29 de maio de 2012

COM LÍNGUA "AFIADA", ARIANO SUASSUNA DEFENDE A CULTURA POPULAR BRASILEIRA



Aos 85 anos, com "fé, esperança e capacidade de lutar", o poeta, dramaturgo e romancista Ariano Suassuna distribuiu críticas ao que considera uma cultura de baixa qualidade e defendeu, por uma hora e 20 minutos, a cultura genuinamente brasileira na 12ª Feira Nacional do Livro em Ribeirão Preto (313 km de SP), neste sábado.

O escritor, reconhecido pelo romance "A pedra do Reino" e a peça "O Auto da Compadecida" falou sobre "Raízes Populares da Cultura Brasileira" no Theatro Pedro 2º.

Citando Bethoven, Kant e Platão, e apresentando à plateia o filósofo e escritor Matias Aires, além de diversos autores de cordel, Suassuna criticou a Banda Calypso e o culto ao brega, a cantora norte-americana Lady Gaga e a falta de conhecimento dos brasileiros sobre o que é do Brasil.

"Eu não tenho poder político nem econômico, mas tenho uma língua afiada", disse, arrancando gargalhadas da plateia.

Para ele, todos conhecem os artistas e filósofos de fora do país mas não os do Brasil.

ARTE

Apresentando em slide um cartaz de uma exposição de 1979 no Museu de Arte de São Paulo, em que estava escrito "Arte no Brasil - Uma História de Cinco Séculos", Suassuna discorreu sobre o preconceito com a arte brasileira e indígena.

"Dizer 'Arte no Brasil' implica dizer que não tem 'arte brasileira'. Contar a história em cinco séculos é esquecer que antes havia os índios --e com eles, o teatro, a pintura, a escultura', falou.

MÚSICA E POESIA

O escritor, poeta e dramaturgo alternou letras da Banda Calypso com a literatura de cordel.

Para ele, falta criatividade nas músicas que têm sucesso atualmente. "Um verso da Banda Calypso diz: 'Se você quiser me conquistar vai ter que suar'. E achando isso maravilhoso, faz variações: 'vai ter que rebolar', 'vai ter que balançar'. Que falta de criatividade", falou.

Comparando os versos, declamou em seguida uma glosa (desafio poético com base em um mote, com rimas variando conforme as estrofes).

"Na vida material, cumpriu sagrado destino. O filho do Deus divino nos deu glória espiritual. Deu o bem, tirou o mal, livrando-nos da má sorte. Padeceu suplício forte, como o maior dos heróis. Morreu dando a vida a nós. A vida venceu a morte". Foi aplaudido.

CRÍTICAS

O escritor não se constrangeu em fazer críticas tão explícitas. "Só sou contra falar mal na frente dos outros. Constrange quem ouve e quem fala", brincou.

Continuou afiando a língua. "Eu não digo que eles vão me ouvir [criticando] até morrer, porque eu não pretendo morrer (risos). Mas eles morrerão e vou fazer discurso na cova deles. Miseráveis, corrompendo o gosto brasileiro", disse.

Suassuna terminou a conferência com um vídeo chamado "Toré", que mostra um balé inspirado em um ritual indígena. E disse: "Essa é a alternativa para essa música e dança de quarta categoria que estão nos enfiando por goela abaixo." Foi aplaudido de pé.

ATRASO

A conferência de Ariano Suassuna atraiu cerca de 1.500 pessoas ao Theatro Pedro 2º, em Ribeirão Preto.

A procura por um lugar para assistir ao escritor foi tanta que alguns participantes invadiram os camarotes privados do teatro, que é tombado pelo patrimônio histórico.

Uma jovem da organização tentou conter o público.

"Isso aqui é um patrimônio histórico. Vocês estão pulando [as divisórias entre os camarotes] como se fossem indigentes", disse ao microfone no palco.

Ela foi vaiada enquanto o público gritava "abre a porta" pedindo que os camarotes fossem liberados e, assim, se evitasse a invasão.

Um dos participantes, sentado na plateia, ironizou: "São vândalos mesmo, sedentos por cultura", disse, rindo.

A conferência de Suassuna começou com 25 minutos de atraso e com todos os camarotes lotados --inclusive os que foram invadidos.


Extraído do sítio Jornal Floripa

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários serão moderados. Não serão mais publicados os de anônimos.