29 de maio de 2013

VINÍCOLAS TRABALHAM PARA APRIMORAR VINHO - Adriana Leite

Ideia é aliar a comercialização da bebida com o turismo rural no Circuito das Frutas.

Merenice: vinho artesanal da região é bom e está sendo melhorado com práticas como novas variedades de plantas e organização dos produtores em associações. Foto: Éica Dazonne/ AAN

O vinho está cada vez mais presente na mesa do brasileiro. A bebida vem conquistando diferentes paladares - e se transformou em um produto que agrega valor às vinícolas da região de Campinas.

São Paulo é um Estado com tradição na cultura da uva de mesa e que quer explorar o potencial de fabricação do vinho artesanal. A ideia é aliar a comercialização da bebida com o turismo rural no Circuito das Frutas e no roteiro de enoturismo.

Planos mais ambiciosos tentam aprimorar o vinho paulista com a introdução de variedades de uvas viníferas (espécies europeias) que resultam em produtos mais refinados.

Uma tese de doutorado defendida este ano na Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp pela pesquisadora Merenice Roberto Sobrinho, mostra que São Paulo já produz bons vinhos - mas é necessário melhor ainda mais qualidade dos produtos e utilizar as normas de padronização dos processos produtivos.

O trabalho analisou as características físico-químicas de 24 vinhos fabricados com uvas de variedades americanas, híbridas e de viníferas de 12 produtores das regiões de Jundiaí, São Roque e São Miguel Arcanjo.

O estudo detalha que a maioria desses vinhos é do tipo comum de mesa e jovem - ele é produzido, engarrafado e vendido logo em seguida. A maioria dos rótulos é comercializada dentro de lojas instaladas nas propriedades rurais onde eles são feitos, e a produção é em pequena escala.

Os vinhos saem de propriedades que unem o cultivo de uva de mesa e a produção da bebida. “Em São Paulo, chove muito na época da colheita da uva, o que não permite a maturação ideal da fruta para a produção de vinho. O resultado são produtos mais ácido e pouco estáveis”, diz a pesquisadora.

Mas ela ressalta que os produtores estão promovendo mudanças - com podas específicas, por exemplo, que fazem os cultivares produzirem uva em períodos mais frios.

“O vinho artesanal de São Paulo é bom e está sendo melhorado com práticas como novas variedades de plantas, organização dos produtores em associações, estudo mais aprofundado do potencial do produto e incentivo ao turismo rural”, comenta. Merenice diz que o Estado oferece hoje roteiros de enoturismo - e também o Circuito das Frutas, formado por dez municípios.

Para a pesquisadora, é preciso apostar também na implantação de sistemas de garantia de qualidade que tornem os vinhos mais atrativos. “Os vinhos produzidos aqui são jovens e ficam pouco tempo nas barricas. Novas regiões de produção estão surgindo, principalmente com cultivares de uvas viníferas. A produção avança em áreas como São Bento do Sapucaí, Espírito Santo do Pinhal e Campos do Jordão”, aponta.

A pesquisadora, que também ocupa o cargo de coordenadora do Laboratório de Ensaios de Bebidas do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), afirma que várias entidades e órgãos públicos atuam para melhorar a qualidade do vinho paulista e aprimorar o processo de produção.

“Há diversas políticas públicas sendo executadas para garantir a melhoria do produto. O objetivo é sofisticar a produção e elevar a renda das propriedades rurais” , ressalta a especialista. 

Salton

A Vinícola Salton é um dos grande nomes nacionais do mercado de vinhos e espumantes, com uma produção anual de 24 milhões de litros.


A fabricante gaúcha de Bento Gonçalves comercializa no mercado interno todos os seus rótulos e cresce de 10% a 15% anualmente. As perspectivas do mercado brasileiro são muito promissoras, segundo a visão da diretora executiva da empresa, Luciana Salton (foto).

“O brasileiro consome cerca de 2 litros per capita de vinho por ano. Na Argentina, o volume é de 20 litros por ano. Na Europa, são cerca de 60 litros per capita por ano. Ou seja, ainda temos muito o que avançar no mercado nacional”.

Ela diz que há uma grande parcela da população brasileira que não toma vinho. “A bebida pode ser consumida no calor e no frio. Atualmente, todos os grandes produtores olham para o Brasil. O consumo brasileiro se divide em 80% de importados e apenas 20% de nacionais. No caso do espumante, a relação se inverte. Mas o vinho brasileiro é ótimo. Nossa vinícola tem produtos de alta qualidade e reconhecidos em outras partes do mundo”, comenta.

Para ela, os consumidores brasileiros ainda guardam um certo preconceito contra o vinho nacional - por culpa, segundo Luciana, de dois fatores principais.

“Primeiro, durante muitos anos, o Brasil ficou fechado para a importação de vários produtos. Em 1991, quando houve a abertura econômica, a indústria brasileira de vinhos não tinha produtos de qualidade. Segundo, o alto custo de produção no Brasil reduz a competitividade dos vinhos nacionais em relação aos importados”, afirma.

Ela acredita ainda que há muito desconhecimento sobre a gama de produtos nacionais que estão hoje disponíveis no mercado. E diz que o fato do mercado criar “regras” para o consumo do vinho afugenta muitas pessoas que seriam potenciais apreciadoras da bebida.

“Na Europa, as pessoas tomam vinho até em copo de água. É uma bebida maravilhosa e milenar. Tomá-lo deve ser um ato prazeroso e natural, ele não é e nem deve ser visto como uma bebida burocrática”, pontua, destacando que que não existe certo ou errado na hora de escolher um rótulo. “A harmonização é interessante, mas as pessoas não podem se pautar apenas por esse fator na hora de tomar um bom vinho”.

Luciana diz que nos períodos mais frios do ano o consumo de vinho crescem entre 30% e 40%. A Salton tem uma carta com mais de 60 produtos entre vinhos, espumantes, sucos e conhaques. Recentemente, a empresa lançou seis novos rótulos na feira da Associação Paulista dos Supermercados (Apas) realizada em São Paulo. A vinícola tem produtos para diferentes gostos e bolsos: há bebidas a partir de R$ 9,00 outras que custam mais de R$ 70,00.

Extraído do sítio Correio Popular

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários serão moderados. Não serão mais publicados os de anônimos.