8 de julho de 2012

HOMO VIATOR - Armindo Trevisan


Sou homem… Que bom é ser
qualquer coisa, assim, ao léu,
uma pluma de vender,
um pensamento, um chapéu,
enfim ser tão somente isto,
ser apenas pelo meio,
sem um nome, sem um misto
de ancoragem ou de enleio,
ser nada (não é possível)
ser tudo (mas é demais)
ser então o indefinível
nem tão pouco, nem demais.

Ser no amor o amor calado
meio nu, meio essencial,
porque tudo o que é colmado
bem parece horizontal.
Só o que não se aprimora
até ao pormenor existe:
o dia é adulto na aurora,
a noite mais bela, triste.

Por isso, desejo ser
sendo apenas o que sou:
um pouco de parecer
e muito que não chegou.

In Dois Poetas Novos do Brasil, Moraes Editores, 1972 – Círculo de Poesia.

Armindo Trevisan nasceu em Santa Maria, RS, em 1933. Doutorou-se em Filosofia pela Univer­sidade de Fribourg, Suíça, com a tese Ensaio so­bre o problema da criação em Bergson (1963). Nesse mesmo ano, fez curso de aperfeiçoamento em Paris. De 1969 a 1970, e de setembro de 1974 a fevereiro de 1975, foi bolsista da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Atuou como Pro­fessor Adjunto de História da Arte e Estética na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, de 1973 a 1986. Lecionou, também, no curso de pós-graduação em Artes Visuais da UFRGS até 2000. Poeta, crítico de arte e ensaísta, tem obras traduzidas em várias línguas, especial­mente alemão, italiano, espanhol e inglês. Foi es­colhido como patrono da 47º Feira do Livro de Porto Alegre. Alguns prêmios: Prêmio Nacional de Poesia Gonçalves Dias, da União Brasileira de Escrito­res, em 1964, pelo livro inédito A surpresa de ser; Prêmio Nacional de Brasília, para poesia inédita, pelo original O abajur de Píndaro, em 1972; Prêmio APLUB de Literatura pelo livro A dança do fogo, em 1997. Poesia: A surpresa de ser (1967), A imploração do nada (1971), Funilaria no ar (1973), Corpo a corpo (1973), O abajur de Píndaro / A fabricação do real (1975), Em pele e osso (1977), O ferreiro harmonioso (1978), O rumor do sangue, 1979, A mesa do silêncio (1982), O moinho de Deus (1985), Antologia poética (1986), A dança do fogo (1995), Os olhos da noite (1997), O canto das criaturas (1998), Orações para o novo milênio (1999). (antoniomiranda.com.br).

Extraído do blog Poesia Distribuída Na Rua

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