25 de maio de 2012

"ESSA FRASE NÃO É MINHA", DIZ CLARICE LISPECTOR, DO ALÉM - Marco Antonio Araújo

Um fantasma ronda as redes sociais. Deve ser alguma alma penada, provavelmente de um escritor frustrado e bem ruim. Ele quer destruir a reputação de autores honestos e jogar suas obras dignas na vala comum do Facebook.

Numa extenuante pesquisa feita pelo DataProvocador, foi possível aferir que as principais vítimas desse terrorista literário são Clarice Lispector e Caio Fernando Abreu, transformados, à revelia, em versões humilhantes de Gabriel Chalita e Paulo Coelho. Uma profanação.


Pululam na internet milhares de falsas citações constrangedoras, escritas em português lamentável, propagando pensamentos primários, conselhos cafonas, lugares comuns e chavões carcomidos pela ignorância. Só pode ser um ataque orquestrado, coisa da CIA ou do Talibã, tanto faz. As consequências são devastadoras.

O efeito que esses atentados causa no moral dos brasileiros já pode ser sentido. As novas gerações estão se tornando incapazes de discernir entre uma obra-prima, um raciocínio elegante, uma ideia autêntica e o lixo cultural gerado por entulhos de livros de autoajuda. Terra arrasada.

Logo mais, veremos Luís Fernando Veríssimo dando dicas de maquiagem. Chico Buarque assinará um artigo defendendo a poética de Michel Teló. Saramago vai revelar o segredo de Fátima. Imagine essas heresias replicadas, retuitadas, curtidas e encravadas no inconsciente coletivo? Danos irreparáveis.

Precisamos redobrar a atenção quando postarmos uma poesia, uma frase, uma citação. Qual a fonte? Será que Fernando Pessoa diria: "todas as manhãs, ao acordar, agradeço a Deus por mais um dia e prometo a mim mesmo que serei feliz"? Bertolt Brecht seria capaz de pedir à humanidade que "trate bem os animais e exija que os políticos matriculem seus filhos em escolas públicas"? Convenhamos.

Não sei dizer o motivo sórdido que leva alguém a, na calada do anonimato, sem nenhum lucro pessoal, espalhar por aí tanta mediocridade, ainda mais acobertado por nomes íntegros que nos legaram pensamentos corajosos, doloridos, imortais. É muita covardia. Por favor, não participem, não sejam cúmplices desse funeral.


Extraído do Blog O Provocador

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