23 de maio de 2012

BANCA DA REPÚBLICA VENDE CULTURA HÁ 25 ANOS

Local é referência no bairro Cidade Baixa. Foto: Arquivo pessoal Fausto Mantovani/JC

Nos últimos 25 anos a Cidade Baixa, tradicional reduto boêmio da Capital, sofreu diversas transformações em sua paisagem. No entanto, durante todo esse período, os frequentadores do bairro sempre puderam contar com um marco cultural: a Banca da República. Localizada na esquina da Rua da República com a avenida João Pessoa, o local é um tradicional ponto de venda de revistas, jornais, colecionáveis e outros itens, muitos dos quais praticamente não são comercializados em outros pontos de venda na Capital. 

A abertura da banca no bairro surgiu por acaso. Natural de São Paulo (SP), o revisteiro Fausto Mantovani veio para o Rio Grande do Sul em 1986, depois que a família da esposa, que é gaúcha, retornou para o Estado.

Inicialmente, investiu na venda de crepes e sanduíches naturais em Tramandaí. No entanto, o projeto não deu certo. Já na Capital, decidiu investir na venda de revistas. Mas para isso era preciso encontrar o ponto ideal. Foi quando, ao visitar a Cidade Baixa, viu uma oportunidade em uma banca que estava à venda na esquina da Rua da República com a avenida João Pessoa. “Olhei a região, com um parque enorme na frente, que garantia gente em volta no fim de semana. Também havia a proximidade da universidade (Ufrgs), onde há cultura, e tem tudo a ver com livros e revistas.”

Naquela época, o ponto não era considerado atrativo. O local estava fechado havia quatro anos. “Quando me apresentei na distribuidora comentaram ‘aquela banca na Cidade Baixa é horrível, está há quatro anos para ser vendida’, me apavoraram”, lembra Mantovani.

A banca foi aberta no dia 1 de abril de 1987. A data escolhida não escapou do humor de Mantovani. “Na época eu disse, ou isso aqui dá certo ou vira mesmo uma piada.” Mas, para garantir o sucesso do ponto, o revisteiro buscou mudar os hábitos dos frequentadores. “Percebi que o pessoal aqui tinha outro ritmo de vida. Não havia bancas que abriam aos domingos ou feriados, até hoje são raras.” O empreendedor resolveu então investir nesse nicho, ficando aberto o ano todo. “Meu lema era ‘Banca da República, informação todos os dias’. E eu mantenho essa filosofia de trabalho.”

Outro diferencial que encantou os frequentadores foi a grande oferta de produtos disponíveis. “Naquela época o jornaleiro chegava na distribuidora, escolhia as revistas e comprava apenas as que tinham boa saída. Mas eu disse para as empresas que queria tudo. Não importa se tem pouca venda, se existe uma pessoa que gosta de um produto específico, e ele só acha na tua banca, vai ser sempre teu cliente.”

A quantidade de produtos ofertados é realmente elevada. Segundo Mantovani, a banca trabalha com 7 a 10 mil títulos. “O giro de banca é impressionante, sai uma média de 50 a 80 títulos por dia e chega a mesma quantidade, isso apenas em termos de revistas.” Mas a variedade também inclui CDs, colecionáveis, apostilas de concursos, cigarros, doces, entre outros produtos.

É justamente a diversidade de ofertas que as bancas possuem atualmente que Mantovani considera a maior mudança que ocorreu em seu trabalho nestes 25 anos. “Antigamente não havia uma revista de História, hoje tem dez. Existem duas sobre Sociologia, quatro ou cinco de Filosofia, Psicologia, segmentos que não haviam em banca.” Conforme o revisteiro, essa grande segmentação é uma prova do valor da palavra impressa, em tempos em que mídias virtuais fazem sucesso.


Local terá novo formato inspirado em Barcelona e Nova Iorque

A primeira Banca da República era pequena, com 45 centímetros por 1,5 metro. Mas com o tempo outros equipamentos foram adquiridos para tornar o local mais moderno. “Nunca passei mais de cinco anos sem investir num novo espaço”, lembra Mantovani.

Ainda para 2012, o revisteiro já planeja uma nova modificação na banca. A negociação, que envolve exploração do espaço para mídia exterior, está sendo feita com a empresa Synergy, que fornece materiais de mobiliário urbano. O novo espaço prevê um equipamento com painéis luminosos, inspirado nas bancas de Barcelona e Nova Iorque. A mudança deve acontecer até o segundo semestre. 

Para Mantovani, o investimento faz parte de sua vontade de prosseguir com o negócio, vendendo cultura para os porto-alegrenses. “Daqui a mais 25 anos espero estar naquela esquina, por que gosto mesmo do que eu faço."


Extraído do sítio Jornal do Comércio

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