao encontro da missão da vinícola desde o princípio: representar o melhor do vinho brasileiro”, diz Patrícia Carraro, diretora de Marketing e Exportação da marca. 

Muitos reconhecimentos mostram que a Lidio Carraro está a altura do desafio. Em 2007, cinco dos seus rótulos foi o vinho oficial dos jogos Pan-Americanos e em 2010, mais uma vez, foi a escolhida para representar o vinho brasileiro no 30º aniversário da Stock Car. Durante todo o ano de comemorações as taças para brindar no podium foram servidas com espumantes da marca. Somente nos dois últimos anos, o site da Jancis Robinson, uma das maiores autoridades de vinhos no mundo, concedeu à Lidio Carraro a maior pontuação já dada a um vinho brasileiro, e, no ano passado, o renomado site americano Snooth elegeu o Lidio Carraro Grande Vindima Tannat 2008 como o Vinho do Ano. 

“A exposição global que o rótulo Faces terá para os países que exportamos na Europa, Estados Unidos e Canadá será uma grande vitrine para o vinho brasileiro. Por isso, seu conceito está fortemente vinculado à diversidade que marca a identidade brasileira e à tradução das cores, aromas e sabores do nosso país. A proposta é desenvolver um vinho autêntico a partir de um assemblage com uvas garimpadas nos melhores terroirs.. É um projeto muito especial em que, pela primeira vez, a vinícola seleciona também uvas de outras propriedades em nome de um vinho que expresse a diversidade brasileira.” comenta Monica Rossetti, enóloga responsável pela vinícola.

A premiada filosofia purista da Lidio Carraro não poderia estar mais de acordo com esse momento histórico que se aproxima no Brasil: a vinícola valoriza sobretudo a expressão natural das uvas e do solo brasileiro. Opondo-se às práticas de padronização dos grandes produtores de vinho, a marca cria produtos autênticos capazes de revelar o caráter distinto do seu local de origem. Em nome da pureza, a interferência é mantida na mínima dose através de escolhas como a substituição do processo de filtragem dos vinhos pela decantação. Pelo mesmo motivo, a marca-assinada da casa é a opção por não armazenar o vinho nos tradicionais barris de carvalho, preservando assim cada nuance do sabor das frutas. “Buscamos um vinho com identidade própria que expresse a autenticidade da uva e da sua origem”, diz Mônica. 

Cada garrafa do FACES trará impresso no rótulo o selo de licenciamento da FIFA, uma credencial que deverá contribuir para dobrar as vendas no próximo ano, chegando a 500 mil garrafas. O primeiro vinho – o tinto - deverá ser lançado em maio, já para a estréia da Copa das Confederações. O branco e o rosé também estão previstos para chegar ao mercado ainda este ano. Todos eles poderão ser encontrados pelos consumidores nos principais supermercados do país, nas lojas de vinhos e nos melhores restaurantes e hotéis. Além destes canais de distribuição, também poderá ser adquirido nas redes Duty Free, através do site e-commerce da Globo Marcas e diretamente da própria vinícola boutique. “O projeto é inovador não apenas pela gestão técnica e pelo conceito de produção, já que vamos investir forte na ampliação da escala deste produto, como também pela gestão mercadológica, pois o produto será distribuído em canais de maior acessibilidade ao público, que a partir deste projeto poderá finalmente conhecer mais os nossos vinhos. Nosso desafio será cobrir a maior parte do Brasil para atingirmos a meta de 300 mil garrafas dos vinhos oficiais ainda neste ano de 2013”, diz Juliano Carraro, Diretor Comercial. 

A busca por um produto símbolo, que orgulhe o Brasil, leva a família a ousar no emprego de novas tecnologias e técnicas tais como a implantação pioneira do recebimento das uvas por gravidade, um sistema que dispensa o uso de bombas. Outros cuidados incluem a opção por uma produção muito reduzida de uva por videira, o que resulta na maior concentração de sabor em cada fruta, e a colheita manual. Cada escolha busca à preservação da essência da uva e sua origem, em cada garrafa.

Na condição de primeira vinícola boutique do país, a Lidio Carraro somente lança rótulos Premium e TOP Premium, em tiragens limitadas, uma postura que tem lhe rendido inúmeros reconhecimentos na Europa e nos Estados Unidos. A casa se beneficia dos segredos de uma família que se dedica ao cultivo da uva há cinco gerações na mais tradicional região vitivinicultora do Brasil, a Serra Gaúcha. 

Nos últimos anos, a marca tem elevado o padrão do vinho nacional, surpreendendo os paladares em muitas partes do mundo com o potencial da uva brasileira. Por meio de extensas pesquisas, a vinícola não apenas dribla as dificuldades atribuídas ao cultivo da uva no Brasil, mas descobre a vocação de novas variedades em um trabalho de compreensão e interpretação do solo. 

Mais sobre a Lidio Carraro

A Lidio Carraro é uma vinícola de propriedade familiar guiada por uma filosofia purista de total respeito à terra e à mão-de-obra. No ramo da viticultura há mais de cinco gerações, eles acreditam que os grandes vinhos não são obtidos na vinícola, mas nos vinhedos que, neste caso, estão localizados em dois excepcionais locais no sul do Brasil: Vale dos Vinhedos e Encruzilhada do Sul. A família detém mais de 200 hectares, dos quais cerca de 42 estão em produção e devem ser ampliados ano a ano até atingir 150 hectares. 

O portifólio de vinhos, elaborados integralmente com uvas próprias, está dividido em segmento Lidio Carraro Top Premium (linhas Grande Vindima, Singular, Elos e Coletânea) e segmento Lidio Carraro Premium (linhas Agnus, Dádivas e Faces). Chama atenção o grande rol de variedades produzidas: além de Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Tannat, Pinot Noir, Chardonnay e Moscatel, são cultivadas uvas pouco comuns no Brasil como Malbec, Tempranillo, Touriga Nacional, Teroldego e Nebbiolo. 

O conceito de vinícola boutique subentende uma produção controlada, pequena e de altíssima qualidade. Esse padrão é mantido pela união da tradição com a busca constante por conhecimento atualizado, um esforço compartilhado por todos os membros da família. Enquanto Lidio Carraro se envolve completamente com a viticultura, seus filhos, os enólogos Juliano e Giovanni e a arquiteta Patrícia, especializada em marketing, são responsáveis pela produção e comercialização dos vinhos. Eles contam também com a enóloga Mônica Rossetti, responsável pelo projeto e gestão técnica da vinícola. A atuação frequente de Mônica na Europa aliada às visitas técnicas dos irmãos Carraro às regiões produtoras de vinhos do novo e velho mundo se reflete no padrão internacional de qualidade da marca. 

Lidio Carraro, o patriarca, é descendente direto dos imigrantes italianos vindos de Breganze, no Vêneto, em 1875. Enquanto muitos colonos estabeleceram-se no Rio Grande do Sul para plantar uvas e produzir vinhos, a família Carraro optou apenas pelo cultivo, tornando-se extremamente especializada nisso. Quando assumiu o controle dos negócios da família, Lidio se destacou como um dos líderes da modernização do cultivo da uva no Rio Grande do Sul, mais de 40 anos atrás. Ele iniciou uma busca obsessiva por encontrar e desenvolver os melhores vinhedos motivado pelo interesse no resgate do que há de mais essencial em um vinho: a expressão do terroir, ou seja, a revelação das qualidades do solo, do clima, e do relevo de um local aliadas às decisões tomadas pelo homem.

Na década de 90, quando Juliano Carraro ingressa na faculdade de enologia, seu sonho de elaborar vinhos contagia toda a família. Em 1998, após vários estudos, Lidio converte sete hectares no Vale dos Vinhedos para uvas da melhor qualidade e investe na criação de sua adega. 

Em 2001, a família adquire 200 hectares em Encruzilhada do Sul, na Serra do Sudeste do Rio Grande do Sul. A região mais tarde se tornaria um pólo vinícola brasileiro. Os vinhedos reconvertidos iniciam as primeiras produções em 2002 e a safra dá origem aos primeiros vinhos com a marca Lidio Carraro que chegam ao mercado em 2004. Pouco tempo depois, a vinícola vence uma seleção para representar o vinho nacional nas prateleiras do Duty Free de aeroportos internacionais, tornando-se o primeiro produtor brasileiro a fazê-lo. Com esta porta aberta para o mundo, a Lidio Carraro começa a receber pedidos internacionais e dá início às exportações ainda em 2005. Desde então, os reconhecimentos chegam de todas as partes do mundo.

Acesse o site oficial da vinícola para conhecer os vinhos, fazer compras ou agendar uma visita: www.lidiocarraro.com No passeio à bela sede da Lidio Carraro, em Bento Gonçalves, é possível conhecer o processo de produção de vinhos e espumantes, além de degustar os rótulos Premium e Top Premium.

Reconhecimentos da Lidio Carraro

- 1º produtor brasileiro escolhido para representar o país no Duty Free dos aeroportos internacionais.
- Eleito como o vinho oficial dos Jogos Pan-americanos Rio 2007.
- Vinho e espumante oficial dos 30 anos da Stock Car, maior evento automobilístico brasileiro. Também foi o espumante do podium durante o ano de comemoração. 
- Melhor pontuação de vinhos brasileiros em 2011 no site da inglesa Jancis Robinson, uma das maiores autoridades de vinhos do mundo. De uma escala de 0 à 20, a Lídio Carraro ficou avaliada em 18.
- O vinho Lidio Carraro Grande Vindima Tannat 2008 foi eleito O Vinho do Ano de 2012 pelo renomado site americano Snooth, .
- O vinho Lidio Carraro Grande Vindima Tannat 2008 é 1º lugar na avaliação dos melhores Tannats do mundo pela revista alemã Weinwelt
- O Lidio Carraro Elos Cabernet Sauvignon/Malbec. Conquistou 92 pontos na revista alemã Weinwirtschaft 
- Primeira Vinícola Brasileira a entrar no respeitado catálogo Le Currier Vinicole, entre os 76 melhores vinhos do mundo”, no Canadá (2010).
- Vinhos Dádivas Chardonnay e o Lidio Carraro Grande Vindima Quorum foram pontuados com quatro estrelas (o máximo é 5) pela Decanter Magazine, uma das melhores revistas de vinhos do mundo uma das principais revistas especializadas do mundo (2009)
- O Lidio Carraro Grande Vindima Tannat e o Lidio Carraro Grande Vindima Cabernet Sauvignon ganharam a maior pontuação na degustação de vinhos brasileiros e uruguaios pela revista européia Vinum, na Suíça.
- Citado no Le Fígaro, na França, “no Vale dos Vinhedos, ao sul de Bento Gonçalves, as menores vinícolas mostram o seu processo antes mesmo de ele tocar à sua porta. Seguem as medalhas obtidas nos diferentes concursos internacionais. Porque estes vinhos começam a brincar no tribunal do grandes... ” ...Hoje, no Brasil, há alguns grandes grupos e pequenas vinícolas porém capazes de ter seus vinhos no topo dos 50 melhores vinhos do mundo...” ...há os pequenos como o Lidio Carraro recentemente descoberto por Steven Spurrier: "Vamos surpreender o mundo" .
- O primeiro vinho brasileiro a receber destaque na Decanter Magazine, pelo famoso crítico Steven Spurrier, que se declarou impressionado com a qualidade dos vinhos da Lidio Carraro (2005).
- O Lidio Carraro Quorum foi brasileiro mais elogiado e melhor pontuado pela Revue de Vin de France (2007)
- O crítico canadense, Jean Aubry, escreve na “Le Devoir” “...como se fosse um grand cru de Bordeaux... você está na Lidio Carraro cuja produção merece os parabéns...”.
- Destaque no “FRANKFURTER ALLGEMEINE”, um dos principais jornais da Alemanha, “Os Carraros são reais pioneiros da vitivinicultura brasileira, eles entram em terreno novo e fornecem vinhos tintos livres de madeira, prova maravilhosa de qualidade de seu país vinícola”... “pela sua tecnologia de produção de vinhos minimamente invasora, eles trazem à luz os fatos nus e crus: a fruta e nada mais que a pura fruta”.
- A Vinícola foi capa da principal revista especializada em vinhos, a PersWijn, na Holanda.
- O vinho Dádivas Merlot/Caerneut Sauvgnon foi Medalha de Ouro no Concurso de Bruxelas em 2009.
- O vinho Dádivas Chardonnay ganhou medalha no International Wine Challenge, no Reino Unido.
- Cinco estrelas (92 pontos) na avaliação do Concurso Vinavisen, na Dinamarca.
- O vinho Dádivas Chardonnay foi servido no Padock Vip do GP Brasil de Fórmula 1.
- Linha Agnus Merlot é indicada como ‘Best Buy’ pelo sommelier Benjamim Fanuel do jornal Le Quotidien , em Luxemburgo, e quatro estrelas na avaliação da Vinforum, na Dinamarca (2010).
- Presente em lojas especializadas, nos melhores restaurantes e hotéis do Brasil e em 18 países, 16 da Europa, EUA e Canadá.

Rio Grande do Sul, central do vinho brasileiro

Cerca de 90% do vinho brasileiro tem origem certa: o Estado do Rio Grande do Sul. Por trás do sucesso atual da indústria está o trabalho de sucessivas gerações de imigrantes que batalharam para transformar o estado no maior polo vitivinicultor do Brasil. 

O vinho é produzido no Brasil desde a sua colonização pelos portugueses, no século XVI. Em 1789, o cultivo estava presente em várias regiões brasileiras, mas foi interrompido por um decreto protecionista de Portugal. Durante o século XIX, a fabricação de vinho permaneceu como cultura doméstica no país e, no Rio Grande do Sul, era comum entre os colonos alemães chegados em 1824.

Foi apenas com a vinda de imigrantes italianos ao Rio Grande do Sul, a partir de 1875, que a atividade ganhou importância comercial. Com eles, a produção dá um grande salto em quantidade e qualidade beneficiando-se do conhecimento técnico trazido da Itália. Na primeira metade do século XX, as famílias de agricultores se deparam com a necessidade de se organizar e recorrem ao sistema de cooperativismo. Aos poucos a cultura artesanal vai assumindo ares de indústria, com marcos como a criação o Sindicato do Vinho, em 1928.

Na década de 70, a vitivinicultura dá outro grande salto. Uma série de multinacionais do setor aporta novas técnicas nos vinhedos e vinícolas gaúchas, elevando a qualidade da produção e ampliando as áreas de cultivo. Em 1990, a abertura econômica do Brasil impulsiona esse processo estimulando o acesso a diferentes estilos de vinho e a maior concorrência entre nacionais e importados.

Atualmente a Serra Gaúcha, no nordeste do Estado, é a maior região vitícola do país, com cerca de 40 mil hectares de vinhedos, segundo dados da Ibravin. A viticultura segue baseada em pequenas propriedades, onde predomina o uso da mão-de-obra familiar. É lá, entre os municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul, que se encontra o Vale dos Vinhedos. A região não só abriga as melhores vinícolas do Brasil como é um dos recantos mais bonitos da Serra Gaúcha. Suas colinas são cobertas por parreirais e percorrê-las é uma maneira de conhecer o passado dos imigrantes italianos, além dos processos de plantio da uva e de elaboração do vinho.

Durante o inverno, a paisagem costuma amanhecer coberta de geada e envolta por uma neblina que deslumbra as levas de turistas em busca de um bom cálice de vinho. A região recebe em média 60 mil visitantes por ano, segundo a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale). Ela concentra a maior produção de vinhos finos e suco de uvas no Brasil e ao longo do tempo se consolidou como referência no turismo nacional por seus roteiros de enoturismo e gastronomia. No segmento de vinhos finos, a região detém alta tecnologia enológica. Seu prestígio é tão grande que, em 2002, criou-se a Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos.

Recentemente, a Serra do Sudeste do Rio Grande do Sul, localizada na metade Sul do estado, despontou como um novo e um dos mais promissores pólos viticultores do Brasil devido a investimentos de vinícolas da Serra Gaúcha como a Lidio Carraro. A diversidade ambiental da região é favorável ao cultivo de uma grande variedade de uvas como as tintas Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat, Cabernet Franc, Pinot Noir, Touriga Nacional, Tempranillo e as uvas brancas como Chardonnay, Sauvignon Blanc e Pinot Grigio.

Outra região que têm obtido resultados significativos é a Campanha, na fronteira com o Uruguai, que recebeu projetos multinacionais em 1980 e hoje está consolidada no mercado.

No Brasil, são 83,7 mil hectares plantados

Conforme o Ibravin, a área de produção vitivinícola no Brasil soma 83,7 mil hectares, divididos em seis regiões: Serra Gaúcha, Campanha, Serra do Sudeste e Campos de Cima da Serra, no Rio Grande do Sul; Planalto Catarinense, em Santa Catarina; e Vale do São Francisco, no Nordeste. São mais de 1,1 mil vinícolas espalhadas pelo país, a maioria instalada em pequenas propriedades (média de 2 hectares por família).

Extraído do sítio Revista Sabores do Sul

FRIEDERICH CHOPIN, A VOZ DA POESIA - Diana Orduña Lloret

Friederich Chopin (Louis-Auguste Bisson/Musée de la Musique/Wikimedia)

A sensibilidade como guia

Nascido na Polônia, ele foi um dos mais importantes compositores do romantismo musical. Chopin tinha uma saúde frágil, mas aguda sensibilidade e inteligência. Sua vida foi curta, porém prolífica entre 1810-1849, e ele é conhecido fundamentalmente por sua obra pianística. Chopin também é considerado um compositor nacionalista e o reflexo disso é seu uso das formas tradicionais polonesas como a Mazurca e a Polonesa.

Pianista autodidata, desde muito jovem ele desenvolveu um estilo autêntico e particular, indo além do convencionalismo pedagógico; inclusive rejeitando lições de renomados mestres, buscando seu próprio caminho que resultaria numa técnica brilhante.

Como seu trabalho de composição não lhe dava um retorno econômico adequado, sua principal ocupação foi a docência e, embora não fosse sua vocação principal, a qualidade e sutileza que lhe era típicas, respeitando as características pessoais de cada aluno, lhe renderam uma demanda significante por seus serviços como professor.

O belo canto, fonte de inspiração

Durante sua adolescência, Chopin estudou no Liceu de Varsóvia, onde obteve formação em canto, literatura clássica e desenho, nutrindo seu espírito por meio da exploração de outras disciplinas, exercício de vital importância para um músico.

Ele teve contato com outros reconhecidos compositores de sua época como Hector Berlioz, Franz Liszt, Robert Schumann e Vincenzo Bellini. Em Paris, por meio de Vincenzo, ele entra em contato com o belo canto de estilo operístico italiano, que se caracteriza por ressaltar o aspecto melódico em toda sua amplitude e tem sua expressão máxima nos cantores de ópera, repletos de elegância e brilho.

O caráter lírico da interpretação e escrita de Chopin está fundamentalmente baseado no estilo vocal. O próprio Chopin aconselhava seus alunos de piano a terem aulas de canto para conectarem a natureza do canto a uma convincente interpretação lírica no instrumento.

A ‘Polonesa de Chopin’, de Kwiatkowski, mostra o salão parisiense do Hotel Lambert do Conde Czartoryski (Wikimedia)

Influência de sua “música pura” sobre a música descritiva

Diferente da maioria dos compositores do século XIX, que se valiam de ideias extramusicais (elementos além do fenômeno musical, usualmente literários) como inspiração para suas obras, Chopin acreditava na música pura, que não atribui títulos poéticos nem a relaciona com obras literárias ou eventos.

Porém, devido à familiaridade de seu lirismo pianístico com o estilo vocal e a relação de sua música com a dimensão emocional humana, suas obras acabaram sendo conhecidas por títulos genéricos como o “Prelúdio das gotas d’água”, os estudos “Revolucionário” e “Tristeza de amor” ou a Polonesa “Heroica”.

Além disse, embora não seja um fenômeno muito conhecido quando se estuda este grande músico, alguns compositores posteriores utilizaram temas das obras de Chopin para criarem novas obras descritivas e de inspiração extramusical.

Fogo fátuo é outra mostra do mencionado fenômeno. Trata-se de uma ópera cômica em três atos composta por Manuel de Falla em 1919 sobre alguns temas das obras de Chopin e o livreto de Maria Martinez Sierra que narra a vida de Chopin durante sua estada em Mallorca junto a sua polêmica companheira sentimental, a escritora George Sand.

A franqueza da emoção chopiniana

A ideia da conexão da música instrumental com o canto é imprescindível para formar a mentalidade de todo músico e audiófilo, para que se ter uma noção plena da natureza do fenômeno musical.

Não nos esqueçamos de que o evento musical mais primitivo experimentado pelo ser humano é a voz e o canto da mãe e posteriormente sua própria voz, estritamente relacionada a nosso ser emocional. A personalidade artística e pessoal de Chopin é um claro exemplo de humildade e espontaneidade.

Frequentemente, ele subestimava os elogios dos outros, consciente de que somente expressava seu próprio mundo interior; sua forma de compor era sincera e cheia de inspiração, extraindo música de seu coração. Não obstante, esta qualidade não entra em conflito com o brilhantismo técnico de boa parte de sua obra, assim como seu virtuosismo também não entra em conflito com sua imensa emotividade e beleza.

Algumas de suas composições são extremamente simples e comoventes. Este caráter sensível se reflete também em sua forma de conceber seu próprio aprendizado técnico do piano como um processo autorregulador de aperfeiçoamento por meio da observação, tentando chegar ao ideal musical que todo intérprete almeja.

Definitivamente, um músico que cantou a música da alma e prossegue encantando a alma da audiência.

Extraído do sítio The Epoch Times

A BERLIM DE BRECHT: UM ROTEIRO PELOS BASTIDORES DO TEATRO ÉPICO - Roberto Almeida

Casa do autor e o teatro Berliner Ensemble estão abertos a visitação; ingressos para peças custam entre cinco e 30 euros.

Casa de Bertolt Brecht permanece intacta e está aberta para visitação do público. Foto:  Roberto Almeida/Opera Mundi

Foram apenas três anos vividos no número 125 da Chausseestrasse, de 1953 a 1956, mas a presença do dramaturgo e poeta Bertolt Brecht marcou definitivamente o endereço, no centro da antiga Berlim Oriental. A casa ampla, em três quartos, permanece intacta, assim como seus objetos pessoais. A decoração Bauhaus, austera, encontra motivos japoneses e oferece espaço para contemplação.

Sob as janelas grandes e luminosas, Elke Pfeil, especialista em Brecht e teatro, guia o visitante com detalhes sobre cada um dos objetos, irretocáveis em sua conservação. As hoje silenciosas máquinas de escrever, as máscaras de teatro japonês, uma foto de Lênin, a coleção de jornais antigos do Partido Social-Democrata alemão (SPD) e a longa fileira de livros com historietas policiais, paixão que partilhava com o filósofo Walter Benjamin.

“Estou agora vivendo na Chausseestrasse, perto do cemitério francês, onde generais huguenotes e Hegel e Fichte estão enterrados; todas as minhas janelas dão para o cemitério”, escreveu Brecht ao amigo Peter Suhrkamp, seu editor em Berlim Ocidental, em março de 1954.

Brecht foi enterreado no mesmo cemitério que Hegel e Fichte, seus ídolos, ao lado de sua mulher. Foto: Roberto Almeida/Opera Mundi

O autor, adepto de romances furtivos, também adorava os móveis antigos da casa e tinha carinho especial pelas cadeiras dinamarquesas, confortáveis e com assentos em couro. A Dinamarca foi seu primeiro destino após o incêndio no Reichstag, em 1933, que acabou virando definitivamente a mesa da política alemã para o lado de Adolf Hitler e passou a colocar sua vida em risco.

Mesmo antes da ascensão nazista, o autor já era conhecido pela montagem da Ópera dos Três Vinténs (1928), orquestrada por Kurt Weil e baseada no texto de John Gay (1728). A despretensiosa estreia berlinense da peça, naquele mesmo ano, fez um sucesso estrondoso e imortalizou personagens como o criminoso Mackie Messer (ou Mack the Knife, na versão original) e a senhorita Peachum.

A realidade, porém, empurrou-o para o exílio ao lado da mulher, a atriz Helene Weigel, com quem estava casado desde 1929. “Mudamos de país mais do que de sapatos”, lamentava Brecht, que não conseguia experimentar nos palcos o tanto quanto gostaria. Os períodos na Dinamarca, na Suécia, na Finlândia e nos Estados Unidos, para onde se mudou em 1941, nunca impediram sua produção, mas desaceleraram sua carreira.

Objeto de trabalho, máquina de escrever do poeta ainda está guardada na sua residência. Foto: Roberto Almeida/Opera Mundi

Como resultado, o teatro épico de Brecht, com sua quebra de paradigma, fincada na motivação social e no princípio do estranhamento, precisou esperar o fim da Segunda Guerra Mundial para se desenvolver plenamente. O epicentro dessa revolução nos palcos estava a poucos minutos de caminhada da casa da Chausseestrasse (veja no mapa disponível aqui).

O Berliner Ensemble, teatro fundado em janeiro de 1949 e dirigido por Helene Weigel, conserva até hoje a forte logomarca, também de inspiração Bauhaus, girando em seu topo. A casa de espetáculos brilha na área próxima à chamada ilha dos museus de Berlim, em frente ao rio Spree, com programações diárias em alemão. São comuns montagens das peças de Brecht, com ingressos bastante em conta.

O tour pelo teatro, organizado pelo ator holandês Werner Riemann, é imperdível e custa apenas dois euros (cerca de R$ 5). Mesmo quem arranha no alemão e conhece um pouco sobre Brecht consegue captar a essência do passeio, com duas horas e dezenas de histórias. Riemann é um personagem incrível da companhia, com mais de cinco décadas de trabalho dentro do Berliner Ensemble. Sua energia e memória são impressionantes. 

Com seus olhos azuis claros e sobrancelhas louras, aos quase 80 anos, o ator revela curiosidades da construção do teatro, como o uso de peças de tanques de guerra alemães, os Panzers, para montagem da estrutura giratória do palco, assim como os lugares cativos de Brecht e Helene Weigel na plateia e o significado das salas especiais, com máscaras em gesso dos principais atores que passaram por ali.

Sucesso e despedida

O rosto de um Brecht ainda jovem, bem no centro da coleção de máscaras, é uma homenagem ao autor que teve sua genialidade reconhecida nos palcos do Berliner Ensemble com a primeira montagem alemã de Mãe Coragem e Seus Filhos, em 1949, ano de abertura da casa. A peça antifascista, escrita em 1939, ano do início da Segunda Guerra, é um dos símbolos do ideário contra o nazismo e referência do teatro épico.

Máscara do rosto de Brecht, dos seus tempos de juventude. Foto: Roberto Almeida/Opera Mundi

Poucos anos depois, em 1956, o autor morreria na casa da Chaussestrasse de um ataque cardíaco fulminante e seria sepultado no cemitério ao lado - o mesmo descrito na carta ao editor dois anos antes - perto de seus ídolos Fichte e Hegel. Ele tinha apenas 58 anos. Helene Weigel continuou morando ali até sua morte, em 1971. Seus livros de receitas húngaras ainda hoje forram as estantes da cozinha simples.

O Berliner Ensemble, que Helene dirigiu por toda a vida, experienciou altos e baixos sob o controle do governo comunista da Alemanha Oriental. Até sua morte, Brecht tinha proteção e privilégios do SED, o partido comunista alemão, como acesso a jornais ocidentais, carro com motorista e empregados. O muro só seria construído cinco anos após sua morte. Ele nunca se filiou.

Após a queda do muro, o teatro passou a ser gerido por um time de diretores. As peças de Brecht não são as únicas a serem encenadas, mas fazem parte dos programas mensais. Os ingressos custam entre cinco e 30 euros. Todas as montagens são em alemão.

Extraído do sítio Opera Mundi

SÃO PAULO É UM MUNDO - José Carlos Ruy

Domingos sem Deus, o romance de Luiz Ruffato que encerra a série Inferno Provisório, é um retrato em corpo e alma da classe operária. Foi o vencedor, este ano, do prêmio Casa de Las Americas na categoria Literatura Brasileira.

Luiz Ruffato 

São Paulo é um mundo - foi o comentário de aprovação que Luiz Augusto (o Guto) ouviu do pai, Raul Salgado, quando anunciou, terminado o serviço militar, a decisão de abandonar sua Cataguases natal e tentar novos horizontes na cidade grande.

Por quantos milhões de gutos é formado esse mundo? São inumeráveis, nascidos fora da cidade grande, ou filhos desses que deixaram suas cataguazes pelo Brasil afora indo para São Paulo, Rio de Janeiro e outras magnéticas capitais, para mudar de vida.

Mudaram de vida, nem sempre como sonharam. Mudaram o país também. 


Com seu trabalho, construíram metrôs, prédios de apartamentos, conjuntos habitacionais, fabricaram coisas úteis como comidas, fogões, geladeiras, carros, roupas... Levaram essas coisas úteis de lá para cá, dirigindo caminhões, caminhonetes, trens. Venderam coisas úteis nas lojas, supermercados, ou zanzando por aí como representantes comerciais. 

Ao deixar a roça e as pequenas cidades com perspectivas acanhadas, fortaleceram o contingente da classe operária - que, hoje, no início deste terceiro milênio, muitos apelidam de classe média ou classe C, desde que tenham renda regular num certo volume e carteira assinada. 

Brasileiros que, seduzidos pelo mundo que é São Paulo, incham os jardins miriam ou jussara, as lonjuras de Diadema ou São Miguel Paulista, que zanzam pelo Anhangabaú e pela Praça da Sé, apertam-se nos trens e ônibus. 


Humanizam a cidade que abrasileiraram, lutam por seus sonhos, dão murro em ponta de faca contra as adversidades, e embalam-se com os momentos felizes que viveram. Seu Valdomiro, que “desembrulha recordações perambulando pelas ruas estreitas de Diadema, onde pousou”, garante, no forró do Centro de Recreação do Idoso, no Jardim Inamar, que seu momento de maior felicidade na vida “foi o dia em tirei retrato para a formatura da quarta série” na, agora longínqua, Rodeiro, Minas Gerais.

Os personagens desse mundo que é São Paulo - como as cidades que atraem trabalhadores que, querendo mudar de vida, mudaram o país - povoam os livros de Luiz Ruffato. Seguem rumos que o próprio Ruffato caminhou. Filho do povo -o pai era pipoqueiro e a mãe lavadeira - veio de Cataguazes para São Paulo e foi jornalista de sucesso até 2003 quando se afastou das redações para contar, em tempo integral, as histórias dos waldomiros, cláudias, nilos, gutos, sandras mauras - os fios do bordado lancinante, heroico e esperançoso com os quais compõe a descrição dos trabalhadores - fio narrativo que Ruffato viveu na pele quando foi, antes de se tornar jornalista, ainda em Cataguazes, operário têxtil e balconista de loja. Fios narrativos seguidos, em nosso tempo, por escassos escritores que, avessos ao remoer dramas existencialista de dramas existenciais, dedicam-se a registrar os dramas concretos vividos pelo povo e pelos trabalhadores. São escritores ligados ao proletariado, como Roniwalter Jatobá (“Crônicas da vida operária”, “Sabor de Química” e “Paragens”), Antônio Torres (“Essa Terra”), Murilo Carvalho (“O rastro do jaguar”), Jeosafá Fernandez (“Era Uma Vez No Meu Bairro”), Marco Albertim (“Ingrid tinha alergia à lama do Capibaribe”)...

O time não é grande, mas significativo. Nele, o brilho de Domingos sem Deus (que encerra a série Inferno provisório) é fulgurante; é um retrato de corpo (e alma) da classe operária que, com justiça, foi agraciado, neste 2013, com o prêmio Casa de las Américas de Literatura Brasileira.

Extraído do sítio Portal Vermelho