4 de dezembro de 2011

DOIS PRÉDIOS DA UFRGS SÃO PATRIMÔNIOS NACIONAIS - Lorena Paim

Ramiro Furquim/Sul21

No campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, dois prédios históricos destacam-se por serem tombados: o da Faculdade de Direito e o do Observatório Astronômico. Ambos, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), com processo efetivado em 2000. Essas duas edificações estão inseridas no amplo acervo arquitetônico da instituição, de grande valor histórico e cultural.

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O Observatório foi projetado exclusivamente para este fim e mantém o mesmo perfil até hoje, o que não acontece com algumas unidades da UFRGS. Embora poucos porto-alegrenses e turistas saibam, ele é aberto à visitação gratuita, com dias específicos para o público em geral (terças e quintas-feiras) e para escolas. Nessas ocasiões, além de conhecer as instalações e o acervo técnico, é possível observar o céu da capital, após o anoitecer, tanto no telescópio moderno quanto na antiga luneta instalada sob a cúpula móvel ao lado do terraço. Orientado por um monitor, o visitante poderá observar a Lua, estrelas e planetas e ter a sensação, por momentos, de que está longe do burburinho da cidade.

A construção já é centenária. Hoje, está ligada ao Instituto de Física, não mais à Engenharia, como no tempo da inauguração, em 1908. A pedra fundamental havia sido colocada dois anos antes, pelo presidente do Estado (governador) Borges de Medeiros. O então Instituto Astronômico e Meteorológico (IAM) teve com primeiro diretor o arquiteto Manoel Assumpção Itaqui, professor da Escola de Engenharia e autor do projeto. No mesmo ano, chegavam de Paris a luneta equatorial Gautier, de 190 mm, e a luneta de círculo meridiano Gautier de 75 mm. A mais potente ainda está em uso.

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No início, as funções principais do Observatório eram fornecer a hora certa e a previsão do tempo. Um ano após a fundação, o governo do Rio Grande do Sul ali implantou o Serviço Meteorológico do Estado, com a tarefa de instalar 34 estações, sendo 26 meteorológicas e oito pluviométricas, constituindo a rede meteorológica do Rio Grande do Sul. A Meteorologia ficou no local até 1921.

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Como, na época, cada cidade do mundo determinava sua hora local, sem estar em vigor ainda o padrão mundial de tempo pelo GMT (de Greenwich), era importante outro serviço prestado pelo Observatório da UFRGS. Em 1911, foi contratado o astrônomo Friedrich Rahnenführer, de Königsberg, Alemanha, que fazia a determinação da hora local, chegando à extrema precisão. Às 19h55min acendia-se uma “lâmpada encarnada” que se apagava às 20h na torre do antigo Colégio Júlio de Castilhos, nas proximidades, e, mais tarde, na Intendência Municipal (atual Prefeitura). Assim, a população de Porto Alegre podia contar com a hora certa a partir daquele serviço.

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O estilo do prédio é art nouveau belga, constituindo o mais rico e completo exemplar remanescente na cidade. A fachada principal, rica em elementos decorativos, ostenta a estátua de Urânia, musa da astronomia. No interior, na Sala Meridiana, chama atenção o afresco de Chronos (Saturno), deus do tempo. Na fachada norte, estão ícones do Sol, Netuno e Urano. Para o arquiteto Edison Alice, da SPH – Secretaria de Patrimônio Histórico da UFRGS, os atributos arquitetônicos, por si, justificam o tombamento. “Era um estilo forte na época e havia toda a simbologia na fachada. O nosso Observatório tinha referenciais importantes, de outros que surgiam na América”, afirma.

Ao longo do tempo, a edificação sofreu poucas transformações. Em 1921, foram substituídos os vidros e a pintura a óleo fervido das esquadrias. Em 1966, pela ocorrência de um eclipse total do Sol e por ser o Rio Grande do Sul uma região favorável à sua observação, ele passou por reformas gerais. Em 1986, devido ao estado de degradação do edifício de quatro pavimentos, foram realizadas obras de conservação. Entre 2001 e 2002 foi feita uma obra ampla de restauração. A cúpula sofreu tratamento anticorrosivo; o mecanismo de abertura e o forro de madeira foram restaurados. Consolidaram-se alvenarias e rebocos. A pintura externa e a do mural foi refeita.


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Dez anos depois, o Observatório Astronômico já se ressente de alguns desgastes. Observam-se pequenas rachaduras e alguma umidade no terraço. Para Claudio Bevilacqua, físico que trabalha no local, um grande problema é a “poluição luminosa” provocada por edificações do entorno, que prejudicam a visibilidade dos astros.

Dois presidentes da República passaram pelos bancos do Direito

A Faculdade de Direito da UFRGS, cujo prédio também foi tombado pelo Patrimônio Nacional, teve alunos ilustres, a começar por dois ex-presidentes da República, Getúlio Vargas (diplomado em 1907) e João Goulart (graduado em 1939). Nos bancos escolares, Vargas deu os primeiros passos na vida política, como porta-voz da mocidade acadêmica; foi aluno brilhante, aprovado “plenamente” nas disciplinas e com “distinções”.

Ramiro Furquem/Sul21
A instituição teve também, entre seus estudantes, oito ministros de Estado, além de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), do Superior Tribunal de Justiça (STJ), do Superior Tribunal Militar. Formaram-se ali, também, cinco governadores gaúchos: Getúlio Vargas, Walter Só Jobim, Pompilio Cylon da Rocha, José Amaral de Souza e Alceu Collares. Esses dados são apresentados no livro “História da Faculdade de Direito de Porto Alegre – 1900-2000”, escrito por Rodrigues Till por ocasião do centenário da instituição.

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Criada em 1900, a Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre resultou da iniciativa de 31 magistrados de ideais reformistas, entre os quais Manoel André da Rocha. Por sua contribuição como professor e diretor, até hoje a Faculdade é conhecida como “Casa de André da Rocha”. Foi o primeiro curso de Direito do Rio Grande do Sul; antes, os acadêmicos tinham de recorrer a outros estados para sua formação. O Centro Acadêmico, fundado em 1917, é pioneiro na implantação do Serviço de Assistência Judiciária Gratuita no Brasil.

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Somente dez anos depois da criação, o Direito conseguiu ter sede própria, no Campo da Redenção, atual Parque Farroupilha, em terreno doado pela Municipalidade, quando era prefeito José Montaury. A construção durou dois anos, com execução do escritório de Rudolf Ahrons e projeto do arquiteto Hermann Otto Menchen. A arquitetura foi inspirada no Palácio do Reno, residência de verão do Kaiser Guilherme II em Estrasburgo.

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Como no terreno a ser utilizado funcionava um misto de teatro e parque de diversões, nas proximidades da Santa Casa, foi prevista uma indenização ao seu proprietário. Para a construção do prédio, o próprio André da Rocha e o professor Leonardo Macedônia encabeçaram uma campanha para arrecadar fundos. Verbas foram conseguidas com quermesses, bailes e doações diversas, inclusive de outras cidades, destacando-se Pelotas. Em 15 de julho de 1910, os jornais relatam a inauguração festiva da nova sede, após dois anos de obras, com “baile inaugural de gala, luzes em profusão, jardins improvisados”.

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Segundo dados da UFRGS, “a arquitetura monumental do prédio é definida por um volume original em forma de prisma regular, apresentando simetria e amplos espaços que se voltam para o exterior. As áreas de circulação interna são iluminadas e ventiladas pelo pátio central. Marcante na edificação, seu corpo central é coroado por uma grandiosa cúpula em barrete de clérigo e ainda antecedido por um pórtico duplo onde uma colunata, encimada por um frontão clássico, apoia-se sobre a entrada em forma de arcos, marcando a hierarquia. O acesso principal apresenta um portão de ferro, ricamente trabalhado, que se abre para o saguão do edifício. O saguão introduz à escadaria interna, de mármore, com corrimão em estuque veneziano, exemplar raro na arquitetura de Porto Alegre e em cujo patamar sobressaem os vitrais, de José Wollmann, representando a Justiça, a Doutrina e a Ciência. Belíssimos afrescos revestem suas paredes. Integrados perfeitamente ao projeto original, os espaços da biblioteca e do auditório, chamado Salão Nobre, resultaram de uma ampliação realizada em 1951. Neste último, destaca-se uma magnífica pintura mural de Ado Malagoli. Externamente, diversos ornamentos enriquecem as fachadas que no primeiro andar tem acabamento rústico. O artista veneziano Frederico Pellarin realizou as esculturas figurativas da cúpula.

Ramiro Furquim/Sul21
No início, funcionaram ali, ainda, a Escola Superior do Comércio, a Faculdade de Ciências Econômicas, a Faculdade de Filosofia e a Reitoria. Além disso, na época da Segunda Guerra Mundial, abrigou um estabelecimento militar, de preparação de oficiais da reserva. O Colégio Júlio de Castilhos, situado à sua direita, foi destruído por um incêndio em 1951. No entorno ficavam ainda os edifícios da Companhia Carris e do Quartel do 13º Batalhão de Infantaria, que não existem mais.

No período de 2002 a 2005, foram feitas obras de restauração e recuperação, incluindo os vitrais (que representam a Justiça, a Doutrina e a Ciência), nas cores azul, amarelo, âmbar e vinho, a recuperação dos afrescos internos e do mural do auditório. Também foi feito o restauro do mural de Ado Malagoli existente no Salão Nobre. Obras gerais exigiram grandes recursos para a recuperação, contando com recursos da iniciativa privada. Os trabalhos incluíram conserto da cobertura; obras de infraestrutura; reformas de pisos; recuperação de escadas; obras de acessibilidade, entre outros itens.

Hoje, o portão principal só é aberto em ocasiões especiais, sendo usado o acesso lateral, junto ao estacionamento. As razões alegadas são segurança e poluição sonora e do ar, em função do intenso movimento na Avenida João Pessoa. O que gerou, inclusive, a colocação de portas de vidro transparente, que permanecem fechadas, para conter as ameaças do ambiente externo.

Ramiro Furquim/Sul21
Endereços

Faculdade de Direito da UFRGS – Avenida João Pessoa, 80. Campus Centro. Porto Alegre - Telefone (51) 3308-3464 - site: www.ufrgs.br/direito

Observatório Astronômico – Praça Argentina, s/n°. Campus Centro. Porto Alegre - Telefone (51) 3308.3352 - site: www.if.ufrgs.br/observatorio

Extraído do sítio Sul21

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