27 de maio de 2013

FERNANDO PESSOA TEM CENTENAS DE POEMAS INÉDITOS - Mafalda de Avelar

Lisboa, maio de 2013, 19h, Casa Fernando Pessoa. O encontro com um dos investigadores que descobriu os inéditos de Fernando Pessoa, hoje revelados na primeira edição portuguesa da revista "Granta", estava marcado há apenas 24 horas.


Entre interrogações que existem à volta de Fernando Pessoa, da conversa com o pesquisador luso-colombiano Jerónimo Pizarro, 36, saiu a certeza: há muito por descobrir sobre "um dos escritores mais versáteis do século 20".

Prova disso é, também, "o soneto" escolhido por Pizarro para ser publicado em primeira mão pela Folha.

Desafiado a optar por um dos cinco inéditos, respondeu prontamente: "Alma de Côrno".

Folha - Entre os inéditos, por que você escolheu "Alma de Côrno"? 

Jerónimo Pizarro - Trata-se de um soneto de linguagem desarmante, quer pela escolha das palavras em geral, quer pelas escolhas das palavras rimadas em particular. E de um soneto em que uma personagem inventa um diálogo brincalhão com outra, sem a nomear diretamente. A heteronímia desenvolve-se a partir deste tipo de diálogos imaginários entre personagens fictícias.

A sequência dos sonetos apresentados na "Granta" tem algum significado? Qual a maior surpresa entre os inéditos?

Pessoa é inédito pelo que falta conhecer e pelo que falta ler bem, e ambas tarefas são igualmente importantes, porque os leitores costumam acreditar nos editores. A sequência dos sonetos apresentados é cronológica, o que permite acompanhar minimamente a vida de Pessoa através da sua obra. Estes textos revelam a versatilidade formal e temática de Pessoa, que é um dos escritores mais versáteis do século 20.

Como descobriu os inéditos?

A maior parte do crédito deve-se a Carlos Pittella Leite, que durante meses percorreu testemunhos microfilmados do espólio pessoano a procura de sonetos e outras formas poéticas.

O que ainda falta descobrir?

No caso da poesia, centenas de poemas. Pessoa guardou papéis para a posteridade durante anos e ainda estamos muito aquém do que seria a publicação total desses papéis.

Qual a relação entre o "Eu" e Fernando Pessoa?

Não sei ao certo, porque Pessoa duvidava muito do "Eu" e tendia a sugerir que essa "entidade" constituía uma das grandes invenções da nossa vida, e não necessariamente a mais produtiva. Pessoa desconstruiu o "Eu" e o fez plural através de uma espécie de paganismo íntimo, interiorizando, como ninguém, as correntes neopagãs do seu tempo.

Para você, quem é Pessoa?

Para o autor de um livro intitulado "Pessoa Existe?" esta não é uma pergunta simples. Poderia responder: o maior escritor disto ou daquilo. Mas prefiro frisar seu mistério. Pessoa, para mim, é ainda um desconhecido, porque o que me falta conhecer da sua vida e obra é maior do que conheço.

Extraído do sítio Folha de S. Paulo

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