30 de dezembro de 2011

A ESFINGE - Myriam Fraga

Ingres (francês, 1780-1867), Édipo e a Esfinge
Revesti-me de mistério 
Por ser frágil,
Pois bem sei que decifrar-me 
É destruir-me.

No fundo, não me importa 
O enigma que proponho.

Por ser mulher e pássaro 
E leoa,
Tendo forjado em aço 
As minhas garras, 
É que se espantam 
E se apavoram.

Não me exalto.
Sei que virá o dia das respostas 
E profetizo-me clara e desarmada.

E por saber que a morte 
E a última chave,
Adivinho-me nas vítimas que estraçalho.

Salvador, 1964 - De O Risco na Pele (1979)


Extraído de Boletim nº 273 de Poesia.net do sítio Alguma Poesia


Myriam Fraga - Escritora, poeta, jornalista e biógrafa. Tem 20 livros publicados, entre poesia e prosa. Pertence à Academia de Letras da Bahia e ao Conselho de Cultura do Estado. Participou de várias Antologias no Brasil e exterior, tendo poemas traduzidos para o inglês, francês e alemão. Entre suas recentes publicações: Sesmaria e Femina (poesia), Jorge Amado, Castro Alves, Luis Gama e Carybé (literatura infantil), Leonídia – a musa infeliz do poeta Castro Alves (biografia). É diretora da Casa de Jorge Amado, em Salvador, Bahia, Brasil.

“A poesia de Myriam Fraga insere-se nesta vertente que não apela para o tom confessional do sujeito que canta. Poesia de grande força expressiva, épica e dramática, configura um que se coloca em constante estado de alerta para colher e acolher os resíduos de acontecimentos que constituem a história coletiva através d de seus personagens e seus mitos. “ (...) “E, nesta perspectiva, o tempo e a memória constituem importantes vertentes da poesia desta autora, transformando-se em uma temática que perpassa os vários poemas: Guardo a memória / Do mundo / E amadureço / Intemporal e etérea /No que teço.” EVELINA HOISEL (Antonio Miranda)

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