A portuguesa Dulce Maria Cardoso contou na terça-feira, no Rio de Janeiro, que decidiu tornar-se escritora em função dos eventos vividos na infância, quando teve de retornar a Portugal após a guerra de independência de Angola.
«Foi um choque a mudança de cidade. Foi aí que comecei a inventar histórias. Eu fui a minha primeira personagem», contou a autora, num debate realizado no Gabinete Real Português de Literatura, no centro do Rio de Janeiro.
A escritora, que está no Brasil para divulgar seu último livro, «O Retorno», contou a sua própria experiência nesse período e as dificuldades e preconceitos enfrentados por ter regressado da ex-colónia.
«As pessoas que conseguiram integrar-se em Portugal nessa época foi porque tinham muitas capacidades. Assim como hoje, um imigrante ucraniano, que fala perfeitamente bem o português, vai integrar-se por ele próprio. Não nos podemos enganar, não somos nós que tratamos bem esses imigrantes», afirmou a escritora.
Considerado o melhor livro do ano de 2011 em Portugal, «O Retorno» conta a história do regresso de uma família portuguesa que vivia em Angola após a guerra de independência, em 1975, contada a partir da perspetiva de um menino de 15 anos.
Dulce Maria Cardoso conta que, embora tivesse a convicção de que queria escrever sobre o tema há muitos anos, a decisão de iniciar o livro foi adiada até encontrar a «perspetiva certa» para a narrativa, principalmente por saber que esse era um tema «polémico».
«Decidi ser escritora por causa desses eventos, mas 'O Retorno' é o meu quarto livro. Não estive a melhorar a técnica, mas a buscar uma proposta, a perspectiva certa. Enquanto não encontrei, não escrevi, porque sabia que era um tema muito polémico», revelou.
Por ter vivido uma história parecida com a do narrador-personagem do seu livro - Dulce mudou-se de Luanda para Lisboa quando tinha 11 anos -, a autora é constantemente confrontada com a pergunta sobre se a história é autobiográfica, o que ela garante não ser.
«Queria escrever sobre o tema, mas o livro não poderia ser sobre mim», afirma.
O "timing" certo para iniciar o romance, segundo Dulce Maria Cardoso, ocorreu quando foi convidada a participar num evento literário na Alemanha, em 2010.
«Quando fui para a Alemanha tomei de uma forma lúdica aquela sensação de não-pertencer, um pouco inventada, mas de facto não falava o alemão, não tinha lá ninguém. E era um pouco a mesma sensação de quanto cheguei a Portugal», compara.
Dulce participará ainda da Feira Internacional de Paraty (Flip), que começou na quarta-feira na cidade histórica com o mesmo nome, no estado do Rio de Janeiro. A sua intervenção acontece no sábado, na mesa intitulada "Em Família".
Extraído do sítio Sol
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