21 de abril de 2013

BOLLYWOOD COMPLETA 100 ANOS


Críticos de cinema na Índia e no Ocidente sempre tenderam a considerar o cinema de Bollywood como brega e sem conteúdo artístico. Mas o fato é que a indústria cinematográfica da Índia ainda é a maior do planeta.

A indústria de cinema em língua híndi, conhecida como Bollywood, é uma indústria de emoções – como em Nos dias bons e nos dias difíceis (Kabhi Khushi Kabhi Gham, 2001), um drama familiar tradicional que conta a história de amor entre a bela e vívida Anjali e o charmoso Rahul, interpretado pelo astro Shah Rukh Khan.

Rahul desafia o pai teimoso, Yash, ao decidir se casar com Anjali, uma mulher de uma classe social inferior à sua. Muitas lágrimas são derramadas para preencher mais de três horas de filme, até que pai e filho façam as pazes.

O filme leva o espectador a um mundo de sonhos em que todas a fronteiras entre ricos e pobres, entre a situação e a origem, podem ser superadas através do amor.

É um mundo no qual as tradições e valores como a honestidade, respeito aos pais e trabalho duro ainda contam. Mas o filme também espelha o conflito de gerações como símbolo da Índia moderna. 

A Índia produz anualmente mais filmes que os Estados Unidos

"Acredito que o cinema é a mídia mais democrática que temos na Índia. Todo mundo pode ver um filme de Bollywood por um par de rúpias no cinema de um vilarejo ou num multiplex de luxo de uma grande metrópole. O cinema ainda é nossa principal forma de entretenimento de massa", diz a crítica de cinema Shubhra Gupta, de Nova Délhi.

De acordo com a especialista, o amor por Bollywood une os indianos e os filmes também têm uma função educativa, já que um terço da população do país não sabe ler ou escrever.

Música e dança

Em 21 de abril de 1913 o pioneiro diretor Dhundiraj Govind Phalke apresentou ao público o mitológicoRei Harishchandra (Raja Harishchandra), o primeiro filme indiano. Os papéis femininos foram interpretados por homens vestidos de mulher, já que a profissão de atriz era considerada indecente. Provavelmente, naquela época poucos imaginaram que a indústria cinematográfica indiana se tornaria a maior do mundo.

Amitabh Bachchan em "Destino" (Naseeb, 1981)
Em seus primórdios, o cinema de Bollywood explorava os temas de dois grandes épicos indianos: Ramáiana (Ramayana) e Maabárata (Mahabharata). Com ensinamentos dos antigos sábios hindus, o Ramáiana conta a história do príncipe Rama, cuja esposa Sita é abduzida pelo demônio. O Maabárata, por sua vez, discute metas na vida humana e métodos de desenvolvimento espiritual.

As tradições do teatro popular indiano também foram influenciando os filmes, disse Javed Akhtar, um dos mais famosos escritores e poetas indianos. "Música e dança são partes fundamentais de nossa cultura há quase quatro mil anos. Toda história verdadeiramente indiana tem música e dança. Quem não gosta, não precisa assistir aos nossos filmes", afirmou, rebatendo a controvérsia causada por Bollywood, considerada "brega" e sem conteúdo artístíco por críticos locais e internacionais.

"Era de ouro"

Os anos 1950 são chamados de "era de ouro" do cinema popular híndi. Diretores como Bimal Roy, Kapoor Raj e Dutt Guru conseguiram integrar em seus filmes, falados em híndi, questões polêmicas da época, como o êxodo rural e o incerto futuro político da recém-nascida República da Índia. Os filmes socialmente críticos de Raj Kapoor fizeram sucesso não só na Ásia, mas o tornaram famoso também na antiga União Soviética e na China.

Na década de 1970, o ator Amitabh Bachchan se tornou a primeira estrela internacional indiana. No papel do "Angry Young Man" (jovem furioso), ele lutou em vários filmes de ação contra as injustiças sociais, a máfia e diversas vezes fez o papel de fora da lei. Seus filmes chegaram até a Europa e a África e até hoje são populares em países como Turquia, Marrocos, Tunísia, Uganda e Quênia. 

Kajol e Shahrukh Khan, um dos casais mais populares do cinema indiano
Depois dos filmes de ação, vieram as histórias de amor. Os anos 1980 trouxeram novas estrelas como Aamir Khan e Salman Khan. A rebeldia também se tornou um tema recorrente, já que os casais apaixonados não aceitavam mais seu destino. Eles queriam a felicidade e lutavam até a morte se preciso.

A partir dos anos 1990, os filmes começaram a se tornar mais realistas. Bombay (1995) trata dos tumultos entre hindus e mulçumanos em 1993 em Mumbai.

Já Com todo o meu coração (Dil Se, 1998) fala da questão do terrorismo e do separatismo. Filmes como Era uma vez na Índia (Lagaan, 2001) e Dirty Picture (2011) foram elogiados pela crítica internacional.

Ascensão do cinema a pilar econômico

A indústria cinematográfica indiana conta com diferentes polos de produção e filmes nas diferentes línguas faladas no país e tem grande importância econômica. De acordo com Observatório Europeu do Audiovisual em Bruxelas, só em 2011 foram produzidos 1274 filmes na Índia, muito mais do que em Hollywood (EUA).

A estimativa é que 14 milhões de pessoas frequentem – diariamente – os cinemas na Índia. Mas os filmes de Bollywood – ou seja, os filmes em híndi produzidos em ritmo industrial na capital financeira Mumbai – , são só uma parcela do cinema indiano. Mas são esses filmes de Bollywood, com estrelas como Shah Rukh Khan ou a popular atriz Kajol, que acabam representando o cinema indiano mundialmente. E, na Índia, muitas ex-estrelas de Bollywood se tornaram figuras políticas influentes.

A ex-estrela Jayalalithaa é hoje uma influente política
As várias facetas de Bollywood

Nos últimos dez anos, houve uma mudança na produção de cinema na Índia, segundo a crítica de cinema Shubhra Gupta. "Não existe apenas mais uma única Bollywood. Há a Bollywood das clássicas sagas familiares, cheias de intrigas e lágrimas. Uma outra Bollywood usa o formato tradicional para contar histórias, mas integra novidades. E existe também uma terceira Bollywood, com uma proposta bastante radical", afirma Gupta.

O cineasta Anurag Kashyap pertence a essa geração de diretores indianos, nova e radical. "Eu acho que os filmes híndi poderiam ter muita influência se apenas tentássemos fazer algo diferente", avaliou o diretor, para quem a maioria dos filmes indianos ainda são histórias de amor e sagas familiares, algumas vezes filmes de ação ou vingança.

"Quando fazemos filmes realistas, eles são tão artísticos que acabam ficando chatos. E eu não quero ser nem chato, nem criar um mundo de fantasia com o qual ninguém consiga se identificar", disse o cineasta.

Extraído do sítio Deutsche Welle

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