20 de abril de 2013

LYGIA FAGUNDES TELLES: ESCREVER É MEU OFÍCIO - José Carlos Ruy

A grande dama da literatura brasileira faz 90 anos de idade. Ela não gosta de festejar aniversário, mas o mundo cultural brasileiro comemora. E a Biblioteca Nacional inaugura, no Rio de Janeiro, uma exposição sobre a grande escritora.


Lygia Fagundes Telles, que completou 90 anos de idade nesta sexta-feira (19) conta que inventava histórias quando era muito menina, antes mesmo ser alfabetizada. Depois, ainda criança, lia seus escritos nos saraus literários que seus pais promoviam em sua residência, na capital de São Paulo, cidade natal da grande dama da literatura brasileira que, com nove décadas de existência, continua escrevendo todos os dias. 

“Escrever é o meu ofício”, disse há alguns anos numa entrevista aos Cadernos de Literatura Brasileira do Instituto Moreira Sales. Um ofício que inaugurou, em letra de forma, quando tinha apenas 15 anos de idade e publicou, com apoio e incentivo paterno, seu primeiro livro, Porão e Sobrado (1938). Seu livro mais recente, Conspiração de Nuvens, foi publicado quase 70 anos depois, em 2007, quando tinha 84 anos. 

O reconhecimento veio mesmo com o romance Ciranda de Pedra (1954), que o crítico Antônio Cândido considera o marco de sua maioridade como escritora (o livro foi tema de novela, na Globo, em 1981 e em 2008). Ela própria, crítica severa de seus primeiros escritos, gosta de assinalar a publicação deste romance como sua estréia como escritora. “Fico aflita só de pensar nas novas gerações lendo esses meus livros (os dois primeiros) que não têm importância”, disse. “Eu não quero que os jovens percam tempo com eles. Quero que conheçam o melhor de mim mesma, o melhor que eu pude fazer, dentro das minhas possibilidades”.

Além de seus livros, o melhor de Lygia Fagundes Telles manifestou-se também no pioneirismo da mulher que abriu caminhos num mundo fortemente patriarcal como foi o Brasil de sua juventude. Quando, em 1941, começou a estudar na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (em São Paulo), enfrentou a resistência de muitos colegas. “Na minha turma, éramos apenas seis mulheres entre mais de cem homens”, conta. “Certa vez, um dos meus colegas me perguntou: ‘O que vocês, mulheres, querem aqui na faculdade? Casar?’ Respondi, de bate-pronto: ‘Também!’ Mal sabia ele que me casaria com um dos professores (Goffredo da Silva Telles)”, disse em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. Conheceu então alguns monstros sagrados da literatura, como Mário de Andrade e Oswald de Andrade. E a poeta Hilda Hilst que, mais tarde, tornou-se sua melhor amiga.

E também o crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes, com quem se casaria em 1962, depois de separar-se do primeiro marido. Foi um escândalo: embora oficialmente continuasse casada (a lei brasileira não admitia o divórcio) com Goffredo da Silva Telles, ela juntou-se com Paulo Emílio, enfrentando a maledicência da sociedade da época. Viveram juntos até a morte do escritor, em 1977.

Foram os anos de chumbo; o contexto da ditadura militar é o pano de fundo do romance As Meninas (1973), um libelo contra a ditadura; em 1976 ela foi a Brasília para entregar o Manifesto dos Mil, contra a censura, aos agentes do arbítrio.

Lygia Fagundes Telles foi, também, a terceira mulher a ser eleita para a Academia Brasileira de Letras, em 1985 (teve 32 votos a sete e ocupou a vaga deixada pelo historiador Pedro Calmon); as anteriores foram Rachel de Queiroz, em 1977, e Dinah de Silveira de Queiroz, em 1980. Hoje, é uma das quatro saias que figuram entre os 40 fardões da Academia.

Teve seus livros traduzidos para o alemão, espanhol, francês, inglês, italiano, polonês, sueco, tcheco, além de inúmeras edições em Portugal. O reconhecimento de sua obra, no Brasil e no exterior, foi atestado pelos inúmeros prêmios que recebeu, entre eles o Jabuti, da Câmara Brasileiro do Livro, e o português Camões, em 2005, pelo conjunto da obra. 

Exposição

Para comemorar os 90 anos de Lygia Fagundes Telles a Fundação Biblioteca Nacional apresenta uma exposição, que foi aberta ao público em 15 de abril (que pode ser visitada até 10 de junho), em homenagem a esta que é uma das mais importantes escritoras brasileiras. 

A exposição é composta por documentos do acervo da Biblioteca Nacional - contos e romances e livros selecionados para ilustrar a trajetória de Lygia Fagundes Telles, desde suas primeiras publicações até obras mais recentes, como Invenção e Memória. A exposição reúne também reproduções de periódicos sobre ela e uma foto da autora quando jovem.

Livros de Lygia Fagundes Telles

Romances: Ciranda de Pedra, 1954; Verão no Aquário, 1964; As Meninas, 1973 (Prêmio Jabuti); As Horas Nuas, 1989.

Contos: Porão e sobrado, 1938; Praia viva, 1944; O cacto vermelho, 1949; Histórias do desencontro, 1958; Histórias escolhidas, 1964; O Jardim Selvagem, 1965; Antes do Baile Verde, 1970; Seminário dos Ratos, 1977; Filhos pródigos, 1978 (reeditado com o título A Estrutura da Bolha de Sabão, 1991); A Disciplina do Amor, 1980; Mistérios, 1981; Venha ver o pôr-do-sol e outros contos, 1987; A noite escura e mais eu, 1995; Oito contos de amor, 1996; Invenção e Memória, 2000 (Prêmio Jabuti); Durante aquele estranho chá: perdidos e achados, 2002; Biruta, 2004; Conspiração de nuvens, 2007; Passaporte para a China, 2011.

Extraído do sítio Portal Vermelho

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