1 de maio de 2012

DIA DA LITERATURA BRASILEIRA (E UMA LISTA, CLARO, DUVIDOSA) - Francisco Grijó


Embora as comemorações – incluindo as internacionais – sejam dirigidas, com justiça, aos trabalhadores, o primeiro dia de maio serve, também, para homenagear a Literatura Brasileira. Sim, com maiúsculas. A data coincide – e dela advém – com o nascimento de José de Alencar, o grande romancista romântico. Há quem diga que essa jovem senhora tem apenas 176 anos, já que a publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, em 1836, marca a literatura “realmente brasileira”, independente dos domínios portugueses. Há quem defenda que uma literatura que utilize uma língua europeia não pode ser considerada “independente”. Discussões sempre haverá – e conclusões idem. Deixe isso para os chatos.

À margem de qualquer polêmica está o leitor, que vê diante de si Paulo Coelho, o glorificado, ser o grande exemplo de escritor brasileiro, o representante máximo de uma literatura que prolifera internacionalmente. Esse mesmo leitor ignora as prosas de Campos de Carvalho, Dalton Trevisan, Hilda Hilst, Herberto Salles, Osman Lins, Murilo Rubião, José J. Veiga e Aníbal Machado, expoentes de uma criação que merece mais atenção, estudo e respeito por parte da Intelligentsia. Poucos, além dos estudantes de Letras, conhecem a crítica de Wilson Martins, de Alfredo Bosi e do citado (em postagem recente) Sérgio Buarque.

À parte os genuinamente consagrados Drummond, Castro Alves, Bilac, Augusto dos Anjos, João Cabral, Oswald, Vinícius, Ferreira Gullar, Cecília, Murilo Mendes e Jorge de Lima, o que dizer da poesia de Roberto Piva ou de Francisco Alvim? E quanto ao simbolista Kilkerry, o romântico Sousândrade e o deliciosamente alucinado dramaturgo gaúcho Qorpo Santo? Há muitos exemplos que omito porque qualquer lamento a mais, neste caso, soaria piegas. Recentemente, recebi um mail em que um ex-aluno me pedia uma lista de 10 grandes livros daLiteratura Brasileira. Embora considere listas algo desnecessário – divertido, porém -, arrisquei-me e, claro, abusando da subjetividade e sem recorrer demasiadamente à memória, enumerei as que mais me agradam:

  1. Quincas Borba, Machado de Assis.
  2. Morte e Vida Severina, João Cabral de Melo Neto.
  3. Boitempo, Carlos Drummond de Andrade.
  4. Grande Sertão: Veredas, João Guimarães Rosa.
  5. Vestido de Noiva, Nelson Rodrigues.
  6. Os Doze Trabalhos de Hércules, Monteiro Lobato.
  7. Avalovara, Osman Lins.
  8. São Bernardo, Graciliano Ramos.
  9. A República dos Sonhos, Nélida Piñon.
  10. Tenda dos Milagres, Jorge Amado.
É uma lista que, com a evidente limitação, expõe o gosto pessoal. Não são os livros aqui enumerados os preferidos de um professor, mas de um leitor que, mesmo não sendo apaixonado pela literatura de seu país, respeita-a e reconhece seu valor. E já que o primeiro dia de maio destina-se a homenageá-la, ficam aqui os parabéns e o agradecimento por tudo até agora. E incluo aí meu emprego.


Extraído do sítio Ipsis Litteris

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