9 de julho de 2012

NA FLIP, JONATHAN FRANZEN CRITICA BUSH E DIZ QUE TENTA SALVAR HUMANIDADE - Luciano Pádua

A última mesa desta sexta-feira (6) na Festa Literária Internacional de Paraty reservou todas as suas atenções ao escritor norte-americano Jonathan Frazen. Visivelmente desconfortável com a barreira do idioma e o sucesso que tinha no país, ele afirmou que as editoras norte-americanas foram dominadas por “contadores”. Ainda, destacou que a função de sua literatura é tentar mudar a humanidade. 

O autor destacou a decadência do romance como gênero artístico, referindo-se ao universo literário abundante dos anos 60. Ainda, analisou que escritores como Franz Kafka, William Faulkner, entre outros, publicaram seus trabalhos em uma época na qual a ficção tinha tradição de dois séculos como forma dominante. 

Jonathan Frazen afirmou que as editoras norte-americanas foram dominadas por “contadores” 
“A ficção escrita por Faulkner, Kafka, entre outros, era baseada em dois séculos em que o romance foi a forma de arte dominante, especialmente da burguesia. Aquelas pessoas podiam contar com muitos leitores. Mesmo se ninguém gostasse do livro, o romance era um gênero forte”, disse Frazen, que elogiou os autores brasileiros Chico Buarque, Milton Hatoum e Bernardo Carvalho.

Após ser indagado pelo mediador da mesa, Ángel Gurría-Quintana, sobre qual a razão de seu interesse por famílias infelizes, Franzen citou Tolstoi e disse que as dificuldades são mais ricas para ma narrativa. Aproveitou para esmiuçar uma das mais marcantes características dos romancistas: o exagero. 

“Eu não era infeliz, e acho que minha família era basicamente infeliz. Mas o que é a infelicidade? Tolstoi dizia que se tudo está bem com a pessoa, por que você quer ler a respeito dela?”, refletiu. “A lista de falhas morais de romancistas e artistas é longa, e uma delas é que tendemos a exagerar nossas próprias misérias. Para uma pessoa que escreve romances, a vida comum não é interessante o suficiente, temos que viver no mundo exagerado, inventado. Vinte anos bons cobrem 15 páginas, e um ano ruim cobre o resto livro”, ironizou Frazen. 

Outro assunto no debate foi a politização da obra literária de Frazen. Crítico ferrenho do governo de George W. Bush, ele opinou que a mídia e a política se apropriaram de forma nefasta do ataque terrorista de 11 de setembro. 

“Eu esperava que o 11 de setembro fosse desaparecer. Porque não foi um ataque terrorista, foi um ataque midiático e político com base no terrorismo. Nas primeiras seis semanas depois do ataque, eu ouvi o tempo inteiro que aquilo tinha mudado o país para sempre. Nos diziam, a cada cinco minutos, que tudo havia mudado para sempre”, criticou. 

Ele perdoou o excesso da imprensa, mas classificou como cínico e implacável o uso político do 11 de setembro: 

”O contraste com o que aconteceu depois de Pearl Harbor (entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial) e com o que aconteceu depois do 11 de setembro não faz jus a nossos tempos”, atestou.

No debate sobre a função do romance, o americano admitiu que o entretenimento é um opção para os autores. Contudo, foi mais além: 

“A função real do romance sério hoje não é apenas entreter, mas usar essa capacidade de entreter, de suspender a pessoa, de permitir-lhe a fantasia, usar isso para preservar a possibilidade do individualismo e do livre arbítrio. Como o individualismo e o livre-arbítrio são fundamentais para o que uma pessoa é, acho que estamos tentando salvar a humanidade”, disparou, arrancando aplausos da plateia.


Extraído do sítio Jornal do Brasil

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