15 de abril de 2013

VIVA CECILIA MEIRELES! - Nazareth Tunholi


Dinâmica, Cecília Meireles imprimiu o seu nome na história brasileira do século XX, tanto pela sua atuação direta na cultura e na educação quanto pelo legado de obra poética que se perpetua agradando leitores de todas as idades e de várias nacionalidades.

Ainda menina, Cecília Benevides de Carvalho Meireles percebeu transbordar-se de poesia e, aos nove anos de idade, já estava abrindo o seu coração e escrevendo os seus primeiros versos.

Seus sentimentos foram marcados pela experiência da dor e solidão em sua infância, pela morte do pai antes de seu nascimento e da mãe, antes de ter três anos de idade. Mas, o amor da avó que a criou, somou-se à compreensão do efêmero e eterno que a acompanharia por toda sua vida.

Cecília, que nasceu no Rio de Janeiro no dia 7 de novembro de 1901, compôs livros marcantes, que impressionam pela grandeza de suas mensagens e pelo seu precioso talento, que a mantêm reconhecida como a maior poetisa brasileira. Com imagens fortes, coloridas, versos ritmados e temas elevados, escreveu sonetos, canções, epigramas, elegias, inúmeros poemas, que conquistaram o reconhecimento popular e a imortalidade que a coloca diante de nós hoje.

Cecília fez o Curso Normal e se tornou professora. Com apenas 18 anos, lançou o seu primeiro livro, intitulado “Espectros”, com poesias escritas numa fase em que o movimento simbolista perdia força para o Modernismo que irrompia nas artes plásticas e cênicas e na literatura. Entretanto, seus caminhos estéticos seguiram sua própria evolução pessoal.

Aos 21 anos, Cecília casou-se com o pintor português Fernando Correia Dias e, juntos, tiveram três filhas. Publicou, em Lisboa - Portugal, o ensaio "O Espírito Vitorioso", uma apologia ao Simbolismo.

Ao longo dos anos, a escritora desenvolveu um grande interesse pela Educação, manteve até uma página no Diário de Notícias, sobre problemas educacionais, chegando a criar a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro, fundada em 1934.

Enveredou-se então pela área da literatura infantil, escrevendo livros como: “O cavalinho branco”, “Colar de Carolina”, “Sonhos de menina”, “O menino azul”, entre outros. O ritmo que colocou nessas obras, deixou evidente uma das principais características de sua poesia: a musicalidade.

Cecília proferiu conferências sobre Literatura Brasileira em Lisboa e Coimbra - Portugal. De 1935 a 1938, lecionou “Literatura Luso-Brasileira” e “Técnica e Crítica Literária”, na Universidade do Distrito Federal, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro. Publicou, em Lisboa - Portugal, o ensaio "Batuque, Samba e Macumba", ilustrado por ela mesma, e colaborou, por dois anos, no jornal “A Manhã” e na revista “Observador Econômico”.

Cinco anos após o suicídio de seu marido, em 1935, Cecília casou-se com o engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da Silveira Grillo. 

Com sua força criadora, em 1937, escreveu o livro “Viagem”, um marco em sua história de poetisa, que lhe garantiu o reconhecimento do público leitor e o Prêmio Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras, dois anos depois. A partir daí, Cecília se firmou entre os maiores poetas nacionais. Nessa obra, a escritora trata de temas como felicidade, poesia, amor e morte, aguçando a imaginação do leitor pelo lirismo da música, luzes e cores da natureza, expressos em seus poemas.

Os dois livros seguintes da autora, "Vaga Música" e "Mar Absoluto", ampliam o exercício de sonoridade e cores implementado em "Viagem".

Apesar de nunca ter-se “esforçado por ganhar nem tenha se espantado por perder”, como disse, até pela sua noção da transitoriedade de tudo, Cecília Meireles teve uma trajetória brilhante, teve grande atuação como professora, palestrante, tradutora, jornalista, desenhista e, sobretudo, escritora, recebendo homenagens e condecorações, inclusive após sua morte.

Em 1940, lecionou Literatura e Cultura Brasileira na Universidade do Texas (USA) e, dois anos depois, tornou-se sócia honorária do Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro (RJ).

Aposentou-se como diretora de escola, em 1951, mantendo o trabalho de produtora e redatora de programas culturais, na Rádio Ministério da Educação e Cultura, no Rio de Janeiro (RJ).

Especializada em Literatura, Educação e Folclore, fez conferências, nos Estados Unidos e em outros países da Europa, Ásia e África.

Cecília traduziu peças teatrais de Federico Garcia Lorca, Rabindranath Tagore, Rainer Rilke e Virginia Wolf. Também tem sido traduzida para o espanhol, francês, italiano, inglês, alemão, húngaro, hindu e urdu, como também há poemas de sua autoria musicados por Alceu Bocchino, Luis Cosme, Letícia Figueiredo, Ênio Freitas, Camargo Guarnieri, Francisco Mingnone, Lamartine Babo, Bacharat, Norman Frazer, Ernest Widma e Fagner.

O governo chileno concedeu a Cecília Meireles o título de Oficial da Ordem de Mérito do Chile, por suas obras, em 1952 e, no ano seguinte, ela tornou-se sócia honorária do Instituto Vasco da Gama, em Goa, Índia.

Foi agraciada em Délhi, Índia, com o título de Doutora Honoris Causa da Universidade de Délhi; recebeu o Prêmio de Tradução/Teatro, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte; conquistou o Prêmio Jabuti de Tradução de Obra Literária, pelo livro "Poemas de Israel", concedido pela Câmara Brasileira do Livro.

O nome de Cecília Meireles foi dado à Escola Municipal de Primeiro Grau, no bairro de Cangaíba, São Paulo (SP), em 1963 e, no ano seguinte, foi inaugurada a Biblioteca Cecília Meireles em Valparaiso, Chile e a Câmara Brasileira do Livro concedeu-lhe o “Prêmio Jabuti de Poesia”, pela obra "Solombra".

Aos 63 anos, Cecília faleceu, no Rio de Janeiro, no dia 9 de novembro de 1964 e seu corpo foi velado no Ministério da Educação e Cultura.

Daí para frente, as homenagens se multiplicaram ainda mais: Prêmio Machado de Assis, pela Academia Brasileira de Letras; seu nome para o grande salão de concertos e conferências do Largo da Lapa, na cidade do Rio de Janeiro, e para uma rua no Jardim Japão, na capital de São Paulo.

Seu nome tem sido dado a escolas, bibliotecas e ruas pelo Brasil afora e seus livros têm sido reeditados e lidos amplamente, ao longo das décadas.

Suas palavras remetem o leitor a uma contemplação elevada da existência do homem, um entendimento oposto às frustrações e mesquinharias cotidianas que mesclam as relações humanas. Seja cantando a beleza da renúncia, “porque nada realmente nos pertence”, como dizia, seja falando do verdadeiro eu que existe em cada um de nós, Cecília Meireles vai do sonho à realidade, inclusive galgando patamares que transcendem o mundo meramente material.

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