28 de março de 2013

PORTO ALEGRE CELEBRA OS 35 ANOS DO BRIQUE DA REDENÇÃO - Jessica Gustafson

Feira de antiguidades e artesanato é considerada pelos porto-alegrenses como um ponto de encontro aos domingos.

Aos 35 anos, feira de antiguidades da Redenção está consagrada como ponto de encontro da cidade. Foto: Marco Quintana/JC

O Brique da Redenção, localizado no bairro Bom Fim, completou 35 anos na última semana. Desde seu começo, em 1978, quando era chamado de Mercado de Pulgas, o local passou por diversas transformações. De sua origem de bancas de antiquários, agregou artesanato, culinária e arte. O que não mudou nestas décadas foi o seu traço mais marcante, que é o de agregar todos os gostos e expressões da Capital. O Brique continua sendo, mais do que nunca, o palco das amizades e ponto de encontro dos porto-alegrenses aos domingos. 

Ary Alves de Oliveira, de 75 anos, tem duas grandes paixões: os objetos antigos e o Brique da Redenção. Vendedor de antiguidades no parque há mais de 34 anos, ele conta que, durante essas três décadas, espera a semana passar rapidamente para chegar o domingo, dia em que se reúne não apenas com clientes, mas com amigos. “Quando chove fico doente de não poder vir”, relata. 

Aposentado, Oliveira fala saudoso da época em que começou seu trabalho no Brique. Segundo ele, não existia mais do que meia dúzia de bancas, que vendiam o que ele chama de “limpa garagem” - objetos que não serviam mais para uso do dono. Muitos de seus colegas já se foram, mas os novos são recebidos com o mesmo carinho. “Falo para o pessoal mais jovem: Nós fizemos o Brique para vocês, agora é preciso continuar,” relata, como um pai coruja. O contato com os clientes é marcado pela troca de experiências. Às vezes ele compra uma peça antiga e não sabe a sua história, então chega algum frequentador do parque e transmite o conhecimento que tem sobre o objeto. 

Essas amizades, feitas ali, sob as árvores da José Bonifácio, já renderam histórias interessantes. Uma delas, Oliveira conta sorrindo, aconteceu há vinte anos, quando roubaram a sua caminhonete estacionada no parque. “Foi uma mobilização entre os vendedores e conhecidos e conseguimos recuperar o veículo perto da rodoviária.” 

Além dessas pequenas epifanias nos domingos do comerciante, um objeto recebe o total apreço de Oliveira: um samovar Russo, de mais de 100 anos, utilizado para servir chá. “Tenho um cliente que vem todo final de semana negociar a peça. Ainda não chegamos a um acordo”, brinca. A relação dele com o Brique é tão profunda que seu último desejo já foi transmitido para a família. “Quando morrer, quero que minhas cinzas sejam depositadas nesta paineira em frente à banca, para que eu possa continuar acompanhando os dias de domingo”, diz. 

A arte também é presença garantida na feira. O artista André Luiz Machado, que faz máscaras em couro, relata que existe uma influência do Brique muito forte em seu trabalho, pois recebe inspiração e referências trazidas por turistas do País e do mundo. “Somente hoje (ontem) já vendi uma máscara para um cliente da Alemanha e para outro da China. A Redenção aos domingos está no trajeto da maioria dos turistas que vêm a Porto Alegre. Essa diversidade cultural é muito boa”, afirma. Morador de Gramado, ele vende suas peças no Brique há 17 anos e diz que algumas celebridades já compraram as máscaras feitas por ele e saíram com elas vestidas pelo parque. 

A sensação de liberdade e boa convivência que o local transmite também é um dos motivos pelos quais os frequentadores procuram o parque. Marilise Guimarães, de 34 anos, conta que desde que se mudou de Taquari para a Capital, aos 16 anos, a Redenção virou o pátio de sua casa, mesmo morando distante, no Jardim Itu. Na maioria das vezes, a assistente de vendas vai até o Brique acompanhada do filho. Porém, quando vai só, encontra diversos amigos. “Estou aqui, escutando boa música de um artista talentoso. Isso dá uma recarregada nas baterias para a semana. Presenciamos tantas coisas ruins no cotidiano e aqui as pessoas se dão tão bem. Essa relação traz esperança para as nossas vidas”, conta.

Para alguns, o local não é lugar apenas de observação e de convivência, mas também de criatividade e trabalho. Simone Dreher, de 28 anos, e Júlio Contreiras, de 31, moram bem em frente ao parque e todos os domingos passam à tarde no gramado da Redenção. “Hoje estamos montando um protótipo físico para a nossa empresa de jogos digitais. Preferimos fazer aqui porque é mais agradável”, relata Simone. Moradores do Bom Fim há dois anos, eles contam que, além de trazerem a vida cotidiana para o parque, aprenderam muitas coisas novas nestes momentos de lazer. “Já participamos de palestras sobre o cérebro e até sobre a cor das algas na Redenção. Geralmente não sabemos sobre o que é o evento, mas sempre aprendemos algo”, ressalta Contreiras. 

Neste domingo, em comemoração aos 35 anos do Brique, celebrado no dia 19, as bancas foram enfeitadas com balões coloridos. Pela manhã, houve um passeio ciclístico em alusão ao aniversário de 241 anos de Porto Alegre, comemorado no dia 26 de março.

Extraído do sítio Jornal do Comércio

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