16 de outubro de 2013

REAL ACADEMIA ESPANHOLA, 300 ANOS E UMA INSPIRAÇÃO PARA A LÍNGUA PORTUGUESA INTERNACIONAL


A Língua Portuguesa, de grande uso internacional e de prestígio em seu valor literário, está ainda construindo mecanismos para garantir a sua coesão e unidade em âmbito mundial e precisa criar dispositivos para torná-la apta aos usos das tecnologias da atual “era da globalização”.

Esse desafio será o tema principal da II Conferência Internacional sobre o Futuro da Língua Portuguesa no Sistema Mundial, a ser realizada nos dias 29 e 30 de outubro, em Lisboa.

A missão da Língua “filha ilustre do Latim” pode receber inspiração no trabalho desempenhado no espanhol pela Real Academia Espanhola – que completou 300 anos de fundação em 2013 e que tutela pelos usos da língua de Cervantes em alcance mundial. Graças a ela, mantiveram-se as mesmas regras de ortografia em uma língua de 400 milhões de falantes, com uma diversidade de sotaques e vocábulos regionais.

Um dos mais recentes grandes marcos dos trabalhos da Real Academia em prol do espanhol foi a publicação da Nova Gramática da Língua Espanhola em 2009, bem como a constante atualização da versão em linha na Internet do seu Dicionário da Língua Espanhola.

Ventos da Lusofonia reproduz uma matéria do jornal argentino Los Andes, de Mendoza, em que faz referência aos 300 anos de criação da Real Academia Espanhola e do seu trabalho de promoção e tutela da língua espanhola para a sua aplicação nos mais variados usos, sobretudo no das Tecnologias da Informação. E como esse cuidado linguístico pela união pode ser inspirador para as grandes instituições da Língua Portuguesa.

A Real Academia Espanhola completou 300 anos a zelar pela língua espanhola 

Fundada em 1713, a Real Academia Espanhola tem como principal objetivo a tutela da língua espanhola, garantindo-lhe a coesão e a unidade em âmbito internacional.

A Real Academia Espanhola foi fundada há 300 anos por Juan Manuel Fernández Pacheco, marquês de Villena, que queria “assegurar de que os falantes de espanhol sempre estarão aptos a ler Cervantes”. A Academia em Madri surgiu com o propósito inicial de “fixar as vozes e os vocábulos da língua castelhana em sua maior propriedade, elegância e pureza”.

Os responsáveis pela instituição que zela pela língua espanhola no mundo creem que ela cumpriu esta meta, bem como de “garantir que as mudanças experimentadas pela língua espanhola em sua constante adaptação às necessidades dos seus falantes não quebrem a unidade essencial que mantém em todo o mundo hispânico”.

Membros acadêmicos da Real Academia Espanhola, instituição criada para “fixar as vozes e os vocábulos da língua castelhana em sua maior propriedade, elegância e pureza”.

“Limpa, fixa e dá esplendor”

A Real Academia foi fundada em Madri em 1713, com a proteção do rei Filipe V. O seu lema é “Limpia, fija y da esplendor” (“Limpa, fixa e dá esplendor”). “Foi criada imitando a Academia Francesa”, diz a professora María del Rosario de Perotti, diretora do Departamento de Letras da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade Nacional de Cuyo, de Mendoza. Ela analisa se a Academia cumpriu com o seu lema.

“‘Limpa’? Sim, porque determina, em defesa do espanhol, quais termos devem ser ditos em nossa língua e quais não têm adaptação para que sejam mantidos como ‘estrangeirismos em estado cru’. ‘Fixa’? Sim, porque revitaliza regras antigas, descarta outras por obsoletas e atualiza a escrita ao ritmo do dinamismo do idioma.

‘Dá esplendor’? Considerando a falta de perspectiva do facto contemporâneo de recorrermos aos académicos, podemos dizer que se trata de tornar esplêndido o uso do espanhol, defendendo os usos de prestígio e sendo rigorosos no respeito às normas e às etimologias, como visões de outros mundos e culturas, escondidas por trás de cada termo”, explicou.

Trabalho conjunto com a Associação de Academias de Língua Espanhola 


O trabalho de promoção do espanhol não é exercido apenas pela Real Academia: é feito em conjunto com as 21 Academias nacionais de língua espanhola, que formaram em 1951 a Asssociação de Academias de Língua Espanhola. Essa associação e a Real Academia lançaram juntas o Dicionário Pan-hispânico de Dúvidas em 2005 e a Nova Gramática da Língua Espanhola em 2009.

Quanto à Nova Gramática, explica Gabriela Azzoni, linguista da Universidade Nacional de Cuyo: “É um manual muito amplo e abrangente, com as diretrizes que formam a estrutura da nossa língua. Além disso, é um esforço acadêmico de refletir todas as variedades do espanhol, de forma a harmonizar a unidade e a diversidade”.

“A Real Academia prestou atenção especial ao falante americano e, para sistematizar os vários usos distintos da língua, baseou-se em textos atuais de natureza variada. Com isso, há uma abertura para a diversidade linguística, sem perder de vista o seu compromisso de garantir a unidade hispânica”, afirmou Azzoni.

E tanto a Associação quanto a Real Academia revisam o Dicionário da Real Academia Espanhola, publicado pela primeira vez em 1780, cuja versão em linha pode ser visitada na Internet e é atualizada permanentemente.


O Dicionário da Real Academia, editado desde 1780, e a Nova Gramática da Língua Espanhola, lançada em 2009, são obras de referência para a promoção do uso internacional da língua espanhola.

Para garantir a identidade no mundo das Tecnologias da Informação 

Língua de caráter internacional – assim como a Língua Portuguesa –, o espanhol tem cerca de 410 milhões de falantes, perdendo apenas em mesmo número de falantes para o inglês, dentre as línguas europeias. De cada dez falantes de espanhol, um vive na Europa e os outros nove no continente americano. Está presente com grande número de falantes nos Estados Unidos e no bloco da União Europeia, além de já ser língua oficial das Nações Unidas.

Exatamente como no português, o espanhol tem grande vitalidade na literatura, mas carece de mecanismos de desenvolvimento para o uso em áreas estratégicas da atual “era da globalização” como comércio, Tecnologias da Informação e investigação científica.

A mestre em Ciências da Linguagem, também da Universidade Nacional de Cuyo, María Julia Amadeo, declarou que a Real Academia tenta incluir a letra ñ nos procolos da Internet. “A letra ñ é distintiva da identidade da língua espanhola e poder teclá-la na Internet significa marcar presença em linha na Rede tal como somos.”

María Julia Amedeo explica que as sociedades sempre tiveram tendência à desagregação, tal como as línguas; por isso, várias instituições humanas foram criadas para manter a coesão: leis, Estados e instituições culturais, como as Academias de línguas.

“Na verdade, a Real Academia não é a única que sabe o caminho, mas é um fiel e paciente notário; a instituição registra os usos que nós falantes fazemos da língua.” E ela complementa: “A Real Academia soube reescrever-se no compasso das reconfigurações políticas da Espanha e talvez seja este um dos segredos de sua vitalidade.”

“Isso reflete o trabalho intenso realizado sobre a língua como uma estratégia para afirmar um projeto político”, diz ainda María Julia Amedeo. Para ela, portanto, “limpa, fixa e dá esplendor” pode hoje ainda soar para muitos como frase de uma propaganda antiga de sabões, mas foi esse o papel que a Real Academia Espanhola conseguiu cumprir com eficiência na língua de Cervantes nos últimos três séculos. :::

* Com base em ROMANELLO, Carla. La Real Academía cumplió 300 años en custodia del español. Extraído do jornal Los Andes – Mendoza, Argentina. Publicado em: 28 set. 2013.


Extraído do sítio Ventos da Lusofonia

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