23 de março de 2013

INFARTO DO MIOCÁRDIO - Dr. Sérgio Augusto Latuf

Grande parte das mortes por infarto ocorre na primeira hora, diante da dificuldade em se diagnosticar o infarto fora do ambiente hospitalar e levando ao retardo na procura de ajuda adequada


Infarto do miocárdio é um processo de necrose de parte do músculo cardíaco causado pela falta de oxigenação. Por vários motivos que falaremos a seguir, o fluxo de sangue é interrompido, causando um sofrimento da área acometida e em seguida ocorre um processo de necrose e posteriormente uma cicatrização. O grau de extensão das áreas acometidas, varia de acordo com a artéria ocluída. Quanto maior a área comprometida, pior o prognóstico.

As artérias coronárias são ramos da artéria aorta. A coronária direita geralmente é única e se divide em duas na porção final. A coronária esquerda geralmente se divide em dois ramos, a artéria descendente anterior e a artéria circunflexa. Outros ramos das artérias coronárias, assim como as anomalias de formação não necessitam ser comentadas. Cada artéria coronária irriga uma determinada parte do coração, como a parte anterior (frente), inferior (de baixo), lateral e posterior (atrás do coração). Aterosclerose é o processo de formação de placas gordurosas no interior dos vasos e é a causadora da maioria dos infartos ( espasmos coronarianos podem causar infarto em uma minoria dos casos). 

Com o passar do tempo, pode ocorrer um aumento do tamanho das placas gordurosas, causando limitação do fluxo de sangue no vaso sanguíneo acometido. Em geral, quando a placa gordurosa atinge 70% ou mais, causa a isquemia. Isquemia é conceituada como a falta de suprimento sanguíneo a um determinado tecido. Assim como no coração, isquemia pode ocorrer em vários órgãos, como cérebro, intestino, membros etc. O mecanismo de formação da aterosclerose é muito complexo. Ao contrário que se imagina, a aterosclerose é doença de uma vida, isto é, desde a infância podemos iniciar o processo. 

A parte interna dos vasos sanguíneos possui uma camada chamada de endotélio. São células diferenciadas e complexas que produzem várias substâncias responsáveis pelo relaxamento e contração dos vasos, assim como tem a função de não deixar que as substâncias que estão passando através delas, penetrem em seu interior. Quando ocorre uma situação avessa ao equilíbrio do endotélio, inicia-se o processo de disfunção endotelial, dessa forma abre-se caminho para o acúmulo e desenvolvimento da aterosclerose. Diversas situações podem causar a disfunção endotelial como, hereditariedade, colesterol alto, diabetes, hipertensão, tabagismo, stress, sedentarismo etc. 

O infarto do miocárdio ocorre normalmente quando existe a formação de um trombo na região da placa aterosclerótica, obstruindo totalmente o vaso sanguíneo, causando a necrose do músculo do coração. Os sintomas de infarto do miocárdio são muito variáveis, mas em geral ocorre uma dor, geralmente do lado esquerdo do peito, em aperto, que pode irradiar para o braço esquerdo, axila, pescoço, queixo. Podem ocorrer sensações de enjôo, palidez, suor frio e mal estar geral. Nos pacientes diabéticos os sintomas podem não aparecer, dificultando o diagnóstico.

No passado não muito distante, o diagnóstico de infarto era feito somente pelo quadro clínico e a realização de um eletrocardiograma. Isso ocasionava a uma grande quantidade de erros diagnósticos, pois até 50% dos eletrocardiogramas podem estar normais, mesmo se o indivíduo estiver enfartando. 

Atualmente existem as unidades de dor torácica, que são setores especializados em atender pacientes com queixa de dor no peito. Segue-se uma sequência de condutas que são elaboradas por um protocolo internacional, de modo que o paciente desde a chegada na unidade, receba um atendimento rápido e eficaz, pois se ele estiver enfartando, o tempo entre a chegada na unidade, do diagnóstico e o do tratamento são fatores que vão ser fundamentais para o prognóstico do paciente. 

O tratamento busca diminuir o tamanho do infarto e reduzir as complicações pós infarto. Envolve cuidados gerais como repouso, monitorização intensiva, uso de medicações e procedimentos chamados invasivos, como angioplastia coronária e cirurgia cardíaca. O tratamento é diferente conforme o paciente, já que áreas diferentes quanto à localização e tamanho podem ser afetadas e a resposta de cada pessoa ao infarto ser particular. O prognóstico, ou seja, a previsão de evolução será tanto mais favorável quanto menor a área de infarto e mais precoce o seu tratamento. Diante dos avanços das últimas décadas nos procedimentos médicos, a taxa de mortalidade nos casos de infarto no mundo, diminuiu acentuadamente, ainda assim o infarto continua sendo a principal causa de mortalidade no mundo.

O infarto é uma doença extremamente grave. Grande parte das mortes ocorre na primeira hora, diante da dificuldade em se diagnosticá-lo fora do ambiente hospitalar, levando ao retardo na procura de ajuda adequada. Por isso, se você apresentar dor no peito, não perca tempo, dirija-se a uma unidade de atendimento de urgência ou chame por socorro. O infarto não perdoa. Existem projeções nada animadoras a respeito da ocorrência de doenças cardiovasculares no futuro. No Brasil, entre 1979 e 2004 a mortalidade por infarto do miocárdio aumentou 34% e a mortalidade por doença cerebrovascular (derrame) aumentou 9%. 

Diversos fatores de risco, que agem conjunta e simultaneamente, podem causar o infarto: hereditariedade, tabagismo, hipertensão arterial, colesterol alto, diabetes, stress, abuso de bebidas alcoólicas, uso de drogas, falta de atividade física, obesidade, etc. Sabe-se que, de todos os fatores de risco modificáveis para a doença cardíaca, o mais difícil de mudar é o estilo de vida. Isso já foi comprovado por diversos estudos científicos. 70% das doenças estão associadas às emoções, genética, o que comemos e bebemos e o que respiramos. As doenças da alma causam doenças no corpo, principalmente a raiva, a inveja e a vaidade (são chamadas de trio maléfico). 

* Dr. Sérgio Augusto Latuf é médico cardiologista.

Extraído do sítio Jornal Cruzeiro do Sul

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