25 de outubro de 2012

ALVES REDOL TROCOU CARTAS COM JORGE AMADO E ATÉ ENVIOU BACALHAU PARA PARIS


Jorge Amado, autor de “Gabriela”, pediu bacalhau a Alves Redol. Por mais de uma vez o escritor vilafranquense enviou o pescado para Paris, vivia então o escritor baiano na pobreza do exílio. Um “bom quilo para matar as saudades” das comidas portuguesas que eram afinal também brasileiras.

“Devo-te carta antiga. Quando ela chegou (e mais o bacalhau esplêndido que agradeço infinitamente), eu estava em viagem”. Começa assim uma das cartas trocadas entre o escritor brasileiro Jorge Amado e o romancista vilafranquense, Alves Redol. O bacalhau enviado para Paris mas também para Dobris, na Checoslováquia, onde Jorge Amado morava em início dos anos 50, fazia as delícias de Jorge e Zélia. Além do bacalhau, “um bom quilo de bacalhau, para matar saudades das comidas que são portuguesas mas são também brasileiras”, Jorge Amado pedia ainda revistas, livros e notícias. A correspondência ilustra a relação carinhosa entre os dois escritores e está presente na exposição “Jorge Amado e o Neo-Realismo Português”, inaugurada sábado, 20 de Outubro, no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, onde ficará até março.

As cartas são da colecção de António Mota Redol, filho do escritor vilafranquense, que nunca chegou a conhecer Jorge Amado mas soube agora que o pai lhe enviava bacalhau. No espólio, separado pelo filho, encontram-se calorosas dedicatórias feitas pelo escritor baiano a Alves Redol. A relação iniciou-se em 1948, no congresso mundial dos intelectuais pela paz, e estendeu-se pela vida fora. A amizade e a literatura ligava-os, apesar de um oceano que os separava, lembra o director do Museu do Neo-Realismo, David Santos.

A investigação levada a cabo por João Marques Lopes, curador da exposição, vem demonstrar que entre o escritor brasileiro e os escritores portugueses neo-realistas, em particular Alves Redol, mas também Mário Dionísio, Soeiro Pereira Gomes, Joaquim Namorado, Orlando da Costa ou Fernando Namora, se estabeleceram não apenas laços estreitos de amizade como profundas e recíprocas influências literárias no sentido de uma escrita de idênticas preocupações. Jorge Amado era um quadro de confiança do Partido Comunista Brasileiro e do próprio kremlin, estava proibido de entrar em Portugal e tinha algumas obras banidas.

O curador da exposição João Marques Lopes destaca a carta de Dezembro de 1958 e enviada do Rio de Janeiro em que Jorge Amado diz que tanto a redoliana “Barca dos Sete Lemes”, como a sua “Gabriela”, resulta de “uma mesma crise e tentativa de renovação estética face aos processos cristalizados do realismo socialista (nome dado à corrente no Brasil) ou neo-realismo”.

“Não sei o que achaste de Gabriela (no Brasil é sucesso sem precedentes, cinco edições em quatro meses, quarenta mil exemplares já vendidos). Quanto ao teu último romance, a “Barca”, gostei muito, muitíssimo. Creio ser o teu melhor livro. E penso que, de certa maneira, ele e “Gabriela” representam em nossa obra a mesma coisa, resultados que são da mesma crise, de problemas e dúvidas vividos da mesma maneira”, escreve Jorge Amado.

Uma nova versão da novela, com base na obra de Jorge Amado, está a passar no pequeno ecrã, 35 anos depois de ter feito Portugal parar.

O vereador da Cultura de Vila Franca de Xira, Fernando Paulo, sublinhou que a exposição assinalou o início das comemorações dos cinco anos do museu mas também o centenário do escritor Jorge Amado. Para 3 de Novembro está marcada a sessão evocativa do aniversário do museu com Ruben de Carvalho.

Extraído do sítio O Mirante

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