13 de julho de 2012

O CHAPÉU DE TCHEKOV - Alexandre O'Neil

Anton_Chekhov_with_pince-nez,_hat_and_bow-tie.jpg
tchekov anton rebocava o seu 
pulmão pelos ares da crimeia 
mais ou menos quando a engomadeira 
de cesário passava os seus pulmões 
pelo carvão do ferro 

gorki vai visitá-lo palmilhá-lo e à cancela 
observa-o no umbroso jardim chapéu na mão 
aparando no côncavo um cambiante raio 
do sol que pela folhagem trémula se infiltra 

gorki retém-se vê o tostão de sol 
cair no chapéu de anton neto de servos 
vê anton virar tac o chapéu e espreitar para dentro 
como quem tirado o chapéu nele procurasse 
a sua própria cabeça. 

tchekov brincava com o alheio sol 
na pessoal solidão 

In A saca de orelhas (1979).


Alexandre Manuel Vahia de Castro O'Neill de Bulhões, nasceu em Lisboa a 19 de Dezembro de 1924. O seu pai, António Pereira de Eça O'Neill de Bulhões era empregado bancário, e sua mãe Maria da Glória Vahia de Castro O'Neill de Bulhões, doméstica. Inicia os seus estudos em 1932. Em 1946 sai de casa dos pais devido a conflitos familiares e vai viver para casa do tio materno. Em 1948 surgem as primeiras manifestações públicas de interesse pelo fenómeno poético. O'Neill surge então como um dos fundadores do Movimento Surrealista de Lisboa. O'Neill, tal como a maioria dos artistas portugueses não pôde viver da sua Arte. Afirmava «viver de versos e sobreviver da "publicidade". Foi intérprete de uma generosa "biografia do amor". Vasto foi o seu currículo, onde constam diversas colaborações para jornais, revistas, televisão etc. Alexandre O'Neill escreveu Tempo de Fantasmas (1951), No Reino da Dinamarca (1958), Abandono Vigiado (1960), Poemas com Endereço (1962), Feira Cabisbaixa (1965), De Ombro na Ombreira (1969), Entre a Cortina e a Vidraça (1972), A Saca de Orelhas (1979), As Horas Já de Números Vestidas (1981), Dezanove Poemas (1983) e O Princípio da Utopia (1986). A sua obra poética foi ainda recolhida em Poesias Completas, 1951-1983 (1984). Foi ainda editada uma antologia, postumamente, com o título Tomai Lá do O'Neill (1986). Publicou dois livros em prosa narrativa, As Andorinhas não Têm Restaurante (1970) e Uma Coisa em Forma de Assim (1980, volume de crónicas), e as Antologias Poéticas de Gomes Leal e de Teixeira de Pascoaes (em colaboração com F. Cunha Leão), de Carl Sandburg e João Cabral de Melo Neto. Gravou o disco «Alexandre O'Neill Diz Poemas de Sua Autoria». Em 1966, foi traduzido e publicado na Itália, pela editora Einaudi, um volume da sua poesia, Portogallo Mio Rimorso. Recebeu, em 1982, o Prémio da Associação de Críticos Literários.

Extraído do sítio As Tormentas

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários serão moderados. Não serão mais publicados os de anônimos.