25 de julho de 2012

ESPECIAL DE ELIS REGINA NA TELEVISÃO ALEMÃ SERÁ LANÇADO NO BRASIL - Felipe Tadeu



Apresentação histórica realizada pela intérprete brasileira em 1972 na emissora alemã Südwestrundfunk será lançada em dvd.

O acervo de Elis Regina, um dos maiores ícones da música brasileira de todos os tempos, está prestes a ganhar mais um precioso capítulo: o especial produzido pela televisão alemã no limiar da década de 70, que registra uma artista em pleno domínio de seu talento, cantando ao lado do francês Michel Legrand e do corpo de bailarinos de Jimmy James Dancers, num programa dirigido pelo holandês Rob Touber.

Cantando com desenvoltura fascinante um repertório de grande elasticidade estética, que vai de um samba de João Bosco e Aldir Blanc (Bala com Bala), do inusitado soul da dupla Roberto e Erasmo Carlos de Mundo Deserto até o tema Summer of 42 da trilha assinada por Legrand para o filme Houve uma Vez um Verão, Elis Regina impressionou os espectadores alemães, neste especial que foi reapresentado diversas vezes pela emissora alemã Südwestfunk no decorrer das décadas.

João Marcelo Bôscoli, filho de Elis e principal responsável pelo lançamento deste dvd, que sairá no mercado brasileiro pela gravadora Trama no começo do ano que vem, é categórico quanto à qualidade do especial: "Artisticamente, este programa marca a entrada de Elis Regina numa fase adulta de sua carreira. Nele já está impresso o que ficou conhecido como 'o som de Elis Regina', caracterizado por sua performance musical, por sua assinatura musical, desenhada por ela e pelos seus músicos nos anos 70". No especial, a banda que acompanhava Elis (em off) era formada por César Camargo Mariano, Luizão Maia, Paulinho Braga, Chico Batera e Alemão.

Cenografia bizarra

Quem já assistiu a trechos do programa da tevê alemã disponíveis na internet, se surpreende com o nível de investimento que a emissora dedicou a Elis. Ainda que ela fosse uma intérprete já consagrada no Brasil, que possuía inclusive uma bagagem invejável de produções feitas especialmente para a televisão (com destaque para o lendário O Fino da Bossa, da TV Record), não era nada comum uma emissora da Alemanha abrir tal espaço para uma artista de um país considerado periférico.

João Marcelo Bôscoli
A emissora chegou ao ponto de traduzir os versos para o alemão da música Pedro Pedreiro, de Chico Buarque, cantada no programa pelo artista negro alemão Roberto Blanco (um descendente de cubanos muito popular na telinha, figura comparável ao brasileiro Jair Rodrigues, que apresentava O Fino da Bossa ao lado de Elis). E na ficha técnica do especial consta o crédito da Rede Globo de Televisão, que à época exibia o programa Elis Especial, comandado pela cantora gaúcha, sua contratada.

Outra curiosidade é o cenário do programa. Na abertura, Elis aparece sobrevoando o mapa do Brasil numa extravagante borboleta, com antenas luminosas piscando, parecendo um musical televisivo feito para os norte-americanos. Aliás, as referências ao mundo pop dos States não param por aí: o especial tem o glamour da culturablack power, com arranjos gospel e dançarinos negros, tudo afinado com o repertório da cantora brasileira, que interpretava Black is Beautiful, de Marcos e Paulo Sérgio Valle, Upa, Neguinho, de Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri e até Nego do Cabelo Duro, parceria de David Nasser e Rubens Soares, cantada por um coro de crianças com forte sotaque alemão.

Carreira internacional

João Marcelo Bôscoli não tem dúvidas do quão bem sucedida Elis Regina teria sido, se ela se lançasse definitivamente numa carreira internacional. "Isso é indiscutível. Ela gravou disco em Londres, fez turnê pelo Japão, Suíça, França, Portugal. Acho que, se ela não tivesse morrido, chegaria algum momento da carreira dela em que sua missão no Brasil estaria relativamente cumprida".

Roberto Blanco
Para o empresário e produtor musical, o que pesou mais naquele momento para a mãe foi algo muito mais complexo no começo dos 70: "O Brasil vivia um momento que, se ela fosse embora, ela veria como uma deserção. Talvez com a abertura política, ela que foi engajada e cantou inclusive o chamado hino da anistia (N.d.R:O Bêbado e a Equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc) Elis se sentisse mais à vontade para sair. Preguiça ela não tinha. Não é à toa que ela lançou tantos compositores. Isso vem de uma sede, de uma inquietação de espírito, da busca constante pelo novo".

Audaciosa, Elis Regina canta no especial até em alemão – além de em francês, inglês e em sua língua materna –, tendo contratado inclusive professor particular para a difícil empreitada. "Ela sempre gostou de autores alemães. Por influência dos diretores que trabalharam com ela em seus shows, Elis dava evidentemente uma atenção especial para Bertolt Brecht. E, como amante da psicanálise, prestava atenção também nos trabalhos publicados por Freud. Ela tinha interesse pela produção intelectual alemã", revela João Marcelo, envolvido com a história da mãe por conta das pesquisas voltadas para a exposição sobre a artista que já foi apresentada em duas cidades brasileiras e ainda passará por mais três, como uma das homenagens pela morte da cantora há exatos 30 anos.

Ao lançamento do dvd com o especial da emissora alemã irão se somar brevemente mais dois outros: um com o registro do show que a irmã de João Marcelo por parte de mãe, Maria Rita, vem fazendo com o repertório de Elis, e outro com Pedro Camargo Mariano, também irmão do produtor da Trama, que vai montar em agosto o espetáculo Eles Cantam Elis só com homens cantando canções imortalizadas por Elis, como Seu Jorge, Diogo Nogueira e Cauby Peixoto.

O dvd com o especial da televisão alemã virá, segundo João Marcelo, contemplado com diversos extras: "Vamos colher depoimentos de todos os músicos e profissionais de estúdio participantes no programa, assim como com especialistas como Zuza Homem de Mello, que irá contextualizar esse especial dentro da carreira de Elis. Fora isso, estamos compilando o material de imprensa escrita, fotografias, e assim por diante, para enriquecer a experiência de quem adquirir o dvd", revelou à DW Brasil o produtor brasileiro.

Extraído do sítio Deutsche Welle

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