31 de dezembro de 2012

QUEM LUCROU COM O FIM DO MUNDO? - Daria Manina e Alexei Liakhov

© Colagem: Voz da Rússia

O fim do mundo ficou para trás. Agora, há todas as razões para fazer o balanço do evento. A quem aproveitou a ideia do apocalipse? É sabido que um em cada dez habitantes da Terra acreditava que o mundo iria acabar em 21 de dezembro de 2012. Certos empresários souberam aproveitar-se destes receios e obter bons lucros.

Os especialistas afirmam que os mais beneficiados com a ideia do fim do mundo foram as agências de viagem, a mídia, as agências de publicidade e os pequenos empresários. O México e El Salvador chegaram a assinar um acordo especial sobre a divulgação da ideia do fim do mundo. Em resultado disso, a terra natal da civilização maia recebeu neste ano quase três vezes mais turistas do que antes. Muitas companhias vendiam atrevidamente somente passagens de ida. Portanto, o tema de apocalipse virou para muitos empresários uma espécie de “boia de salvação”,- explica o consultor político Anatoli Vasserman.

"A teoria do fim do mundo proporciona vantagens em primeiro aos que atuam de acordo com o antigo ditado: quanto mais turva é a água, tanto mais peixe se pode pescar nela. É sabido que os boatos sobre o fim do mundo existiram desde sempre. Há muitos séculos, no ano 1000 d.C. também se dizia que o mundo iria acabar. Nessa época, um grande número de comerciantes ganhou muito dinheiro adquirindo a preço de banana tudo que as pessoas que acreditavam no próximo fim do mundo resolveram vender a fim de aproveitar os últimos dias para se divertirem."

Este ano, o segundo maior beneficiado com o fim do mundo foi o setor de construção civil. Nos EUA, a construção de uma casa-abrigo custava a partir de dez mil dólares. Na Rússia os ingressos nos abrigos subterrâneos, os bunkers, eram vendidos a mil dólares por pessoa. Ao mesmo tempo, houve também soluções menos comuns. Por exemplo, Evgueni Ubiiko, um inventor que vive na região de Moscou, projetou uma cápsula de salvação que faz lembrar uma cabina revestida de folha de alumínio. O cientista inventou uma alternativa ao uso da cabina caso o prognóstico não se realizasse, ou seja, se o fim do mundo não acontecesse. A sua estrutura, no valor de 80 mil dólares podia ser utilizada na qualidade de sauna ou de…. frigideira industrial. A internet fazia publicidade a diversas camisetas com inscrições do tipo “Este é o último dia”, a kits especiais para o fim o mundo, - com fósforos, velas e vodka, - e de agendas para cartas destinadas às futuras gerações.

Todavia, nem todos concordam que os empresários conseguiram ganhar muito dinheiro na véspera do apocalipse. Alguns peritos recordam o início do século XXI, quando uma das versões mais populares era a ideia de que todos os computadores iriam ficar fora de serviço e que, em resultado, os aviões iriam cair. Os programadores americanos ganharam cerca de 200 milhões de dólares desenvolvendo programas de segurança especialmente para este caso. Em comparação com isso, a vantagem obtida pelos homens de negócios na véspera de 2013 foi insignificante.

É possível que ninguém soubesse do fim do mundo se não fosse o cientista russo Yuri Knorozov, pois foi precisamente ele quem conseguiu decifrar a língua dos maias e o seu calendário, no qual o dia 21 de dezembro de 2012 era apontado como o “dia X”. A principal descoberta que o linguista fez no processo do seu trabalho foi esta – cada sinal da língua maia designava não uma letra, mas sim uma sílaba. Este foi um grande salto em frente no estudo da escrita dos índios maia, diz o escritor Oleg Shishkin.

"O nosso compatriota Yuri Knorozov conseguiu decifrar esta escrita com tamanha eficiência que muitas pessoas ficaram pasmadas. O cientista americano Thomson tentou demonstrar durante muitos anos que o trabalho de Knorozov não passava de uma invencionice e somente na véspera da morte confessou aos colegas que podiam informar o cientista russo que ele tinha razão."

Agora já se podem conhecer os prognósticos de apocalipses para os próximos anos. Por exemplo, de acordo com a mitologia escandinava, o fim do mundo pode ocorrer em 2013; de acordo com a versão de certos cientistas, a poeira cósmica vai absorver o Sistema Solar em 2014 e há quem afirme que o vírus mortífero Ébola vai matar a humanidade em 2015. Parece que o cronograma do fim do mundo será renovado regularmente para os que sobreviverem a estas datas.

Extraído do sítio Voz da Rússia

A EXTINTA UNIÃO SOVIÉTICA COMPLETA 90 ANOS. TAL PAÍS, QUAL ARTE? - Milton Ribeiro

Nicolau II em 1898: um país de grande literatura, mas em convulsão

A ensaísta Flora Süssekind, num livro sobre literatura brasileira, criou o belo título Tal Brasil, qual romance? É com este espírito — apenas com o espírito, pois nossa pobre capacidade nos afasta inexoravelmente de Flora — que pautamos para este domingo o que representou (ou pesou) a União Soviética em termos culturais. Sua origem, a Rússia czarista, foi um estado que mudou o mundo não apenas por ter se tornado o primeiro país socialista do planeta, mas por ter sido o berço de uma das maiores literaturas de todos os tempos. Quem lê a literatura russa do século XIX, não imagina que aqueles imensos autores — Dostoiévski, Tolstói, Tchékhov, Turguênev, Leskov e outros — viviam numa sociedade com resquícios de feudalismo. Através de seus escritos, nota-se claramente a pobreza e a base puramente agrária do país, mas há poucas referências ao czar, monarca absolutista que não admitia oposição e que tinha a seu serviço uma eficiente censura. Na verdade, falar pouco no czar era uma atitude que revelava a dignidade daqueles autores.

No início do século XX, Nicolau II, o último czar da dinastia Romanov, facilitou a entrada de capitais estrangeiros para promover a industrialização do país, o que já ocorrera em outros países da Europa. Os investimentos para a criação de uma indústria russa ficaram concentrados nos principais centros urbanos, como Moscou, São Petersburgo, Odessa e Kiev. Nessas cidades, formou-se um operariado de aproximadamente 3 milhões de pessoas, que recebiam salários miseráveis e eram submetidos a jornadas de até 16 horas diárias de trabalho, sem receber alimentação e trabalhando em locais imundos. Ali, havia um ambiente propício às revoltas e ao caos social, situação que antecedeu o nascimento da União Soviética, país formado há 90 anos atrás, em 30 de dezembro de 1922.

Os trabalhadores foram recebidos pela artilharia, sem diálogo

Primeiro, houve a revolta de 1905. No dia 9 de janeiro daquele ano, um domingo, tropas czaristas massacraram um grupo de trabalhadores que viera fazer um protesto pacífico e desarmado em frente ao Palácio de Inverno do czar, em São Petersburgo. O protesto, marcado para depois da missa e com a presença de muitas crianças, tinha a intenção de entregar uma petição — sim, um papel — ao soberano, solicitando coisas como redução do horário de trabalho para oito horas diárias, assistência médica, melhor tratamento, liberdade de religião, etc. A resposta foi dada pela artilharia, que matou mais de cem trabalhadores e feriu outros trezentos. Lênin diria que aquele dia, também conhecido como Domingo Sangrento, foi o primeiro ensaio para a Revolução. O fato detonou uma série de revoltas internas, envolvendo operários, camponeses, marinheiros (como a revolta no Encouraçado Potemkin) e soldados do exército.

Se internamente havia problemas, também vinham péssimas notícias do exterior. A Guerra Russo-Japonesa fora um fiasco militar para a Rússia, que foi obrigada a abrir mão, em 1905, de suas pretensões sobre a Manchúria e na península de Liaodong. Pouco tempo depois, já sofrendo grande oposição interna, a Rússia envolveu-se em um outro grande conflito, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), onde também sofreu pesadas derrotas em combates contra os alemães. A nova Guerra provocou enorme crise no abastecimento das cidades, desencadeando uma série de greves, revoltas populares e fome de boa parte da população. Incapaz de conter a onda de insatisfações, o regime czarista mostrava-se intensamente debilitado até que, em 1917, o conjunto de forças políticas de oposição (liberais e socialistas) depuseram o czar Nicolau II, dando início à Revolução Russa.

Lênin trabalhando no Kremlin, em 1918

A revolução teve duas fases: (1) a Revolução de Fevereiro, que derrubou a autocracia do czar Nicolau II e procurou estabelecer em seu lugar uma república de cunho liberal e (2) a Revolução de Outubro, na qual o Partido Bolchevique derrubou o governo provisório. A Revolução Bolchevique começou com um golpe de estado liderado por Vladimir Lênin e foi a primeira revolução comunista marxista do século XX. A Revolução de Outubro foi seguida pela Guerra Civil Russa (1918-1922) e pela criação da URSS em 1922. A Guerra Civil teve como único vencedor o Exército Vermelho (bolchevique) e foi sob sua liderança que foi criado o Estado Soviético. Lênin tornou-se, assim, o homem forte da Rússia, acompanhado por Trotsky e Stálin. Seu governo foi marcado pela tentativa de superar a crise econômica e social que se abatia sobre a nação, realizando reformas de caráter sócio-econômico. Contra a adoção do socialismo na Rússia ergueu-se uma violenta reação apoiada pelo mundo capitalista, opondo o Exército Vermelho aos russos brancos (liberais).

Canibais com suas vítimas, na província de Samara, em 1921.

O país que emergiu da Guerra Civil estava em frangalhos. Para piorar, em 1921, ocorreu a Grande Fome Russa que matou aproximadamente 5 milhões de pessoas. A fome resultou do efeito conjugado da interrupção da produção agrícola, que já começara durante a Primeira Guerra Mundial, e continuou com os distúrbios da Revolução Russa de 1917 e a Guerra Civil. Para completar, houve uma grande seca em 1921, o que agravou a situação para a de uma catástrofe nacional. A fome era tão severa que a população comia as sementes em vez de plantá-las. Muitos recorreram às ervas e até ao canibalismo, tentando guardar sementes para o plantio. (Não terá saído daí a fama dos comunistas serem comedores de criancinhas? Num documentário da BBC sobre o século XX, uma mulher, ao lembrar-se da fome, conta que sua mãe tentou morder sua filha pequena e que ela precisou trancar a mãe e fugir da casa. Bem, continuemos).

Vitorioso, Lênin criou o NEP, um plano econômico que visava reerguer a produtividade nacional e normalizar a economia. Em 1922, diversas repúblicas asiáticas e europeias agregaram-se à Rússia, originando a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

Mortos de fome no Volga

Não era, evidentemente, o ambiente ideal para a criação de um estado democrático aos moldes da eterna receita dos EUA. O país vinha de uma guerra civil, tinha oposição interna e externa, havia outros regimes fortes quilômetros depois das fronteiras, um histórico recente de conflitos, grande parte da população era saudosa de seu paizinho (o czar) e, fundamental e principalmente, não tinha nenhuma tradição democrática. Aliás, não tem até hoje, mesmo sob o governo eleito de Putin.

Depois desta época, a história é mais conhecida. Lênin morreu em 1924 e seu lugar foi ocupado por Stálin de 1927 a 1953. Com mão de ferro e utilizando-se dos gulags e de expurgos a fim de aniquilar seus opositores dentro e fora do Partido Comunista, Stálin fez avançar o país na direção da industrialização e do desenvolvimento. Antes dos anos 30, os artistas russos que não eram contra-revolucionários gozaram de relativa liberdade. Apesar dos frequentes embates com a burocracia, Vladimir Maiakovskie seu futurismo deram digna sequência à tradição russa. Maiakovski suicidou-se em 1930, mas o fato não parece ter relação coma política ou a censura. Desta forma, ele não conheceu Jdanov.

Maiakovski é autor de versos como “Come ananás / mastiga perdiz / teu dia está próximo, burguês”.

Nos anos 30, os artistas e escritores russos depararam-se com um gênero de censura inteiramente diferente do que era conhecido até ali. Stálin, apesar da imagem que foi criada no Ocidente, era um fino apreciador da música erudita e muitas vezes dava palpites estéticos diretamente a compositores como Shostakovich, Prokofiev e Khachaturian.

Em seu governo surgiu Andrei Jdanov, que tornou-se dirigente do PCUS em 1934 após o expurgo (assassinato) de Kírov. Jdanov foi o criador do Realismo Socialista nas artes. Na verdade, o Realismo Socialista tinha parâmetros políticos e estéticos inapreensíveis. Seus critérios eram metade artísticos, metade geopolíticos. A definição do Realismo Socialista era algo apenas claro na arquitetura. O restante escapava aos autores do país, que tinham sempre dificuldades de se adequarem a ele.

Soldados hasteiam a bandeira soviética sobre o Reichstag: esta é a célebre fotografia de Yevgeny Khaldei, tirada em 2 de maio de 1945. A foto mostra soldados soviéticos que levantam a bandeira da União Soviética sobre o prédio do Reichstag alemão após a Batalha de Berlim.

Aparentemente, o jdanovismo começou com a ópera de Shostakovich Lady Macbeth de Mtsensk, baseada numa novela de Leskov. Stálin, sempre criativo com as palavras, qualificou-a de pornofonia, e então os artistas descobriram que sexo era algo a evitar. As regras do que seria ou não censurado dependiam muito da circunstância política e das posturas de cada artista. Nem a estrondosa e heroica vitória na Segunda Guerra Mundial afrouxou a censura.

Jdanov: um censor sem manual de uso

Serguei Eisenstein foi o cineasta que criou obras-primas como A Greve, O Encouraçado Potemkin, Que Viva México! (inacabado) e Aleksandr Nevski. Assim como o jovem Shostakovich, era um dos meninos de ouro do PCUS. Porém, após o extraordinário sucesso doPotemkin, o cineasta foi contratado pela MGM norte-americana. Quando voltou, o partido e a imprensa não perdoaram sua aventura capitalista. Sinal de que não se podia viajar para produzir fora da URSS.

Viajante e cosmopolita era Igor Stravinsky, que já estava na França desde os anos 10. Ele apenas voltou ao país para curtas visitas, sabedor dos problemas que teria para produzir na URSS. Quem retirou-se do país em 1919 para nunca mais voltar foi Vladimir Nabokov, escritor nascido no seio de uma família da antiga aristocracia. Mais fiel às origens foi Serguei Prokofiev, nascido em 1891. Em 1918, vendo que o ambiente não era o melhor para um compositor experimental, foi morar nos EUA. Poucos anos depois, passou à Suíça e finalizou sua aproximação da URSS em 1935. Em quase parceria com Eisenstein, fez Alexandr Nevski, filme que talvez seja um dos mais felizes casamentos entre imagem e música. Morreu em 1953.

Bulgákov: impedido de sair, mas recebendo telefonemas do chefe

O escritor Mikhail Bulgákov sofreu muito mais. Adversário do regime, chegou a alistar-se no Exército Branco. Finalizada a Guerra Civil, Stálin proibiu-o de emigrar ou de visitar seus irmãos em Paris. Bulgákov nunca apoiou o regime e o ridicularizou em seus trabalhos. Por essa razão, muitos deles ficaram inéditos por décadas. Em 1930, escreve uma carta a Stálin pedindo permissão para emigrar, já que a União Soviética lhe oferecia oportunidades. Como resposta, recebeu uma ligação do próprio Stálin, negando seu pedido e oferecendo-lhe trabalho no teatro. Stálin não costumava mandar recados. A obra-prima de Bulgákov, o monumental romance O Mestre e Margarida, escrito entre 1928 e 1940, foi publicado pela primeira vez apenas em 1966.

Shostakovich: sua biografia já resultou e ainda resultará em muitos livros

O imenso compositor Dmitri Shostakovich (1906-1975) sofreu ainda mais. Como qualquer autor de obras sinfônicas, dependia de orquestras e teatros; ou seja, do estado. Sua vida foi infernal: herói do regime e compositor nacional até 1934, caiu em desgraça pela citada ópera baseada em Leskov. Foi recuperado durante a Segunda Guerra Mundial para cair novamente em desgraça após Stálin dar-se conta — com toda a razão — de que sua Nona Sinfonia e outras composições eram notáveis e imortais peças do mais puro sarcasmo… ao stalinismo. Shostakovich considerava-se um sincero comunista e, mesmo quando não se tratava de encomendas, produzia peças em homenagem à Revolução Russa. Apesar de genial, nunca entendeu os critérios do Realismo Socialista.

Sob a vaga acusação de “excessivo subjetivismo”, o poeta e romancista Boris Pasternak passou a ter dificuldades em publicar seus livros nos anos 30. Sua situação é curiosa: na Rússia, é mais conhecido como poeta do que romancista, em virtude de o livro Doutor Jivagoter sido censurado na antiga União Soviética. O personagem principal do romance é, justamente, um poeta que tem problemas com as autoridades soviéticas, embora simpatizante da causa. Em 1958, Pasternak recebeu o Nobel de Literatura, mas não foi autorizado a recebê-lo.

O duplo equívoco Soljenítsin: de dissidente admirado no Ocidente a antissemita nos EUA

Alexander Soljenítsin foi um ferrenho adversário do PCUS. Seus livros foram absolutamente proibidos, mas circulavam através do samizdat. O samizdatera uma ação coletiva na qual indivíduos e grupos de pessoas copiavam e distribuíam clandestinamente livros e outros bens culturais proibidos pelo governo. Soljenítsin escreveu extensa obra, toda ela antissoviética e de pouco valor artístico. Quando foi expulso do país, em 1974, soube-se de suas ideias políticas, que propunham um estado religioso. O golpe fatal em sua obra veio de quem mais o apoiara quando estava na URSS, os EUA: ao escrever sobre o absoluto protagonismo dos judeus russos no Partido Comunista e na polícia secreta soviética, foi tachado de antissemita e desmoralizado no exílio. Morreu em Moscou.

Tarkovski: todos os filmes que realizou na União Soviética tiveram rígido controle da censura

Desde seu primeiro longa metragem — o estupendo Andrei Rublev —, o cineasta Andrei Tarkovski teve problemas com a burocracia. O filme, de 1966, foi apresentado no Festival de Cannes de 1969, fora de competição, e teve sua estreia na União Soviética somente em 1971, com cortes. Todos os seus trabalhos subsequentes, apesar de respeitadíssimos, foram prejudicados pela censura. Profundamente ressentido com o controle exercido sobre o seu trabalho, Tarkovski decidiu sair da URSS em 1983. Além de seus filmes sempre excelentes, Tarkovski deixou-nos o livro Esculpir o Tempo, obra essencial a todos os amantes do cinema.

Ainda temos outros grandes autores que comprovam a continuidade da tradição russa mesmo sob a censura. O que dizer da poetisa Anna Akhmátova e de escritores como Isaac Babel e Máximo Gorki, que tornaram-se inimigos pelo fato do primeiro combater e o segundo apoiar o governo da URSS? Melhor finalizar mostrando que, na atual Rússia de Putin, pouco mudou, como mostra o irônico e triste filme russo Minha felicidade. Mais provas? O fato da classe artística russa ter silenciado sobre a decretação de prisão do grupo feminino Pussy Riot. Não gostavam das meninas? Não, nada disso, é que as maiores estrelas do país tentam não se desentender com o presidente Vladimir Putin para não pôr em risco sua principal fonte de renda: os shows particulares para os super-ricos, que pagam muito bem. Ou seja, a censura tem várias formas: aqui, por exemplo, temos a censura ao Pussy Riot e a autocensura dos colegas.

As Pussy Riot: prisão por dois anos após protestarem contra Putin e a Igreja

Extraído do sítio Sul21

UMA FARMÁCIA NATURAL EM CASA - Alberto Fiaschitello

Chá natural (Ticiane Rossi/The Epoch Times)

Os recursos naturais para a saúde estão disponíveis praticamente em todos os lugares. Da água ao uso das ervas, do uso da respiração à ginástica, da auto-percepção aos banhos medicinais e desintoxicações, enfim. Praticamente tudo no mundo pode ser utilizado como recurso terapêutico para a saúde e a cura.

O problema principal é que não entendemos nem o que é a saúde e nem o que são as doenças. E devido a isso, temos uma visão muito obtusa, que apenas se limita a corrigir os estados superficiais das doenças, mantendo os estados desequilibrados e doentes em níveis mais profundos, mas sempre existentes.

Como já dissemos em outros artigos, a causa verdadeira e essencial de qualquer doença é a nossa mente, que, devido a estados psicológicos conflituosos – agudos e intensos, ou crônicos e desgastantes - interfere de forma crucial nas funções do corpo.

Na verdade, curar-se não significa deixar de ter um sintoma depois de tomar um remédio, mas voltar a ter uma função saudável e plena no sistema, órgão ou estrutura orgânica que estava afetada. Além disso, se a função orgânica está alterada por sentimentos (medo, tensão, ansiedade, raiva, mágoa, angústia, entre outros), a menos que esses sejam conhecidos e curados interiormente, a função nunca melhorará realmente e, por isso, não voltará a ser saudável.

Então, saúde significa: estado saudável, capaz, pleno, equilibrado e natural de um indivíduo ou de uma estrutura ou função orgânica. Doença significa: desequilíbrio, incapacidade, deficiência, ou estado anti-natural de um indivíduo ou de uma estrutura ou função orgânica. E cura significa o retorno ao estado de saúde integral.

Na verdade, o termo ‘cura’ significa, etmologicamente: ‘cuidar, zelar’, e, de fato, só é possível curar algo quando esse é cuidado. Então, toda vez que surge uma doença, um mal-estar, uma dor, o caminho correto é dar atenção ao distúrbio, tentando compreendê-lo, e cuidar da mente ou do corpo (ou de ambos) com carinho e inteligência: a saúde é muito mais do que uma pílula; é um estado de plenitude, felicidade e bem-estar.

Agora, vamos ver os recursos e remédios naturais que temos em casa. Lembramos que essas dicas não substituem os tratamentos que podem ser feitos por médicos, naturopatas, naturólogos, terapeutas naturalistas e outros.

Água (Ticiane Rossi/The Epoch Times)

Água – Podemos usá-la em pedilúvios (banho nas pernas e nos pés), compressas, banhos revitalizantes, descongestionantes e afins. Seus efeitos são simplesmente extraordinários. Hoje, falaremos apenas sobre o pedilúvio. Em breve, teremos um artigo completo sobre o uso terapêutico da água. Para antecipadamente conhecer mais e ter excelentes recursos consulte o livro: Cura pela Água, de Louis Kuhne.

Pedilúvio (Ticiane Rossi/The Epoch Times)

Pedilúvios – Os pedilúvios são excelentes para acalmar mentes ansiosas, relaxar os ombros e o pescoço, descongestionar a cabeça e para insônia. Coloque água quente (pode ser do chuveiro) num balde largo e mergulhe as pernas até 20cm acima do tornozelo. Esteja vestido normalmente com roupas folgadas e descanse assim por 15 minutos. Não leia e nem faça atividades mentais (não use Ipod, lap-top, TV etc); se quiser, ouça música clássica ou suave. Faça longe das refeições ou espere 2 horas depois de comer para fazê-lo. Pode ser feito algumas vezes ao dia, ou somente antes de dormir. É muito benéfico se feito por vários dias. As pessoas que têm insuficiência cardíaca, pressão baixa ou varizes não devem fazer o pedilúvio quente; devem fazer o pedilúvio alternado: colocar água fresca da torneira no balde e colocar as pernas por 1 minuto. Depois tirar da água fria e colocar num balde com água quente e deixar as pernas por 3 minutos. Depois mais 1 minuto na água fria e assim por diante. Fazer essas trocas por um período de cerca de 20 minutos. Além dos benefícios do pedilúvio quente, esse pedilúvio alternado melhora a circulação sanguínea e a saúde dos vasos das pernas.

Ervas e substâncias naturais

Própolis em colméia (Wikimedia Commons)

Própolis - É uma das substâncias mais estudadas hoje em dia, devido às suas extensas e notáveis propriedades. É produzida e utilizada pelas abelhas para a vedação e, especialmente, para a proteção da colmeia contra a entrada de qualquer microrganismo patogênico. É um poderoso antibiótico natural de amplo espectro, que combate vírus, bactérias, protozoários, fungos (micoses) e outros. Estimula e reforça o sistema imunológico e fortalece organismo até mesmo contra o surgimento de tumores. Combate gengivites e até a formação de cáries. É também antisséptica, cicatrizante e antinflamatória: é excelente para cortes e feridas infeccionadas. Existem vários tipos de própolis e somente no Brasil pelo menos 12 tipos já foram estudados e classificados, segundo suas propriedades terapêuticas e composição química. Seu uso é simples e seus efeitos são rápidos. Usualmente, o própolis é vendido em extrato alcoólico, mas existe também em solução glicólica, extrato seco em cápsulas, em sprays, em pomadas para uso externo etc. É muito utilizada em infecções respiratórias (gripes, sinusites, otites, faringites e laringites etc), e atua em praticamente todos os tipos de infecções, pois substitui com grande eficácia os antibióticos sintéticos. Normalmente, toma-se cerca de 30 gotas diluídas em meio copo de água, 3 vezes ao dia, em qualquer tipo de infecção, sempre por um período mínimo de 7 dias.

Limão (Ticiane Rossi/The Epoch Times)

Limão - O mais comum e indicado é o limão Tahiti. É excelente para calor interno, inflamações em geral e o combate às febres. Desinflama o estômago, os intestinos e o fígado; melhora ou mesmo cura gastrites e alguns tipos de úlceras do aparelho digestivo (ao contrário da laranja e do abacaxi, que pioram). Melhora o excesso de calor no sangue, alcaliniza o sangue, revigora o sistema vascular e fortalece os vasos sanguíneos. Aumenta a imunidade e combate vários tipos de infecções. Fortalece o fígado. A forma mais simples de uso é tomar em jejum, pela manhã, 1 limão espremido, sem açúcar e aos goles. Espere de meia hora a 40 minutos para comer algo. Também pode-se começar com meio limão e ir aumentando a quantidade até chegar a vários limões. Se a quantidade superar a 3 limões, espere 1 hora para comer. Existe uma tratamento chamado a cura pelo limão, no qual a pessoa começa tomando 1 limão no primeiro dia e termina tomando 10 limões no décimo dia, para daí decrescer nos outros 9 dias até chegar a 1 limão e depois parar. É um tratamento radical e difícil, mas que cura pessoas de alguns severos problemas de saúde. Leia o livro: A cura pelo limão, alho, cebola e o mocotó, de Oberdan Masucci. Ed. Brasilivros.

Alho (Agência Brasil)

Alho - Um antibiótico natural de amplo espectro e pode ser utilizado em vários tipos de infecções, como nas infecções respiratórias, urinárias, gástricas, intestinais, em otites infecciosas etc. É também bom para o excesso de colesterol não saudável e para hipertensão arterial leve. Até para os animais é excelente: para o combate de pulgas, de parasitas intestinais, carrapatos e para prevenir doenças infecciosas. Cru e bem picado, pode ser acrescentado na comida dos animais diariamente (meio dente picado 2 vezes ao dia para cada 20 quilos de peso), ou, caso o animal não queira comer, pode ser misturado com requeijão ou qualquer comida apetitosa para o animal. O alho provoca maior acidez gástrica e portanto não deve ser usado pelas pessoas que têm gastrite ou úlceras no aparelho digestivo. Uso: amasse bem meio dente de alho e despeje meio copo de água em cima. Misture bem, coe e tome 3x ao dia, por um período médio de 7 a 14 dias, para as infecções agudas. Tome sempre após as refeições. Existe o óleo de alho, em cápsulas (inclusive na forma desodorizada – sem cheiro), que tem também um ótimo efeito. Tome 1 cápsula 3 vezes ao dia, por 7 a 14 dias para as infecções, e por 30 dias para reduzir o colesterol e a hipertensão leve. Para reduzir ainda mais o colesterol, podemos deixar de molho, por 1 noite, meio copo de berinjela crua picada, com meio dente de alho picado, coar pela manhã e tomar todos os dias, por 45 dias.

Cravo-da-índia (Ticiane Rossi/The Epoch Times)

Cravo-da-Índia - É analgésico, bactericida, antivirótico e antifúngico, combate os parasitas intestinais etc. Além disso é um tônico orgânico, melhorando as funções do baço (fortalecendo a digestão e diminuindo a diarreia crônica) e dos rins (melhorando o frio interno, diminuindo a urina clara e abundante, auxiliando na melhora da impotência masculina e da infertilidade feminina). É anticoagulante. Para dor e infecção dentárias pode-se pingar óleo de cravo sobre o dente afetado enquanto aguarda-se o tratamento odontológico. O óleo de cravo é um excelente fungicida: combate micoses nos pés e em outras regiões. Para as micoses nos pés, aplica-se o óleo diariamente nas regiões afetadas, e além disso, deve-se usar sapato aberto ou sandálias durante todo o tratamento. Enxugar bem entre os dedos é fundamental. Deixe os calçados no sol sempre que possível. Evitar o consumo de açúcar e de álcool. (Pode-se tomar cápsulas de alho – 3 vezes ao dia, de 21 a 30 dias, como coadjuvante no tratamento das micoses). Mas, sendo um óleo poderoso, tem que ser aplicado com cuidado, e o local onde foi aplicado não pode ser exposto ao sol enquanto o óleo não for retirado. O chá pode ser feito com vários cravos (um punhado) em 1 xícara de água e tomado 3 vezes ao dia, para os casos de digestão fraca ou estômago pesado (junto com o chá de gengibre e de erva-doce), impotência e frigidez. Não usar durante a gravidez.

Gengibre (Wikimedia Commons)

Gengibre – Expulsa o frio que penetrou no organismo (após uma chuva, um vento frio etc), é um eficiente anti-tussígeno (combate a tosse) e tira o frio dos pulmões; aquece e estimula a circulação (é muito bom para dores articulares que pioram pelo frio e pela umidade), desobstrui os vasos sanguíneos (combate a aterosclerose, é anticoagulante e antitrombótico); na Medicina Tradicional Chinesa (MTC) diz-se que aquece o baço; estimula a digestão e controla o vômito (junto com o chá de cravo-da-Índia); é um poderoso antitóxico (no caso de comermos comidas estragadas ou carne estragada); combate as fermentações e os gases intestinais. Pode ser comido cru, em fatias finas, temperado com um pouco de mel e limão ou ao natural. Pode ser feito na forma de chá: pique um pedaço do tamanho do seu polegar (com casca é melhor, se você tomou friagem ou ficou sob o ar-condicionado) e coloque para ferver por 3 a 5 minutos com 1 xícara e meia de água. Tome 1 xícara 3x ao dia, por 2 ou 3 dias nos casos de resfriamento, e por cerca de 30 dias para as dores articulares e doenças crônicas. É um bom coadjuvante no tratamento da aterosclerose. Pode-se agregar o cravo-da-Índia ao chá, e também tomar cápsulas de acerola (desobstruem os vasos e combatem a angina), consumir alho e cebolas cruas, tomar suco de uva-roxa natural e lecitina de soja. Todas essas substâncias têm efeitos comprovados no auxílio ao combate da aterosclerose. O gengibre pode ser usado como recurso imediato se você comeu alimentos estragados (especialmente carne): tome um chá forte de gengibre ou coma vários pedaços dele. E, claro, vá ao pronto-socorro, assim que possível. Na gravidez usar moderadamente.

Canela (Ticiane Rossi/The Epoch Times)

Canela - Aquece o sistema circulatório e impulsiona o sangue. Tira o frio profundo do organismo e aquece os órgãos (especialmente os rins) e as extremidades (mãos e pés). Facilita a menstruação e diminui os coágulos, e, em casos de pessoas com baixa energia e frio nos órgãos internos, melhora as cólicas menstruais e a fraqueza orgânica. Em casos onde a pessoa resfriou-se fortemente (ficou exposta horas ao vento-frio ou à chuva, ou nadando na água fria por longo tempo, ou ficou sob a neve forte etc) é muito útil tomar o chá de canela bem quente. Uma associação poderosa para combater friagem e resfriamento severo é tomar um chá combinado de canela e gengibre. Coloque o gengibre picado (com casca) para ferver, junto com alguns pedaços de canela em pau, por 3 a 5 minutos. Coe e tome algumas vezes ao dia. Não usar o chá de canela durante a gravidez.

Boldo (Jurema Oliveira/Wikimedia Commons)

Falso-boldo ou Boldo-brasileiro - Chamado Coleus barbatus, Plectranthus barbatus etc. É aquele pequeno arbusto de folhas verde-escuras, meio aveludadas, que as pessoas têm no jardim ou em vasos, do qual se faz um chá ou suco amargo para ressacas, cólicas, má digestão etc. Seu uso terapêutico está indicado para: má digestão, azia, fígado congestionado e cólica hepática, estimula a produção e a liberação de bile pela vesícula, para ansiedade e hipertensão leve, etc. Mas, se usado em grandes quantidades pode irritar o estômago, e por isso também não deve ser usado por quem tem gastrite ou deve ser usado com muita cautela. Pilar bem duas folhas frescas, despejar um copo de água, mexer bem, coar e tomar.

Erva-doce (Ticiane Rossi/The Epoch Times)

Erva-doce - Tem efeito digestivo (aquece o estômago) e carminativo (elimina os gases). É excelente para as cólicas abdominais, contração e dor nos testículos, dor nas virilhas, porque aquece e relaxa a musculatura. Bom para as cólicas infantis (pode-se associar com chá de hortelã). Também é muito bom para estimular a produção de leite da mãe durante o aleitamento.

‘Kalanchoe pinnata’ (Forest & Kim Starr/Wikimedia Commons)

Folha-da-Fortuna (Kalanchoe pinnata) – Existe em muito quintais e canteiros por todo Brasil. Tem folhas denteadas, carnudas e, em geral firmes. Tem inúmeras propriedades: é analgésica, antiinflamatória, antialérgica, cicatrizante, bactericida etc. Seus usos mais comuns são em: contusões, cortes, feridas, abcessos, queimaduras, picadas de insetos, erisipela, irritação ou inflamação dos olhos (Pode-se extrair o sumo das folhas e pingar diretamente nos olhos. Mas, nesses casos, procure um oftalmologista imediatamente), febres, gastrites, úlceras do aparelho digestivo, estomatites, aftas, etc. Para uso interno, basta pilar bem algumas folhas e usar o sumo diretamente, ou diluir em água filtrada e tomar. Em uso externo, machucar as folhas e fazer compressas no local.

Alecrim (Sean Gallup/Getty Images)

Alecrim - É uma erva tônica e estimulante leve. Fortalece e dinamiza a circulação sanguínea, melhora a memória, é antidepressiva, anti-estresse, antirreumática e antifadiga. Boa para os que estão cansados física e mentalmente (melhor ainda junto com chá de lavanda, hortelã e camomila). Facilita a digestão, combate gases e é antisséptica.

Hortelã (Ticiane Rossi/The Epoch Times)

Hortelã - É um erva refrescante por excelência, e portanto é um antitérmico suave. Alivia o fígado e a vesícula congestionados. Combate os gases e a má-digestão. Muito boa para o nervosismo e o cansaço mental (junto com chá de alecrim e lavanda). Relaxa a musculatura e alivia os espasmos musculares (boa para cãibras e espasmos gastrointestinais): junto com o chá de erva-doce é excelente para espasmos e cólicas abdominais (digestivas, intestinais e menstruais). É uma erva boa como expectorante (para catarro nos pulmões) e funciona muito bem junto com o gengibre, o guaco e o eucalipto para diversos distúrbios respiratórios. É antisséptica e junto com o alho combate infecções de diversos tipos: gastrointestinais, respiratórias, sinusites, otites, etc.

Capim-limão (Wikimedia Commons)

Capim-limão - O capim-limão é aquele de folhas finas e compridas, parecendo um mato bem viçoso. Muitas pessoas confundem o capim-limão (Cymbopogom citratus) com a melissa (Melissa officinalis), que é uma planta de folhas parecidas com as da hortelã, mas com uma textura mais áspera. A confusão não é casual, porque as duas têm odores semelhantes e princípios químicos e propriedades semelhantes. O capim-limão tem propriedades relaxantes e sedativas: combate a histeria, o nervosismo, a ansiedade e a insônia e tem leve efeito anti-hipertensivo. Também alivia dores e espasmos musculares e combate a febre. Facilita a digestão e combate os gases. Assim como a erva-doce, também estimula a produção de leite nas mães que amamentam. Não deve ser tomado em altas doses ou muito concentrado, porque pode ter um efeito sedativo e hipotensivo intenso, provocando moleza, pressão baixa e até desmaio. Usar com cautela e de forma suave na gravidez.

Extraído do sítio The Epoch Times

PERFIL DE UM MESTRE: CANALETTO - Michael Wing

Entrada para o Grande Canal; Olhando a Leste. 1744. Óleo sobre tela. Coleção Real, Reino Unido. (Olga’s Gallery)

Antes do advento da fotografia, a pintura de cenários era a maneira pela qual a sociedade comunicava as belas e interessantes vistas de terras distantes, talvez o equivalente de hoje a um slide show com fotos das férias.

Em outubro de 1697, o conhecido pintor de cenas Giovanni Antonio Canale, conhecido como “Canaletto”, nasceu em Veneza.

Ele provavelmente foi apelidado de “Canaletto”, que significa “pequeno Canale”, para distingui-lo de seu pai, Bernardo Canale, que era um pintor de cenários teatrais. Canaletto é bem conhecido hoje pelas vistas do cenário urbano (“vedute” em italiano) que pintou de Veneza, em especial do Palácio de Doges e do Grande Canal.

Como um jovem profissional, Canaletto começou sua carreira como aprendiz de seu pai, pintando cenários de teatro para a indústria teatral. Tal negócio levou o jovem artista a Roma para trabalhar em algumas produções de óperas.

Lá, ele provavelmente entrou em contato com as pinturas de Gian Paolo Pannini, conhecido por seus “vedute ideales” ou “visões idealizadas” (em oposição a “vedute estate”, que significa “vistas precisas”) das ruínas antigas e da arquitetura de Roma.

Pannini teve uma forte influência no trabalho de Canaletto, particularmente na forma como a arquitetura idealizada era descrita com tanta precisão.

Após seu retorno a Veneza em 1719, Canaletto veio estudar o estilo “vedutisti” (artista vedute) com Luca Carlevaris, e rapidamente o jovem estudante superou o nível de seu mestre. No início de sua carreira, Canaletto foi conhecido por ter participado das exposições públicas de arte de Veneza, uma tradição anual.

Foi lá que as pessoas começaram a tomar conhecimento de sua obra. Ele provavelmente exibiu sua pintura de Santi Giovanni e Paolo e a Scuola di San Marco, que como é dito, “deixou a todos maravilhados”. As qualidades inovadoras da pintura de Canaletto estavam começando a aparecer.

Canaletto nem sempre seguia a prática padrão de pintura no estúdio a partir de esboços, mas em vez disso, ele às vezes pintava em cena, ao ar livre, um costume que parece ter antecipado as práticas de movimentos artísticos mais contemporâneos, como o impressionismo.

Por isso, suas cenas têm uma qualidade de forte cor local. Como um agente de arte uma vez disse, ao recomendar o trabalho de Canaletto a um cliente, “como Carlevaris, mas você pode ver o sol brilhando nela”.

As figuras em suas paisagens urbanas parecem ter sido pintadas usando uma câmera escura, um recurso tradicional na pintura, que envolve a utilização de uma câmera escura ou caixa, onde uma figura ou objeto pode ser projetada através de um furo ou às vezes uma lente, para a tela a ser desenhada e depois pintadas.

Depois de sua primeira exposição pública, Canaletto recebeu reconhecimento imediato e, com isso, ganhou comissões de clientes locais, como o comerciante Stephano Conti, que encomendou Canaletto para pintar quatro fotos em 1725.

Naquele tempo, a carreira de Canaletto em Veneza começou a florescer e prosperou ao longo da década de 1730. Seu pai e seu sobrinho Bernardo Bellotto, treinado por Canaletto, provavelmente o ajudava em seu estúdio para acompanhar a demanda.

Além de comissões locais, foi o mercado turístico britânico que manteve o estúdio de Canaletto ocupado. Turistas muito ricos, muitas vezes jovens ingleses, em números estáveis ​​visitaram Veneza durante seu Grand Tour pela Europa. Esse passeio era basicamente uma peregrinação de um estudioso pela Europa (geralmente a Roma) para cavalheiros jovens e educados (às vezes com fundos quase ilimitados).

Eles estavam em busca de “arte, cultura e as raízes da civilização ocidental”. Ao longo do caminho, objetos de arte e cultura foram muitas vezes comprados e enviados para a Inglaterra. Em particular, eles procuraram pinturas de cenas de famosos marcos venezianos, como o Grande Canal, a Igreja da Salute, e o Palácio dos Doges.

Muitas vezes, os agentes de artistas apresentavam os artistas locais ou encomendava obras de arte em nome do visitante. Um tal agente, Joseph Smith, um colecionador de arte britânico (que mais tarde se tornou o cônsul britânico de Veneza em 1744), foi talvez a pessoa mais importante na carreira de Canaletto.

Smith não apenas conseguia comissões de aristocratas britânicos, mas também era um grande colecionador dos trabalhos de Canaletto.

Londres: o Tâmisa e a cidade de Londres, vistos de Richmond House. 1747. Óleo sobre tela. Curadores da Goodwood House, West Susses, Reino Unido. (Olga’s Gallery)

O vigor com que a carreira do artista começou desacelerou em 1741, quando a Guerra da Sucessão Austríaca começou. Embora o turismo em Veneza tenha diminuído, Smith continuou a encomendar trabalhos de Canaletto, particularmente pinturas das antigas ruínas de Roma.

Canaletto produziu obras como “Roma: O Arco de Tito” e “Roma: o Arco de Constantino” como resultado. Porém, no final, não foi o suficiente. Então, em 1746, Canaletto se mudou para Londres, para se localizar mais próximo de seu mercado.

O artista permaneceu em Londres de forma intermitente por quase uma década e produziu pinturas de pontos históricos de Londres como havia feito em Veneza. Através de Smith, Canaletto foi capaz de se conectar com os clientes aristocráticos, como o Duque de Richmond.

O duque encomendou, do artista, diversas vistas de Londres, como “London: Whitehall e o Jardim Privado de Richmond House” e “Londres: Tâmisa e a cidade de Londres de Richmond House”

Essas cenas estão entre os melhores trabalhos do artista em Londres. É evidente, no entanto, que houve uma redução notável da qualidade do trabalho de Canaletto durante este período, possivelmente o resultado do trabalho de seus assistentes. Algumas pinturas de Canaletto parecem repetitivas e mecânicas. Consequentemente, teve um impacto negativo em sua reputação.

Canaletto quis retornar à Veneza em 1755 e retomou a pintura para o mercado turístico. De um modo geral, o primeiro trabalho de Canaletto é considerado como o melhor e mais vívido, enquanto que trabalhos posteriores são menos marcantes.

No entanto, Canaletto teve reconhecimento em Veneza por contribuir com suas ‘vistas ideais’ a serem apreciadas no mundo, ao pintar pontos famosos em um estilo que foi ao mesmo tempo, preciso e idealizado.

Finalmente, em 1763, ele foi eleito para a Academia de Veneza. Para sua peça de recepção Canaletto enviou “Capricho da abertura colunata para o pátio do palácio”, que foi concluída quase dois anos mais tarde.

Em 10 de abril de 1768, Canaletto morreu de febre aos 71 anos.

Extraído do sítio The Epoch Times

30 de dezembro de 2012

UM ACORDO SOBRE O QUAL - Ruy Castro


O governo adiou para 2016 a obrigatoriedade de uso no Brasil do novo “acordo” ortográfico, marcada inicialmente para 1º de janeiro de 2013. Ou seja, de nada serviu a pressa dos nossos jornais e livros para aplicar o “acordo” assim que ele botou a cabeça de fora, em 2009. Com isso, pelos próximos três anos, quem quiser escrever “lingüiça”, “qüinqüênio”, “idéia”, “contra-regra” e “vôo” em vez de “linguiça”, “quinquênio”, “ideia”, “contrarregra” e “voo” poderá fazê-lo sem tirar nota vermelha na escola.

Para mim, nada se alterou. Não aderi ao “acordo” e continuo a produzir textos com os arcaicos tremas, circunflexos e hifens de sempre. Se os artigos saem bonitinhos na nova ortografia, é porque os editores e revisores dos jornais e livros de que participo os “corrigem” por mim. Não que eles também não façam duras restrições ao “acordo”. Posso até garantir que não concordam com o fim dos acentos em “pára” (do verbo parar), “pêlo” e “pólo” -sobre o que, aliás, não foram consultados.

Para quê?

Nem eles, nem os professores, os escrivães, os secretários de reuniões de condomínio, os juízes de futebol (que têm de escrever as súmulas dos jogos que apitam), os autores de róis de roupa em lavanderias e qualquer pessoa que viva de escrever no dia a dia. Segundo sei, nenhum desses profissionais da língua foi ouvido sobre se concordava com os desenxabidos “leem” e “veem” no lugar de “lêem” e “vêem”.

Algo me diz que a razão desse adiamento é para tentar convencer os portugueses a aderir ao “acordo” e abrir mão do “c” e do “p” em “facto”, “direcção”, “óptimo”, “Egipto” – letras que influem na sua pronúncia dessas palavras. Mas para que unificar a ortografia se suas pequenas variantes são perfeitamente compreensíveis nos dois lados do Atlântico?

E que “acordo” é esse sobre o qual ninguém concorda?

Ruy Castro é jornalista, colunista da Folha de S.Paulo.

** Reproduzido da Folha de S.Paulo, 22/12/2012.

Extraído do sítio Observatório da Imprensa

RICHARD WAGNER E O SEXO FRÁGIL - Corina Kolbe


Não era fácil ser uma mulher na vida de Wagner. Afinal, além de inconstante, o gênio era um grande sedutor. Especialistas da Staatsoper de Berlim pesquisaram os traços que elas deixaram em sua obra e biografia.

"A música é uma mulher", constatou Richard Wagner em seu escrito Ópera e drama. Seu organismo "apenas dá à luz, mas não gera; a força geratriz está fora dele". Só quando fecundada pelo pensamento do poeta, a música produz a "verdadeira e viva melodia", afirmava o compositor e dramaturgo.

Para Wagner, arte e vida privada sempre estiveram intimamente entrelaçadas. Por isso, não é de admirar que a posteridade veja não só suas personagens femininas, mas também as mulheres reais em sua vida, como abnegadas servidoras do homem. Por amor ao maestro, elas teriam posto de lado os próprios interesses. No entanto, num simpósio da Staatsoper de Berlim, especialistas wagnerianos apresentaram facetas completamente diferentes.

Minna, a primeira

Minna Planer nasceu na região do Erzgebirge e na juventude foi uma atriz de grande êxito. O compositor esteve casado com ela durante 30 anos. Uma relação com muitos altos e baixos, abalada por aventuras amorosas e dificuldades financeiras crônicas, que pioravam cada vez mais devido ao estilo de vida opulento de Wagner. Após o casamento em 1836, na cidade de Königsberg, Minna seguiu com o marido para Riga, de onde, três anos mais tarde, partiram para Londres e Paris, fugindo dos credores.

Minna Wagner e o cãozinho Peps (Aquarela de Clementine Stockar-Escher, 1853)
A imagem que se impôs de Minna foi a de uma mulher firme e maternal, totalmente dedicada a Wagner, mas que não conseguia acompanhá-lo intelectualmente. A jornalista de música Dorothee Riemer, porém, observa que deve ter havido um intercâmbio mais intenso entre os dois: mais de 400 cartas trocadas entre os cônjuges chegaram até nós.

"Wagner considerou mais tarde seu primeiro casamento como um engano de juventude, mas afirmou também que não poderia viver sem Minna", explica Riemer. "Afinal de contas, ele concebeu ao lado dela todas as óperas, exceto Parsifal."

Ao que tudo indica, Wagner não teve a menor consideração pela forte necessidade de segurança material de Minna. Ao participar em 1849 da Revolta de Maio em Dresden, ele perdeu o invejável cargo de mestre de capela da Saxônia, passando a ser procurado pela polícia. Em Zurique, onde encontrou asilo, o casamento foi submetido a mais uma prova de fogo.

Mathilde, a musa

Em Mathilde Wesendonck, a esposa de um rico mecenas, Richard Wagner encontrou uma alma gêmea e fonte de inspiração para o seu trabalho. "A Musa de Wagner teve uma intensa participação na criação de O Ouro do Reno", explica Detlef Giese, assistente teórico da Staatsoper de Berlim.

Mathilde Wesendonck (óleo de Karl Ferdinand, Filho, 1850)
"Além disso, ele musicou cinco poemas escritos por ela, hoje conhecidos como Wesendonck Lieder." O compositor dedicou a Mathilde o prelúdio de A Valquíria, e inspirou-se no próprio triângulo amoroso com Minna e Mathilde para a ópera Tristão e Isolda.

A relação provavelmente apenas platônica entre ele e a autora, que também tocava piano, tornou-se tão estreita que acabou separando o casal Wagner. Quando Minna interceptou uma carta eufórica dedicada a Mathilde, Wagner se viu forçado a fugir novamente, dessa vez para Veneza. Apesar de todas as escapadas, Otto Wesendonck seguiu financiando o compositor e apoiou seu projeto de construir um teatro de ópera na cidade de Bayreuth.

Após o fracasso das relações com Minna e Mathilde, Wagner aproximou-se de Cosima von Bülow, filha ilegítima do pianista e compositor Franz Liszt e a condessa francesa Marie d'Agoult. Segundo aponta seu biógrafo Oliver Hilmes, Cosima, na época ainda casada com o regente Hans von Bülow, tornou-se amante e empresária de Wagner.

Foram anos de prosperidade financeira, graças ao generoso apoio de Ludwig 2º, rei da Baviera. Quando os dois finalmente celebraram matrimônio em 1870, já tinham três filhos juntos: Isolde, Eva e Siegfried. Com este, Cosima fundaria mais tarde a dinastia de Bayreuth.

Cosima, senhora da Colina Verde

Cosima e Richard Wagner
Hilmes descreve a segunda esposa de Wagner como uma pessoa dominante e fria que, por exemplo, exigiu impiedosamente dos proprietários a devolução dos manuscritos presenteados pelo compositor. Beatrix Borchardt, professora da Escola Superior de Música e Teatro em Hamburgo, compara Cosima a Clara Schumann: "Ambas conseguiram estabelecer um perfil público próprio e deixaram claro o quanto participaram da obra dos maridos", afirma.

Após a morte de Richard Wagner em 1883, Cosima assumiu a direção do festival na Colina Verde e fez de Bayreuth uma atração para a alta sociedade. Wagner não havia deixado nenhum testamento ou qualquer indicação sobre o futuro do festival.

Sua viúva transformou o experimento numa instituição e estabeleceu os alicerces para o culto wagneriano, colocando sua vida totalmente a serviço da obra musical do esposo. Voltada para o poder e apta a agir de forma independente, Cosima sacrificou com toda consequência a própria identidade, a fim de preservar a memória pública de um gênio criador.

Extraído do sítio Deutsche Welle

OS CINCO ELEMENTOS E O CORPO HUMANO - Kan Zhong Guo

A filosofia chinesa identifica os cinco elementos como as cinco maneiras diferentes de manifestação do Qi no universo (KanZhongGuo.com)

Na medicina chinesa, o corpo humano é dividido em cinco sistemas: madeira, fogo, terra, metal e água. Órgãos e tecidos humanos correspondem aos cinco elementos. Os cinco sistemas do corpo não apenas automaticamente regulam a si mesmos de acordo com as leis do yin e yang, mas também se coordenam com os cinco elementos do mundo exterior, a fim de alcançar a saúde.

No mundo exterior, as pessoas reagem a algumas coisas como o clima, cor e som. [Todos os quais correspondem a algum dos cinco elementos.] As estações do ano são primavera, verão, outono e inverno. As cores são vermelho, amarelo, branco, preto e verde. As notas são dó, ré, fa, sol e lá. Até mesmo elementos morais e éticos correspondem aos cinco elementos. Por exemplo, a benevolência é madeira, a justiça é ouro (metal); decoro é água, sabedoria é fogo; confiança é terra.

Há cinco janelas conectando o mundo exterior aos principais sistemas do organismo. A medicina tradicional chinesa as chama de “aberturas” ou “bocas.” A janela para o baço, é a boca. Para o pulmão, é o nariz. Para o fígado, são os olhos. Para o coração, é a língua. Para os rins, são os ouvidos. Os seres humanos aprendem sobre o mundo exterior através desses orifícios. A relação entre os cinco sistemas e os cinco elementos é a seguinte:

Cinco elementos: terra, metal, madeira, fogo e água.
Cinco orifícios: boca, nariz, olhos, língua e orelhas.
Cinco cores: amarelo, branco, verde, vermelho e preto.
Cinco notas: dó, ré, fa, sol, e lá.
Cinco órgãos internos: baço, pulmões, fígado, coração e rins.
Cinco órgãos ocos: estômago, intestino grosso, vesícula biliar, intestino delgado e bexiga.
Cinco princípios: confiança, justiça, decoro, sabedoria e cortesia.

As cinco cores, as cinco notas e os cinco princípios, todos transmitem a mesma coisa: só quando as notas são puras é que podem inspirar as pessoas a se conectar com o Tao e despertar a consciência.

Como os cinco elementos afetam uns aos outros? Por exemplo, o metal é a filha da terra, que tem o fogo como seu pai. Os súditos da Terra são água e seus guardiões são madeira. Se todos esses fossem empregados em uma relação metafórica de seres humanos, ficaria assim: um homem virtuoso é amoroso e gentil com seus filhos, honra seus pais, se preocupa com seus súditos, e é um guardião sincero e justo.

Cada elemento está intimamente relacionado aos outros quatro elementos. Por exemplo, quando as orelhas, os orifícios dos rins ouvem uma música maravilhosa, os outros quatro órgãos também se beneficiam. Quando os olhos veem algo elegante, os outros quatro órgãos compartilham a beleza. Quando os significados internos dos sons e das cores passam através dos órgãos internos, eles despertam nossos elementos morais. Em outras palavras, eles ajudam o indivíduo a seguir os princípios universais e se comportar como um ser humano justo.