29 de dezembro de 2011

UM MUSEU SUBTERRÂNEO EM MOSCOU - Aliona Legostaeva

Não é por sua rapidez que o metrô da cidade interessa a turistas de todo o mundo: suas estações são um verdadeiro museu de arquitetura russa soviética e contemporânea.

Foto: Reuters/Vostock-Photo
Em profundidades que vão de cinco (estação Petchatniki) a 80 metros (estação Park Pobedi) de suas calçadas, Moscou tem quase oitenta anos de histórias do governo, contados pelo mármore e pelo granito; pelo ferro e pelo vidro; por gostos, ideias, sonhos, esperanças e decepções de gerações passadas e das contemporâneas.

Mosaicos de metrô de Moscou Fotos: Aleksandr Ganiúschin
O metrô moscovita começou a ser construído em 1931, embora os primeiros projetos dos engenheiros Piotr Balinskov e Evguêni Knorre tenham sido sugeridos à Câmara dos Deputados de Moscou (Duma) em 1902. “De suas palavras, vinha a tentação: como o verdadeiro demônio, ele prometia colocar Moscou ao nível do mar e elevá-la aos céus", registrou o jornal Ruskoe Slovo (“Palavra Russa”) sobre a ideia de Balinskov.

Panorama da estação Electrozavódskaia 
Para a Duma, no entanto, não havia nada de tentador nas propostas dos engenheiros: a rica burguesia vivia no centro e não viajava nos trens lotados. Por isso, a princípio, a administração da cidade negou o pedido. Nos trinta anos seguintes, houve, no mínimo, mais cinco projetos diferentes para o metrô de Moscou, que não foram realizados.



Em 15 de maio de 1935, o metrô moscovita começou a trabalhar: os primeiros passageiros desceram a escada rolante de duas direções e sentaram nos macios sofás dos novos vagões (nos trens, os bancos eram feitos de madeira). A primeira linha, que seguia de Sokolnikov para Dvorets Sovietov (Palácio dos Sovietes, em russo, hoje Kropotinskaia), tinha 11 quilômetros e incluía 13 estações. Hoje, o metrô de Moscou conta com mais de 300 quilômetros de trilhos, 12 linhas e 182 estações. Nos planos de desenvolvimento da cidade, até 2020, serão construídos mais 120 quilômetros. 

Mosaicos de metrô de Moscou Fotos: Aleksandr Ganiúschin
Nos vinte primeiros anos, o metrô levou o nome de Lazar Kaganovitch – “comissário de ferro", braço direito de Stálin – que comandou a construção da primeira fase de metrô. Foi ele quem, durante o projeto da “Capital do Proletariado”, explodiu a Catedral do Cristo Redentor (reconstruída apenas na década de 90) em dezembro de 1931.

Panorama da estação Park Pobedi 
Em 1955, o metrô mudou de nome para homenagear Vladímir Lênin. Apesar das mudanças no curso da política da Rússia, suas representações podem ser encontradas em mais de dez estações: por exemplo, os bustos nas estações Bielorúski e Komsomolskaia, os mosaicos impressionistas nas estações Baumanskaia e Kiévskaia, o painel de azulejos da passagem entre a Borovitski e a estação Biblioteca Lênin. Brincadeira maldosa do destino é a estação Tsaritsino (cujo nome foi trocado para Lenino em 1990), onde Lênin mandou matar a família real, em uma cena retratada de frente e de perfil.
A mapa do metrô de Moscou
Hoje, não há imagens de Stálin, que estava presente em uma quantidade enorme de estações como símbolo da vitória na guerra do fim da década de 40, no metrô de Moscou. Após a sua morte, em 1953, o culto à sua imagem individual foi removido, esculturas foram levadas a armazéns e mosaicos e relevos foram arrancados. “Os caminhos de desenvolvimento da nossa arquitetura sobre a terra e abaixo dela não se diferenciam em nada. Tudo o que aconteceu lá em cima teve sua reverberação lá embaixo. Nunca foi ao contrário: arquitetura boa embaixo e ruim em cima”, conta o arquiteto-chefe do metrô moscovita, Nikolai Chumakov.

Sofisticação e ideologia



As primeiras estações de metrô, feitas em meados dos anos 50, eram como ricos palácios para o povo, arquitetura majestosa para um povo majestoso. Havia a ideia de que o metrô precisava ser de mármore, estuque, com partes de peças – esmaltadas e caras – de aviação: supostamente, de acordo com os construtores, o país não conseguiria preparar em um tempo curto tantos azulejos para revestir mais de mil metros quadrados. Segundo os críticos de arte, a rica decoração do metrô foi um passo ideológico e consciente – mais do que isso, um dos meios de glorificar o então novo país soviético.


Bons exemplos de arquitetura debaixo da terra do primeiro período são as estações construídas entre os anos de 1937 e 1955. Por exemplo, nas estações Maiakóvskaia e Novokuzniêtskaia, há um painel de mosaicos no teto, esboços do pintor Aleksandr Deineka: “O dia-a-dia dos países soviéticos” e “O trabalho heroico do povo soviético na retaguarda”. Eles foram reunidos pelo conhecido construtor Vladímir Frolov, autor dos ícones de mosaico da Igreja do Sangue Derramado de São Petersburgo. 



Na estação Praça da Revolução, é necessário achar no meio de 76 esculturas de bronze de trabalhadores, soldados, camponeses e estudantes o famoso guarda de front e seu cachorro – deve-se tocar em seu focinho para dar sorte. Todos os heróis, com exceção dos escoteiros, estão sentados ou inclinados, o que serviu de pretexto ao surgimento de uma triste piada: o homem soviético está sempre sentado ou de joelhos. Há uma explicação para isso, contudo. Para que as imagens das pessoas em tamanho natural coubessem nos arcos, foi preciso pedir ao escultor para desenhá-los nesta posição.

A melhor época para a arquitetura russa terminou em 1955, após a publicação de uma resolução do Partido que condenou o suposto excesso de apartamentos em projeção e construção. Sob o slogan “Quilômetros à custa da arquitetura”, construiu-se estações típicas e enfadonhas, sem trabalhos em estuque, mosaicos, colunas originais e nenhum outro elemento decorativo. Acima da terra, acontecia a mesma coisa: fabricaram-se edifícios impessoais de cinco andares, apelidados pelo povo de “khrushiovok” em referência ao então chefe do Estado Nikita Khrutchev. Para se ter ideia, basta olhar estações das décadas de 60 e 80 como Tverskaia, Kitai-Gorod e Kolomenskaia.

A terceira etapa de desenvolvimento do metrô, que poderia ser chamada de “Renascença”, começou com a reconstrução da estação Vorobiôvi Gori, em 2002. Na plataforma dessa estação, há uma bela vista do rio Moskva, o complexo esportivo Lujniki, o prédio da Academia de Ciência. Novamente, os projetos da estação ficaram a cargo dos cânones da arquitetura das décadas de 30 e 40 e, mais uma vez, pintores estão envolvidos no trabalho de desenho das estações.



Na estação Sretenski Bulvar, aparecem silhuetas de Púchkin, Gógol, Timiriazev e as paisagens de Moscou; painéis em preto e branco com os heróis dos romances “O Idiota”, “Os Demônios”, “Crime e Castigo” e “Os Irmãos Karamázov na estação Dostoiévskaia”; e uma paisagem pastoral em mosaico na estação Marina Rosha.

Em 2004, o primeiro sistema de transporte monotrilho na Rússia foi lançado, com uma linha não subterrânea (de 6 a 12 metros de altura) na parte norte de Moscou, que vai do Centro de Exposições Vserossiskoi até a estação de metrô Timiriazevskaia.



Nos próximos dez anos, o metrô de Moscou planeja ficar significativamente mais perto dos passageiros, não apenas porque alcançará ainda mais 120 quilômetros subterrâneos da cidade. "Queremos despir as estações do confinamento”, diz Nikolai Shumakov. “Tentamos mostrar ao espectador a construção, aquilo do que é feito o metrô. Ferro fundido, concreto, tudo isso é muito bonito.”

O metrô de Moscou abre diariamente às 5h30 da manhã e fecha à 1 h.

Prêmios de arquitetura do metrô de Moscou

Prêmios internacionais: estação Sokolniki (Grand Prix na Exposição Mundial em Paris, em 1937), hall da estação Krasnie Vorota (Grand Prix na Exposição Mundial em Paris, em 1937), estação Maiakóvskaia (Grand Prix na Exposição Mundial em Nova York, em 1939), estação Kropotinskaia (Grand Prix na Exposição Mundial em Bruxelas, em 1958), estação Komsomolskaia-koltsovaia (Grand Prix na Exposição Mundial em Bruxelas, em 1958).

Vagões incomuns

Se você tiver sorte, poderá andar em um vagão no estilo retrô, em uma galeria de arte sob rodas ou em uma biblioteca. Trens desses tipos estão inseridos no esquema normal de tráfego – ou seja, andam sem programação especial – em linhas específicas.

Vagão “Aquarela”: a parte externa do trem parece um caixão, com flores e frutas desenhadas. Por dentro, é uma galeria de arte com reproduções de quadros da coleção do Museu de Pintura V.M. e A.M. Vasnetsov. Fica na linha Arbatsko-Pokrvskaia (azul).

Vagão “Moscou que lê”: por dentro normal em um primeiro olhar, o trem é um cartão-postal de produção literária e ilustrações para crianças e adultos. Em cada vagão, há algo diferente, de contos de fadas infantis a Gogól. Fica na linha Koltsovaia (marrom).

Vagão “Poesia no metrô”: restaurado neste ano, a decoração do vagão foi dedicada aos poetas italianos, dentre eles Dante Alighieri, Francesco Petrarca e Giacomo Leopardi. Todas as produções e biografias são apresentadas em duas línguas: russo e italiano. Fica na linha Filevskaia (azul-escura).

Vagão “Sokolnik”: por dentro e por fora, parece exatamente como o primeiro trem do metrô de Moscou. Possui sofás macios, paredes de acabamento característico e luminárias retrô. É pintado na cor marrom. Fica na linha Sokolnitcheskaia (vermelha).

Extraído do sítio Gazeta Russa

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