28 de maio de 2012

LITERATURA OU LEITURA? - BRINCADEIRA! - Francisco Miguel de Moura



Parece uma questão tola, mas não é. Tudo o que se lê é literatura? Uma pessoa que se dê o hábito de ler apenas os “out doors” da cidade, desde os sinais de trânsito, placa de carro e inscrições de nomes e propagandas comerciais, industriais etc. seria um leitor na verdadeira expressão da palavra? Ou, por outro lado, alguém que tenha a mania de ler apenas os livros chamados de auto-ajuda, atendendo aos apelos da “mídia”, tais como “Por que as pessoas odeiam seus chefes”, “Por que as mulheres amam os homens fortes”, “Deixe os homens a seus pés”, “Afinal, que querem os homens?”, “Mulheres de sucesso querem poder... Amar”, “Por que os homens amam as mulheres poderosas?”, “Como ser um vendedor de sucesso”, “Por que o homem faz sexo e as mulheres fazem amor?”, “Nunca desista de seus sonhos”, “Como fazer amigo e influenciar pessoas”, "Como evitar preocupações e começar a viver”? 

Seria um nunca acabar, se fosse citar também o nome dos autores, não haveria espaço para esta matéria. No capítulo de “como fazer” isto e aquilo, com relação a coisas práticas, de necessidade urgente: como criar seu cão, como melhorar o seu visual, como fazer exercício em casa, como... A lista seria enorme. São da conta dos leitores acidentais, leitores de auto-ajuda: recebem informações banais, sem comprovação, sem bom trato com a língua e os sentimentos profundos da alma.

Literatura existe, a leitura é o reino da liberdade, porém quando se trata de uma de uma leitura de verdade, não apenas passatempo ou auto-ajuda. Literatura é literatura, leitor é leitor, isto é, aquele que pega um livro e o lê por prazer, seja Dostoiévski, Tolstói, Balzac, Flaubert, e os nossos clássicos, a partir de José de Alencar a Machado de Assis. E também O. G. Rego de Carvalho e Assis Brasil, os dois últimos, da atualidade. Quem não gosta de romances, que leia contos, poesias, crônicas em livros, principalmente. Eis o que diz o grande orador Pe. Antônio Vieira sobre o verdadeiro livro: “O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive”. Revistas e jornais também publicam, de vez quando, literatura. E nessas leituras, importa o assunto, a expressão, o sentir e o ser que procuram na natureza humana, através da vida de ficção.

Dizem que nunca se leu tanto como agora. Referem-se aos “blogues” e “saites” da“internete”. Entretanto, o número de leitores visível resulta menor, se se fizer o cálculo pela venda de livros. A literatura não é comercial; a subliteratura, sim.

Estudantes também estudam muita matéria técnica pela “internete” e pelas apostilas reproduzidas aos milhares, por “xeroxes” possantes. Explicando: A consulta a um dicionário não faz um leitor, é no máximo um consulente. Quem estuda a gramática é um estudante das regras da língua, também não seria um leitor, se tem ojeriza aos textos, às antologias, assim como quem estuda o código penal, se não lê e escreve ensaios significativos.

Há também um tipo de leitura forçada nas escolas, em livros de literatura dita infantil e juvenil. Mas, literatura infantil seria a escrita por crianças e literatura juvenil, aquela feita por jovens. E logo que são obrigatórias, não se trata de uma leitura livre, portanto se descaracteriza neste ponto. É talvez uma leitura social, não a que liberta, ensina, agrada, completa uma personalidade. 

* Francisco Miguel de Moura, Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras, escreve no jornal O DIA, página de Opinião, aos sábados.


Extraído do blog A Bodega do Camelô

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