26 de outubro de 2012

O RETRATO E A VAIDADE - Maryella Sobrinho

Os embaixadores de Hansholbein. (Acervo/Galeria Nacional de Londres)
Desde que a pintura passou a ser considerada a linguagem e técnica mais importante na arte, o gênero pictórico do retrato sempre teve posição privilegiada em relação a outros gêneros. Porém, essa classificação nem sempre existiu na história da arte ocidental: até o século XIV, todas as pinturas eram narrativas (cenas históricas, especificamente) ou religiosas.

Somente a partir dos séculos XIV a XVI que os gêneros surgiram como forma de classificar as temáticas, como a natureza-morta, a paisagem e a pintura de gênero (que apresentava cenas do cotidiano).

Apesar de muitos pintores poderem se dedicar a diversos gêneros, o surgimento dessa classificação fez com que muitos artistas se especializassem em gêneros específicos. Exemplo disso é Rembrandt (século XVII), que se tornou um grande retratista, ainda que se dedicasse também à pintura de algumas cenas religiosas.

Pintados a partir de modelos vivos, documentos, ou até mesmo de memória, geralmente, os retratos eram encomendas feitas pela realeza e nobreza; e após uma série de transformações sociais e econômicas – principalmente após a Revolução Francesa – passaram a ser feitas pela elite burguesa.

Ter sua própria imagem representada em uma pintura era e continua sendo uma maneira de ostentar prestígio social e tornar sua imagem eterna. Exemplo disso é a obra literária O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde.

A beleza do jovem permanece com o passar dos anos, e, em contraposição, a imagem de seu retrato, escondido de todos, envelhece e se desfigura. Vemos então, que o retrato está diretamente relacionado à vaidade dos retratados.

Na história da pintura, essa concepção de vanitas (vaidade, em latim, significa a futilidade e vacuidade) era representada por determinados elementos nos retratos (individuais ou coletivos) como uma estratégia utilizada pelos pintores, uma forma de ‘lembrete’ da efemeridade da vida.

Vanitas Fernando Vicente 14 Deslenguada. (Divulgação)
Os elementos principais que representam o vanitas são caveiras, ampulhetas, frutas, flores, borboletas. Todos esses objetos simbolizam a decadência do envelhecimento, a brevidade e a fragilidade da vida. A principal representante da vaidade, a caveira é apresentada na pintura Os embaixadores, de Hans Holbein (1533, óleo sobre tela).

Representada de forma distorcida, no centro da composição, a caveira se opõe aos objetos representados ao fundo, como o globo, o instrumento musical, a luneta e o livro (símbolos do conhecimento e da cultura, que após a morte, não teria pertinência no mundo espiritual).

Esse tipo de representação não está preso aos séculos XV e XVI. Na contemporaneidade também existem artistas que trabalham com esta temática. Vemos o retrato Deslenguada, de Fernando Vicente (s/data), em que a bela moça aparece com suas vísceras expostas. Afinal, tudo é passageiro.

Maryella Sobrinho é graduada em Artes Plásticas pela Universidade de Brasília e mestranda de Teoria e História da Arte pela mesma Universidade. Cursou Metodologia da História da Arte no Instituto Superior del Arte Madrid em 2012.

Extraído do sítio The Epoch Times

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