13 de dezembro de 2011

BIBLIOTECA NACIONAL DO BRASIL

Vista aérea (Wikipedia)
A Biblioteca Nacional do Brasil, considerada pela UNESCO uma das dez maiores bibliotecas nacionais do mundo, é também a maior biblioteca da América Latina. 

O núcleo original de seu poderoso acervo calculado hoje em cerca de nove milhões de itens é a antiga livraria de D. José organizada sob a inspiração de Diogo Barbosa Machado, Abade de Santo Adrião de Sever, para substituir a Livraria Real, cuja origem remontava às coleções de livros de D. João I e de seu filho D. Duarte, e que foi consumida pelo incêndio que se seguiu ao terremoto de Lisboa de 1º de novembro de 1755.

Fachada do prédio (Wikipedia)
O início do itinerário da Real Biblioteca no Brasil está ligado a um dos mais decisivos momentos da história do país: a transferência da rainha D. Maria I, de D. João, Príncipe Regente, de toda a família real e da corte portuguesa para o Rio de Janeiro, quando da invasão de Portugal pelas forças de Napoleão Bonaparte, em 1808.

O acervo trazido para o Brasil, de sessenta mil peças, entre livros, manuscritos, mapas, estampas, moedas e medalhas, foi inicialmente acomodado numa das salas do Hospital do Convento da Ordem Terceira do Carmo, na Rua Direita, hoje Rua Primeiro de Março. A 29 de outubro de 1810, decreto do Príncipe Regente determina que no lugar que serviu de catacumba aos religiosos do Carmo se erija e acomode a Real Biblioteca e instrumentos de física e matemática, fazendo-se à custa da Fazenda Real toda a despesa conducente ao arranjo e manutenção do referido estabelecimento. A data de 29 de outubro de 1810 é considerada oficialmente como a da fundação da Real Biblioteca que, no entanto, só foi franqueada ao público em 1814.

Quando, em 1821, a Família Real regressou a Portugal, D. João VI levou de volta grande parte dos manuscritos do acervo. Depois da proclamação da independência, a aquisição da Biblioteca Real pelo Brasil foi regulada mediante a Convenção Adicional ao Tratado de Paz e Amizade celebrado entre o Brasil e Portugal, em 29 de agosto de 1825. 

Administrativamente a Biblioteca Nacional esteve subordinada ao antigo Ministério do Interior e Justiça, depois ao Ministério da Educação e Saúde. Com a criação do Ministério da Saúde, ela passou integrar o Ministério da Educação e Cultura. Em 1981, o órgão passou à administração indireta, fazendo parte da Fundação Nacional Pró-Memória, até o ano de 1984, quando, junto com o Instituto Nacional do Livro, passou a constituir a Fundação Nacional Pró-Leitura. Em 1990 a Biblioteca Nacional, com sua biblioteca subordinada, a Euclides da Cunha, do Rio de Janeiro, e o Instituto Nacional do Livro, com sua Biblioteca Demonstrativa, de Brasília, passaram a constituir a Fundação Biblioteca Nacional (FBN). A partir de 2004, através do seu atual estatuto, Decreto n. 5.038 de 7 de abril de 2004, é composta por um Presidente, nomeado pelo presidente da República, um diretor executivo, e seis Diretores.

A FBN possui ainda um Escritório de Direitos Autorais para registro e averbação de direitos de autor e também é a Agência Nacional do ISBN (International Standard Book Number). 

A Fundação Biblioteca Nacional é a única beneficiária da Lei 10.994 de 14 de dezembro de 2004, que dispõe sobre a remessa de obras à Biblioteca Nacional. O principal objetivo da lei do Depósito Legal é assegurar o registro e a guarda da produção intelectual nacional, além de possibilitar o controle, a elaboração e a divulgação da Bibliografia Brasileira corrente, bem como a defesa e a preservação da língua e da cultura nacionais. Hoje, para efeito de Depósito Legal, entende-se por publicação toda obra registrada, em qualquer suporte físico, destinada à venda ou distribuição gratuita.

Com vistas a consolidar a inserção da Fundação Biblioteca Nacional na sociedade da informação, foi lançado o Portal Institucional (www.bn.br), permitindo o acesso aos Catálogos em linha. Em 2006 foi criada a Biblioteca Nacional Digital concebida de forma ampla como um ambiente onde estão integradas todas as coleções digitalizadas colocando a Fundação Biblioteca Nacional na vanguarda das bibliotecas da América Latina e igualando-a às maiores bibliotecas do mundo no processo de digitalização de acervos e acesso às obras e aos serviços, via Internet. 



Principais Coleções:

Entre as coleções incorporadas ao acervo da Biblioteca Nacional devem ser mencionadas pelo seu valor histórico e preciosidades as seguintes, entre muitas outras: 

- Coleção Barbosa Machado: doada pelo ilustre bibliófilo, formada de 4.300 obras em 5.764 volumes. Além de livros, possui estampas e mapas. Barbosa Machado reuniu preciosa coleção de folhetos raros relacionados com a História do Brasil e de Portugal. 

- Coleção Conde da Barca ou Coleção Araujense: adquirida em leilão em 1819, dois anos após a morte de seu proprietário, Antônio de Araújo de Azevedo, Conde da Barca. É constituída de 2.365 obras em 6.329 volumes, em sua maior parte dos séculos XVIII e XVII. 

- Coleção De Angelis: adquirida em 1853 a Pedro de Angelis, político e bibliófilo napolitano, naturalizado argentino. Possui 1.717 obras em 2.747 volumes e 1.295 manuscritos.  

- Coleção Salvador de Mendonça: doada por Salvador de Mendonça, cônsul do Brasil em Nova York, em 1884. Constituem-na 122 obras em 215 volumes, sete manuscritos e numerosas estampas. 

- Coleção José Antônio Marques: entre 1889 e 1890, a Biblioteca Nacional recebeu de João Antônio Marques uma opulenta coleção formada de 3.920 obras em 6.309 volumes e alguns manuscritos relativos ao Brasil Colônia, incluindo Os Lusíadas, de a584, chamada «dos piscos», considerada raríssima. 

- Coleção Thereza Christina Maria: doada em 1891 pelo ex-Imperador D. Pedro II com o desejo expresso de que conservasse o nome da Imperatriz. É composta de 48.236 volumes encadernados e inúmeras brochuras, sem contar folhetos avulsos, fascículos de várias revistas literárias e científicas, estampas, fotografias, partituras musicais e mais de mil mapas geográficos impressos e manuscritos.

- Coleção Wallenstein: constituía o arquivo do diplomata russo Henri Jules Wallenstein. Com 2.800 documentos, constitui um acervo da maior importância para a história política, social e econômica do Brasil no século XIX, sobretudo para o período da Regência. 

- Coleção Benedito Otoni: pertenceu ao colecionador e bibliófilo José Carlos Rodrigues. Por ocasião de sua venda pública, foi adquirida pelo Dr. Júlio Benedito Otoni, que a doou integralmente à Biblioteca Nacional, em 1911. 

- Arquivo da Casa dos Contos: com cerca de 50.000 documentos e muitos códices, a coleção é proveniente da antiga Casa dos Contos de Ouro Preto e se completa com duas outras da mesma procedência que se encontram, uma no Arquivo Nacional e outra no Arquivo Público de Minas Gerais.  

- Coleção Alexandre Rodrigues Ferreira: documentação fartamente ilustrada com desenhos aquarelados de Joaquim José Codina e José Joaquim Freire, produzida pelo naturalista brasileiro Alexandre Rodrigues Ferreira relativa à viagem que empreendeu, por ordem de D. Maria I, pelas Capitanias do Grão Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá, entre 1783 e 1792. 

- Biblioteca Abraão de Carvalho: em 1953 recebeu a Divisão de Música e Arquivo Sonoro a biblioteca musical de Abraão de Carvalho adquirida pelo Governo Federal e composta de 17.000 peças. 

Dentro do acervo precioso da Fundação Biblioteca Nacional merecem especial destaque:

Manuscritos:

- Evangeliário (século XI–XII): exemplar em pergaminho com textos, em grego, dos quatro evangelhos. Letra semi-uncial. É o mais antigo manuscrito da Biblioteca Nacional.

- Livro de Horas (século XV): em latim. Letra gótica. Pergaminho. Iniciais decoradas a ouro e cores. Contém treze miniaturas de página inteira e quatro menores, algumas com vistas do Louvre e de Montmartre. Encadernação do século XVI, em couro, com motivos geométricos ornamentando as duas capas. Calendário em francês. 

- Códices sobre administração colonial: conjunto de atos dos governadores e capitães-gerais e dos vice-reis, incluindo correspondência com a Corte. Séculos XVII–XVIII.

- Mapa dos confins do Brasil com as terras da coroa de Espanha na América Meridional (1749): desse mapa se serviram os representantes de Portugal e Espanha para a delimitação dos domínios dos dois reinos ibéricos na América do Sul, pelo Tratado de Madrid de 1750. 

- Partituras originais das óperas de Carlos Gomes: O Guarani, Fosca, Maria Tudor, Salvador Rosa.

Impressos:

- Bíblia de Mogúncia (Bíblia Latina), Johann Fust e Peter Schoeffer, «in vigília assumpcõis gl’ose virginis Marie», 14 de agosto de 1462, 2v. A Biblioteca Nacional possui dois exemplares. A Bíblia de Mogúncia é o primeiro impresso que contém data, lugar de impressão e nome do impressor no colofão. Pergaminho, com letras capitais feitas a mão com tinta azul e vermelha. 

- Grammatica da Língua Portuguesa com os Mandamentos da Santa Madre Igreja. Lisboa, 1539. Trata-se da cartilha que precede a Gramática propriamente dita de João de Barros. É provavelmente o primeiro livro com ilustrações em xilogravuras, de caráter didático. Esse exemplar da «Cartinha» é exemplar único no mundo.

- Os Lusíadas, de Luís de Camões, Lisboa, 1572. Com a data de 1572 existem duas edições de Os Lusíadas. Numa delas o 7º verso da primeira estância do Canto I é «Entre gente remota edificaram», em outra, considerada realmente a primeira, o verso é «E entre gente remota edificaram». A Biblioteca Nacional possui a edição chamada Edição E e, ou seja a primeira das duas de 1572.

- Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas..., de André João Antonil. Lisboa 1711. Conhecem-se apenas seis exemplares dessa obra, apreendida pelo Governo Português, porque divulgava riquezas do Brasil e o caminho para as minas de ouro recém-descobertas.

- Relação da entrada que fez o excelentíssimo e reverendíssimo senhor D. Fr. Antonio do Desterro Malheyro, Bispo do Rio de Janeiro em o primeiro dia deste presente anno de 1749... Folheto de autoria de Luís Antônio Rosado da Cunha, considerado a primeira obra impressa no Brasil.(Rio de Janeiro, na Segunda Officina de Antonio Isidoro da Fonseca, Anno de MDCCXLVII). Embora o início da imprensa no Brasil date, oficialmente, de 1808, este documento prova que tal atividade já havia sido exercida anteriormente.

- Messiah an oratorio in scores as it was originally perfor’d de Handel. Exemplar da primeira edição do Messias, de Haendel, publicada em Londres em meados do século XVIII.

- Il dissoluto punto o sia Don Giovann, de Mozart. Exemplar da primeira edição da famosa ópera publicada em Leipzig, em 1801.

- Correio Brasiliense, primeiro jornal brasileiro. Publicado em Londres de 1808 a 1822 por Hipólito José da Costa. Defendia a união monárquico-constitucional do Império Luso-Brasileiro, só aderindo à Independência em julho de 1822. 

Estampas e Desenhos Originais:

- Estampas originais de famosos mestres das escolas européias, destacando-se, entre muitos, Albrecht Dürer, Stefano della Bella, Jacques Callot, Marco Antonio Raimondi e Manuel Marques Aguiar. Estampas originais de artistas brasileiros, como: Osvaldo Goeldi, Carlos Oswald, Iberê Camargo e outros.

- Estampas dos gravadores portugueses da Oficina Tipográfica, Calcográfica e Literária do Arco do Cego, de Lisboa. A FBN possui muitas das chapas originais em cobre. Em 1858 a biblioteca foi instalada num prédio na Rua do Passeio, onde hoje se encontra a Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 1902, no número 24 dos Anais da Biblioteca Nacional, o Diretor Manuel Cícero Peregrino da Silva expunha a seus superiores, em relatório anual, a necessidade de um prédio novo para acolher o sempre crescente acervo da Biblioteca Nacional.


O prédio atual da Fundação Biblioteca Nacional teve sua pedra fundamental lançada em 15 de agosto de 1905 e foi inaugurado cinco anos depois, em 29 de outubro de 1910. O prédio foi projetado pelo General Francisco Marcelino de Sousa Aguiar, e a construção foi dirigida pelos engenheiros Napoleão Muniz Freire e Alberto de Faria. Integrado à arquitetura da recém-aberta Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco, o prédio é de estilo eclético, em que se misturam elementos neoclássicos. As instalações do novo edifício correspondiam na época de sua inauguração a todas as exigências técnicas: pisos de vidro nos armazéns, armações e estantes de aço com capacidade para 400.000 volumes, amplos salões e tubos pneumáticos para transporte de livros dos armazéns para os salões de leitura.

Em meio à fachada principal, o edifício possui um pórtico com seis colunas coríntias, que sustentam o frontão ornamentado por um grupo em bronze, tendo ao centro a figura da República, ladeada por alegorias da Imprensa, Bibliografia, Paleografia, Cartografia, Iconografia e Numismática. O conjunto foi executado de acordo com maquete do artista nacional Modesto Brocos. Do lado direito da Portada, uma estátua de bronze, de Corrêa Lima, representa a Inteligência; uma outra, do lado esquerdo, da autoria de Rodolfo Bernardelli, representa o Estudo. Na parte superior da fachada, de cada lado do tímpano, vêem-se, em bronze, os anos da fundação da Biblioteca MDCCCX, e da inauguração do prédio, MCMX.



No saguão há, à direita e à esquerda, dois painéis do pintor norte-americano George Bidddle e dois baixos-relevos em bronze de sua esposa, a escultora Helena Sardeau Biddle. Essas obras de arte constituem oferta do governo dos Estados Unidos da América ao Brasil e foram inauguradas no dia 8 de dezembro de 1942. As escadas internas são de mármore com gradil de proteção em bronze com tratamento de pátina preta e friso formando o corrimão em latão dourado polido. No patamar do lance de escada entre o segundo e o terceiro andar, localiza-se o busto em mármore de D. João VI, esculpido em Roma, em 1814, por Leão Biglioschi e que pertenceu à Real Biblioteca.

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