20 de dezembro de 2011

BLOGUEIRA TUNISIANA LINA BEN MHENNI ESCREVE PELA LIBERDADE - Chamselassil Ayari

Lina Ben Mhenni venceu o
 concurso The BOBs
 em 2011
O blog "A Tunisian Girl" serviu como uma das mais importantes fontes de informação durante os protestos na Tunísia. A autora, Lina Ben Mhenni, tornou-se uma figura-chave da Revolução de Jasmim.

Lina Ben Mhenni está constantemente em movimento. E sempre online – seja na Universidade de Túnis, onde trabalha como professora, em um encontro com colegas blogueiros em um dos cafés da cidade ou em uma conferência no exterior. Também durante as manifestações, a tunisiana de 28 anos carrega a câmera e o laptop. Ela atualiza o blog, o Facebook e o Twitter, postando fotos, artigos e vídeos.

Lina Ben Mhenni é a tunisina
do blog vencedor
Ben Mhenni é A Tunisian Girl ("uma garota tunisiana"), a mulher por trás do blog homônimo. Na plataforma, ela escreve há anos sobre violações dos direitos humanos ou da liberdade de imprensa. Em janeiro de 2010, os protestos na Tunísia levaram à queda do ditador Zine el-Abidine Ben Ali. E Ben Mhenni foi uma das forças motrizes do movimento.

Em junho de 2011, a Deutsche Welle concedeu à blogueira o principal prêmio do concurso de blogs The BOBs. O júri reconheceu o mérito de Ben Mhenni no acompanhamento jornalístico do movimento democrático na Tunísia.

Durante os protestos em massa no país, a internet foi, muitas vezes, a única fonte de informação independente. A gota d'água para as manifestações foi o ato de desespero de um verdureiro, que ateou fogo em si mesmo na cidade de Sidi Bouzid, em 17 de dezembro de 2010. O jovem protestava contra a repressão.

A ação foi registrada em vídeo e, através do Facebook e de outras plataformas, espalhou-se rapidamente por todo o país. Pouco depois, centenas de pessoas protestavam diante da sede do governo local em Sidi Bouzid. O regime respondeu com violência e proibiu a difusão de notícias.

Rede substitui notícias

Para contornar a proibição imposta pelo governo, os tunisianos fizeram uso da internet. Além do Facebook e do Twitter, o blog de Ben Mhenni – escrito em árabe, francês e inglês – serviu como canal de distribuição e uma das mais importantes fontes de informação. 

http://atunisiangirl.blogspot.com/
Para a blogueira, usar o termo "revolução da internet" é, porém, inadequado. "A revolução foi feita por pessoas", declarou em entrevista à Deutsche Welle. "Por pessoas reprimidas brutalmente pelas forças de segurança. Por pessoas que saíram às ruas e arriscaram suas vidas. E, acima de tudo, por aqueles que tiveram de pagar com as suas vidas."

Ben Mhenni viu tais mortes com os próprios olhos e as divulgou na web. Logo no início da onda de protestos, ela conseguiu, apesar das várias estradas bloqueadas, viajar pelo interior do país para documentar violações dos direitos humanos.

Sua memória mais terrível são as fotos de um jovem manifestante, que havia sido baleado e morto pela polícia. Ben Mhenni registrou a cena e colocou-a na internet. "São imagens do cadáver do jovem com ferimentos à bala e da tristeza profunda de sua família e de seus amigos", relata a blogueira.

Dar voz ao povo

De acordo com grupos de direitos humanos, inúmeras pessoas morreram durante os protestos na Tunísia. Para Ben Mhenni, a brutalidade do regime foi um dos motivos mais importantes para que a revolução conseguisse apoio na internet. "Quando vi como as pessoas eram mortas, ficou claro que não havia mais como voltar atrás", relata. "Eu precisava de alguma forma dar voz a essas pessoas e a suas famílias, para que elas não tenham morrido em vão."

A jovem tunisiana não apenas postou imagens das manifestações e das mortes na internet, como também foi às ruas protestar. Contribui também para a cobertura jornalística de emissoras internacionais através do Skype. Como muitos ativistas tunisianos, ela correu o risco de ser detida, presa ou até mesmo torturada.

Como blogueira, a carreira de Ben Mhenni teve início em 2007, quando estudava nos Estados Unidos e descobriu, por acaso, um artigo sobre blogs. Seus primeiros posts eram mais pessoais, mas, com o tempo, seus blogs ganharam cada vez mais um aspecto de crítica à sociedade e desagradaram à censura tunisiana. Todos os posts de 2007 a meados de 2009 foram bloqueados.

Graffiti em Tunes sobre a "Revolução de Jasmin"
Foi então que a jovem começou a escrever contra a censura e a postar textos críticos ao regime. Ela divulgava suas mensagens e conteúdos no maior número possível de plataformas, para escapar do controle sobre a mídia. Por isso, foi vigiada pela polícia secreta algumas vezes, conta Ben Mhenni.

Revolução inacabada

Quando perguntada se a militância valeu a pena, Ben Mhenni responde que sim. Mas a luta por uma Tunísia democrática e uma sociedade civil transparente ainda não chegou ao fim com a queda de Ben Ali, considera. As mídias tradicionais do país não estão mais submetidas a uma censura estatal. Entretanto, ela critica os colegas da grande imprensa.

Blogueira critica falta de
 independência da imprensa
"Os jornalistas adotam a mesma estratégia de antes: eles permanecem leais aos mais fortes e aos tomadores de decisão", diz. "À imprensa tunisiana continua faltando independência e imparcialidade."

Além disso, a juventude, como representante da revolução, não foi incluída o suficiente em processos decisórios do país, reclama Ben Mhenni. Por isso, ela quer continuar escrevendo em seu blog, quer denunciar injustiças e, se necessário, organizar novos protestos e sair ela mesmo às ruas.

Ben Mhenni era considerada favorita para receber o Prêmio Nobel da Paz de 2011. Ela ficou aliviada ao saber que a homenagem foi concedida a três outras feministas."Passei uma semana terrível como centro das atenções. Quero minha vida normal de volta", escreveu a blogueira no Facebook. "Agora a luta pode continuar."

Desde o primeiro dia de protestos, muito aconteceu na Tunísia. O autocrata Ben Ali foi condenado a 35 anos de prisão, e as primeiras eleições livres foram realizadas. E Ben Mhenni continua atualizando seu blog – sobre mães que perderam seus filhos na Revolução de Jasmim e sobre um passado que ainda está longe de ser resgatado.

Extraído do sítio da Deutsche Welle

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