21 de abril de 2013

USO NOCIVO DE ÁLCOOL AUMENTA 31,1% NO PAÍS - Fernanda Aranda

Em seis anos, taxa de pessoas que bebem mais de quatro doses por ocasião pulou de 45% para 59%. Mulheres são responsáveis pela alta.

Uma nova pesquisa divulgada nesta quarta-feira (10) pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostra que entre 2006 e 2012 aumentou em 31,1% o uso nocivo de álcool na população brasileira, comportamento que eleva o risco de doenças crônicas e também a vulnerabilidade à violência urbana.

Os dados fazem parte do segundo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad) que investigou os hábitos etílicos no País, por meio de 4.607 entrevistados maiores de 14 anos, de todas as regiões do Brasil.

Os novos dados apontam que apesar do número de pessoas que bebem não ter aumentado no período – a taxa de bebedores permaneceu estável em 52% – o consumo entre os que admitem beber está mais alto, chamado pelos especialistas de “heavy drinking” (beber pesado).

“Beber pesado” ou “heavy drinking” é um padrão de consumo descrito quando os homens bebem mais de cinco doses e as mulheres mais de quatro copos de pinga, vodca, cerveja, uísque ou vinho quando decidem beber. Eles não entram na classificação de dependentes de álcool, mas isso não significa que esta parcela esteja isenta de complicações sociais e na saúde, afirmam os especialistas.

Impactos sociais do álcool

Além dos riscos de doença e de exposição à violência, a bebida também prejudica a vida social.


Pesquisas anteriores já alertaram que este padrão de consumo, ainda que realizado uma vez por semana e não diariamente, é suficiente para intoxicar o organismo e ser gatilho de tumores, transtornos de humor e falência do fígado entre outros problemas.

Por isso, os autores do Lenad disseram estar alarmados com os novos números e não comemoraram o fato do índice de dependentes de álcool ter permanecido em 17% nos últimos seis anos.

Mulheres

Elas foram as maiores responsáveis pela elevação deste padrão de consumo do álcool que, segundo os especialistas, torna os consumidores mais predispostos a doenças crônicas do fígado, câncer e depressão, por exemplo, além de estar associado ao aumento de violência doméstica, dos acidentes de trânsito, das brigas e dos suicídios.

Entre elas, o índice de ‘heavy drinking’ atestado nas bebedoras saiu de 36% em 2006 para 49% em 2012 – aumento porcentual de 36,5%. Já nos homens, a variação foi de 29,4%, passando de 51% para 66%.

Para a pesquisadora Ilana Pinsky as mulheres ficaram mais exposta às pressões do mercado de trabalho, ao estresse e também passaram a ser alvo da publicidade de bebidas, especialmente da cerveja, o que pode justificar o maior aumento do consumo feminino.

Violência

Clarice Sandi Madruga, uma das coordenadoras do Lenad, afirmou que a ligação do uso problemático de álcool e dos episódios violentos ficou evidente com a nova publicação.

“Só um exemplo é o envolvimento em agressões físicas. Na população geral, o número de pessoas que brigaram no último ano foi de 2,6%. Já entre os homens que bebem de forma perigosa sobe para 27%”, citou.

“Entre os 6% que relataram terem sido vítimas de violência doméstica, metade disse que o agressor estava embriagado no dia da agressão. Nosso estudo indica ainda que 5% dos brasileiros já tentaram suicídio, parcela que sobe para 41% entre os bebedores problemáticos”, pontuou a especialista.

Renda e políticas

Para o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, um dos autores do estudo e um dos maiores pesquisadores do uso de álcool da América Latina, são duas as explicações para os novos números.

“A primeira delas é que o aumento de renda da população pode explicar o agravamento do hábito de beber”, avalia.

“Atestamos que a quantidade de abstêmios não foi alterada (ficou em 48%), mas aqueles que já bebiam estão bebendo mais doses, investindo mais dinheiro em bebida, o que é muito perigoso para a saúde”, explica.

“A segunda questão é que a falta de políticas públicas para desestimular o uso de álcool ficou evidente. A única existente no País é focada em coibir o ato de beber e dirigir. Mas é preciso investir em modelos, conforme preconiza a Organização Mundial de Saúde, que elevem o preço das bebidas, diminuam os postos de venda e o horário de funcionamento dos estabelecimentos, sem esquecer a regulamentação da publicidade do álcool”, afirma Laranjeira.

Lei Seca

A boa notícia é que a chamada Lei Seca, em vigor no País desde 2008 e que ficou ainda mais rígida no final do ano passado, de fato surtiu efeito no comportamento da população brasileira. Em 2006, 27,5% dos pesquisados admitia beber e dirigir, índice que caiu para 21,6% em 2012, uma diminuição de 21%.

Extraído do sítio Ig Saúde

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