24 de maio de 2012

ESCRITORES RESISTEM AO ACORDO ORTOGRÁFICO - Sérgio Almeida

José Manuel Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Escritores (APE)
Se dependesse do meio literário português, o Acordo Ortográfico não sairia do papel tão cedo. Apesar de o tratado já estar em vigor, a grande maioria dos escritores resiste em adotar a nova grafia.

Em vigor no ensino, nas instituições oficiais e na maioria dos órgãos de comunicação social, o Acordo Ortográfico (AO) não goza de idêntica popularidade entre os escritores.

Apesar de as principais editoras já seguirem o AO, o levantamento feito pelo JN junto de alguns dos dos mais destacados autores portugueses não deixa dúvidas: pelo menos dois terços não o aplicam e nem fazem tenção de fazê-lo tão cedo.

Razões para essa recusa não faltam, mas José Manuel Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Escritores (APE), destaca a “linha de resistência seguida por aqueles que detetam no Acordo erros de natureza técnica e no risco de uma perigosa deriva da língua”. Mas o professor universitário e poeta reconhece também que há também quem não siga o A0 por uma questão de inércia: “Habituaram-se toda a vida a escrever de uma determinada maneira e acham que não é agora que vão mudar”.

Um dos motivos que contribuiu para a resistência generalizada do meio literário à adoção das novas regras ortográficas foi a “forma obscura, leviana e arrogante” como o processo de implementação foi seguido, acusa José Jorge Letria. O escritor dá como exemplo dessas falhas a ausência de quaisquer contactos oficiais com a instituição a que preside, a Sociedade Portuguesa de Autores. “Que tratado é este que não leva em conta a opinião dos principais obreiros da língua?”, questiona.

Os mais ativos na defesa da antiga grafia falam na necessidade de uma revisão urgente dos pontos mais polémicos do tratado, alegando que este, aprovado há 22 anos mas só agora em vigor, já se encontra “fora de prazo”:

A recente tomada de posição de Vasco Graça Moura de suspender a aplicação do Acordo no Centro Cultural de Belém foi encarada como um sinal de esperança, mas é o próprio presidente da SPA que reconhece “ser difícil agora travar a dinâmica gerada em redor do Acordo”, pelo que receia que este seja já “uma inevitabilidade”: “Seria preciso que houvesse uma vaga de protestos muito grande para que fosse colocado em casa".


Extraído do sítio Jornal de Notícias 

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