26 de julho de 2012

AUSENCIA - Gabriela Mistral



Se va de ti mi cuerpo gota a gota.
Se va mi cara en un óleo sordo;
se van mis manos en azogue suelto;
se van mis pies en dos tiempos de polvo.

¡Se te va todo, se nos va todo!
Se va mi voz, que te hacía campana
cerrada a cuanto no somos nosotros.

Se van mis gestos, que se devanaban,
en lanzaderas, delante tus ojos.

Y se te va la mirada que entrega,
cuando te mira, el enebro y el olmo.

Me voy de ti con tus mismos alientos:
como humedad de tu cuerpo evaporo.

Me voy de ti con vigilia y con sueño,
y en tu recuerdo más fiel ya me borro.

Y en tu memoria me vuelvo como esos
que no nacieron ni en llanos ni en sotos.

Sangre sería y me fuese en las palmas
de tu labor y en tu boca de mosto.

Tu entraña fuese y sería quemada
en marchas tuyas que nunca más oigo,
¡y en tu pasión que retumba en la noche,
como demencia de mares solos!

¡Se nos va todo, se nos va todo!

AUSÊNCIA: Se vai de ti meu corpo gota a gota. / Se vai minha cara no óleo surdo; / Se vão minhas mãos em mercúrio solto; / Se vão meus pés em dois tempos de pó. // Se vai minha voz, que te fazia sino / fechada a quanto não somos nós. // Se vão meus gestos, que se enovelam, / em lanças, diante de teus olhos. // E se te vai o olhar que entrega, / quando te olha, o zimbro e o olmo. // Vou-me de ti com teus mesmos alentos: como umidade de teu corpo evaporo. // Vou-me de ti com vigília e com sono, / e em tua recordação mais fiel já me apago. // e em tua memória volto como esses / que não nasceram nem em planos nem em bosques // Sangue seria e me fosse nas palmas / de teu trabalho e em tua boca de sumo. // Tua entranha fosse e seria queimada / em marchas tuas que nunca mais ouço, / e em tua paixão que retumba na noite, / como demência de mares sós. // Se nos vai tudo, se nos vai tudo! 
(tradução de Maria Tereza Almeida Pina)

Extraído do sítio Poesia Latina

AUSENCIA, de Gabriela Mistral, 
interpretado pela poeta Francisca Avaria Muñoz.

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