23 de abril de 2013

MUSEU DE BREMEN ENCENA EPISÓDIOS HISTÓRICOS - Janine Albrecht


Há diversos museus na Alemanha dedicados às localidades onde se encontram. A Casa da História de Bremen, no entanto, é especial, ao oferecer ao visitante encenações de fatos dos últimos três séculos.

Na peculiar Casa da História de Bremen, a história da cidade, localizada no norte alemão, se torna literalmente visível para os visitantes. Entre os fatos revisitados está, por exemplo, o incêndio que se alastrou pela catedral no ano de 1656, provocado por um raio. Um homem esguio narra, sentado numa poltrona, a história do fogo. E relata sobre os suecos, que naquela época estavam em Bremen – uma presença não necessariamente aprazível naquele momento.

O narrador mantém-se sentado em frente a uma janela de ferro; a seu lado, sobre uma mesa de madeira, há cinzeiros de zinco. Seu nome é Olafson e ele é sueco. As crianças, que visitam o museu, permanecem sentadas à sua frente, num banco longo de madeira, e ouvem atentas as histórias. Sem qualquer bocejo ou cochicho, como é de praxe em excursões de escolares a museus.

Toque especial a fatos históricos

Contadores de histórias reais
Pois esse museu é especial: em nenhum lugar há peças de tempos passados expostas em vitrines. E tampouco visitas guiadas com longos monólogos que resgatam datas e fatos do passado. Ali, o visitante inicia uma verdadeira viagem no tempo, que começa em 1646 e vai até o fim do século 19. Os acontecimentos deste período são encenados. Há, no total, 12 estações distintas. E a reconstrução viva do passado atrai ao museu, situado numa edificação medieval no centro histórico de Bremen, um total de mais de 40 mil visitantes por ano.

Os papéis são desempenhados por atores leigos, que originalmente não têm ligação alguma com as artes cênicas. O museu faz parte de um projeto da "associação bras e.V. – arbeiten für bremen", voltada para oferecer trabalho a pessoas que se encontram desempregadas por muito tempo. Elas são incumbidas de fazer o museu funcionar, seja por trás dos bastidores ou "no palco", variando de acordo com a vontade e talento de cada um.

"Quem quer trabalhar como ator escolhe seu próprio papel", explica Sara Fruchtmann, que dirige o museu ao lado de Ulrich Mickan. Para cada papel, há um aparato histórico, diz Mickan. Durante os ensaios, os "atores" recebem uma série de informações históricas, completa o diretor. Além disso, os envolvidos podem procurar, eles próprios, mais material no arquivo e na biblioteca do museu. E cada um dá a seu personagem um toque pessoal. "Presencio os ensaios, a fim de corrigir eventualmente algum detalhe histórico", salienta Mickan.

É permitido tocar nos objetos e perguntas são bem-vindas

Ulrich Mickan (segundo, da esq. para a dir.) e Sara Fruchtmann: os diretores do Museu
Em média, demora por volta de três meses até que os intérpretes estejam de fato preparados para seus papéis e possam se apresentar, com figurinos costurados por eles próprios e um cenário adequado. Os cenários puderam ser, em parte, "herdados" de outra exposição. Mas de maneira geral tudo no museu é fruto de um trabalho pessoal, tanto no planejamento quanto na construção.

Ao visitar o lugar, os escolares de Bremen embarcam num navio comercial de 1700. O capitão da embarcação, com três mastros e um amplo espaço à bordo, já está à espera deles. Geralmente, quando ele pergunta às crianças quem quer ajudar, o número de candidatos é grande. O capitão relata então sobre o comércio com os noruegueses, fala de como eles comem peixe e por que compram tanto sal. Os alunos mergulham na história, enquanto todos os objetos podem ser tocados e as "testemunhas" questionadas.

Criando os próprios papéis

Os "atores" adaptam suas histórias aos respectivos grupos de visitantes. Rabea Stein, por exemplo, de 37 anos, passou muito tempo cuidando de seu pai enfermo. Depois de concluir o ensino médio, mais tarde, ela trabalhou como vendedora em "feirinhas medievais" até que, por fim, acabou desempregada.

Histórias reais encenadas: até o odor parece ser transposto
No museu, Stein, que aprecia a leitura de romances históricos, representa o papel de Klara – personagem que é a filha requintada de um comerciante, tendo sido inspirada nas mulheres ricas dos tempos de Luís 14. "Aqui me sinto protegida", diz Rabea Stein. Depois dessa experiência, ela pretende frequentar um curso universitário, a fim de se tornar professora do ensino fundamental.

A seu lado trabalha Tina Goldsweer, que já representou alguns papéis na Casa da História. Ela está desempregada e não pode, por razões de saúde, continuar trabalhando com fotografia, como anteriormente. No museu ela se sente satisfeita e diz não querer mais deixar o lugar. No entanto, o trabalho ali é temporário, pois o projeto tem em vista apoiar os desempregados para que eles, em algum momento, reencontrem um emprego.

Entusiasmo infantil com encenações
Paralelamente ao trabalho no museu, os funcionários frequentam cursos de especialização. "Através da representação de papéis adquiri mais autoconfiança", conta Lucia (nome modificado pela redação). A mulher tímida, proveniente da Eritreia, chegou em 1987 à Alemanha, onde passou muitos anos apenas como dona de casa e mãe, mantendo pouco contato com o mundo exterior. Entretanto, sua situação mudou e ela encarna o papel mais "singelo" nas encenações do museu.

O segundo andar do museu proporciona aos visitantes uma incursão pelo universo da era colonial. Através de uma escada estreita, sai-se da Idade Média, chegando ao século 19. A maioria dos visitantes do museu não sabe que aqueles que representam os papéis são "apenas" leigos. Pois as personagens são altamente vivas, capazes de narrar a história de uma maneira incrivelmente interessante.

Extraído do sítio Deutsche Welle

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