24 de dezembro de 2011

HISTÓRIA EM MEGABYTES - Felipe Sales

Em tempos de livros digitais, ‘bibliotecas públicas virtuais’ aproximam os leitores de grandes autores que já caíram em domínio público – e também de obras pirateadas e até proibidas pela Justiça. 

Capa do livro de Capistrano  de
Abreu, transformado em ebook
Não há dúvidas de que os historiadores gostam mesmo é de papel – de preferência, velho. Mas em tempos de tanta documentação histórica digitalizada – e diante da popularização de tablets que agitam o consumismo natalino –, a RHBN Online preparou o caminho das pedras para os leitores mais modernos encontrarem livros eletrônicos gratuitos no emaranhado de megabytes da internet.

Há uma infinidade de obras em domínio público presentes nas estantes das bibliotecas públicas virtuais, que permitem pegar livros “emprestados” por tempo indeterminado. É o caso, por exemplo, de um dos nossos mais célebres escritores. Machado de Assis conta até com um site especial, feito pelo Ministério da Educação, que disponibiliza em formato PDF a obra completa do primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras. Até as correspondências do escritor podem ser baixadas para o seu computador ou tablet.

O site Domínio Público, do Ministério da Educação, é o oásis dos novos leitores, com mais de 180 mil obras à disposição. Quem não ganhou um tablet no Natal não precisa se preocupar: os livros são disponibilizados, na maioria das vezes, em formato PDF e HTML, padrão das páginas de internet que pode ser visto em qualquer computador. Desde 2004, já foram feitos mais de 30 milhões de downloads de livros diversos.

Apenas sobre História Geral, são 1.263 obras – 726 delas em português. A mais acessada é “A escravidão”, de Joaquim Nabuco, lida virtualmente por mais de 33 mil pessoas. Outro que se destaca é “História do Brasil: 1500-1627”, de Frei Vicente de Salvador. Quem não leu o célebre “Capítulos de História Colonial (1500-1800)”, de João Capistrano de Abreu, pode começar a qualquer momento.

Obviamente, a benesse não se restringe aos autores nacionais. Basta um clique para ter acesso a obras de William Shakespeare, Fernando Pessoa e Dante Alighieri – best seller online, com mais de 1,7 milhão de livros baixados –, passando por Pero Vaz de Caminha e Luís de Camões. Não há por que se preocupar com o idioma: o site oferece 16 opções – de latim a sânscrito! –, incluindo, obviamente, versões em português.

Bibliotecas virtuais estaduais e independentes

Livro de 1908 sobre o Amazonas
Outras opções interessantes são o Google Livros e os sites independentes Biblio e eBooksBrasil. Porém, há alguns problemas: o Google não permite a busca por disciplina, mas torna-se uma boa opção para quem sabe o que procura. Já os outros não têm uma navegabilidade muito fácil de lidar.

Mas o melhor é que a ideia se irradia por outros estados. O governo do Amazonas, por exemplo, criou sua própria Biblioteca Virtual onde é possível encontrar o “Almanaque do Amazonas para 1908”, repleto de informações sobre Manaus no início do século XX, com direito a fotos e informações gerais da cidade. Já a editora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) resolveu disponibilizar, gratuitamente, 120 títulos acadêmicos em formato digital. Desde o ano passado, mais de 60 mil pessoas fizeram o download.

Exclusivo na internet

Na internet é possível não só encontrar livros para todos os gostos e preços, mas também preciosidades bem longe das prateleiras, graças à Justiça brasileira.

Capa do livro proibido pela Justiça
 e disponível na internet
É o caso de “Roberto Carlos em detalhes”, do historiador Paulo César de Araújo, à disposição, com exclusividade, na internet. Para desespero do rei, que proibiu a comercialização da obra, o Google sinaliza mais de 6 mil sites disponibilizando gratuitamente o livro que disseca a vida do cantor. Paulo César, que não tem ideia de como a obra foi parar na rede, não se cansa de receber e-mails de leitores, não só do Brasil como da Argentina, México e Portugal.

O livro apareceu digitalizado logo após a proibição, em abril de 2007. Na época, até o então ministro da Cultura, Gilberto Gil, admitiu que estava lendo a biografia pela internet. Apesar de não capitalizar um trabalho de 15 anos de pesquisa, que abrangeu cerca de 200 entrevistas, Paulo César vê um lado positivo.

“A rapidez e amplitude com que isto aconteceu podem ser vistas como um ato de desobediência civil, uma reação da sociedade contra a censura. Isto eu acho positivo. Só lamento que meu livro não possa continuar também livremente nas livrarias, na forma como foi originalmente publicado. Seja como for, o importante é que 'Roberto Carlos em detalhes' continue acessível ao público. Eu escrevi para ser lido”. 

‘Democratização da leitura’

Por outro lado, vários sites e blogs disponibilizam obras inteiras pirateadas – em alguns casos, envoltas num vies ideológico de democratização da leitura. Num manifesto na internet, os idealizadores do projeto argumentam que a democratização do acesso à tecnologia e a precariedade dos espaços físicos de leitura obrigam a “reconhecer a falência do governo em prover sua população com as ferramentas tradicionais de inclusão cultural, como as bibliotecas”.

O projeto – que conta com mais de 50 mil usuários cadastrados – parte da hipótese de que “as bibliotecas digitais têm o potencial de provocar mudanças no hábito de leitura e ampliar o acesso a livros”. Até aí, tudo bem. Só falta combinar com os autores que, afinal, precisam sobreviver para manter a "causa".

Num desses sites são oferecidos, só de História Geral, 19 títulos, como o “Livro das moedas do Brasil – 1643 até o presente”, de Cláudio Amato, Irlei Neves e Arnaldo Russo, e até os oito volumes de “História da Geral África”. Nenhuma editora escapa, ao ponto de algumas capas de livros ganharem até selo do site pirata.

Iniciativas em prol de pesquisadores e leitores

Mas como a nova ordem veio para ficar, a Biblioteca Nacional, claro, não ficaria de fora e está com um laboratório de digitalização a todo vapor, seguindo a tendência das bibliotecas mundo afora. A BN faz parte do projeto Biblioteca Digital Mundial, juntamente com instituições de Alexandria, Egito e Rússia. O projeto prevê a digitalização de documentos, cartas, fotos e mapas nas seis línguas oficiais da ONU (inglês, francês, espanhol, árabe, chinês e russo), além do português, graças à participação da Biblioteca Nacional. Estão sendo digitalizados 1.500 mapas raros dos séculos XVI a XVIII, além de 42 álbuns com cerca de 1.200 fotos da Coleção Thereza Christina Maria, doada pelo Imperador D. Pedro II à BN.

Mas, quem não aguenta de saudade do cheirinho de papel, a internet também oferece uma solução. O site Trocando Livros faz, justamente, o que o nome propõe: você cria uma lista de livros que quer trocar e fica aguardando o interesse de algum usuário. Quando houver a solicitação, você envia pelos correios e ganha um crédito para solicitar outro livro. E quem estiver de olho na estante alheia, pode comprar crédito por uma quantia pré-fixada.

Extraído do sítio da Revista de História.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários serão moderados. Não serão mais publicados os de anônimos.