9 de julho de 2012

ADOLESCENTES - Pedro Homem de Mello



Exaustos, mudos, sempre que os vejo,
Nos bancos tristes que há na cidade,
Sobe em mim próprio como um desejo
Ou um remorso da mocidade…

E até a brisa, perfidamente
Lhes roça os lábios pelos cabelos
Quando a cidade, na sua frente
Rindo e correndo, finge esquecê-los!

Eles, no entanto, sentem-na bela.
(Deram-lhe sangue, pranto e suor).
Quantos, mais tarde se vingam dela
Por tudo o que hoje sabem de cor!

E essas paragens nos bancos tristes
(Aquela estranha meditação!)
Traz-lhes, meu Deus, só porque existes,
A garantia do teu perdão!

Pedro Homem de Mello, in “Eu Hei-de Voltar um Dia”


Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello nasceu em 1904, no Porto. Frequentou a Universidade de Coimbra e a Universidade de Lisboa, onde se formou em Direito. Foi advogado e professor, exercendo funções de direcção de uma escola, no Porto. Notabilizou-se como poeta, tentando conciliar a expressão metafórica elaborada com a tradição popular, o paganismo com a formação católica, a expressão do corpo - às vezes erótica - com valores religiosos. Nem sempre essa conciliação é conseguida e pacífica. Manifestou interesse pelo folclore e pelas danças populares, escrevendo sobre estes assuntos. Morreu em 1984, no Porto. Algumas obras: Poesia: Caravela ao Mar (1934); Jardins Suspensos (1937); Segredo (1939); Pecado (1942); Os Amigos Infelizes (1952); Grande, Grande era a Cidade (1955); Eu hei-de voltar um dia (1966); Poesias Escolhidas (1983). Ensaio: A Poesia na Dança e nos Cantares do Povo Português (1941); Danças Portuguesas (1951); Danças de Portugal (1961); Folclore (1971).

Extraído do sítio Tribuna da Internet

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