23 de outubro de 2012

VINÍCOLAS FOGEM DA ARGENTINA - Marina Guimarães

Valle de Uco - Mendoza
A única marca forte de vinho argentino no mercado mundial, o Malbec, está ameaçada. A equação entre insumos, mão de obra, importação de bens e vendas internas e externas se desequilibrou. Os executivos concordam que o câmbio e a inflação corroem a competitividade. Os exportadores enfrentam um momento difícil, mas a indústria de vinho já mostra sinais de estrangulamento.

"Com 25% de inflação nos últimos quatro anos e câmbio fixo, qualquer projeto de negócios perde a margem de lucro. Os que têm margem alta aguentam, mas outros cortam postos de trabalho e produção", comenta o empresário espanhol José Manuel Ortega Fournier, dono da vinícola O.Founier, instalada no Valle de Uco, uma das principais áreas produtoras do país, na província de Mendoza.

A câmara dos exportadores locais, Bodegas Argentinas, afirma que não há registro demissões em massa, mas segundo fontes do setor, os casos de dificuldades se multiplicam. Há cerca de duas semanas, a vinícola Salentein fechou sua unidade de frutas em Tunuyán e demitiu os 146 empregados. A vinícola La Celia, do grupo chileno San Pedro, demitiu 30 trabalhadores, enquanto La Faraón está envolvida em um conflito trabalhista com empregados que acusam a empresa de interromper a produção.

Bom vizinho. O analista e consultor José Luis Espert observa que os vinhos mais caros e sofisticados estão sendo substituídos por similares baratos, vendidos a granel. Espert afirma que é chamativa a decisão, cada vez mais frequente, de empresas que optam por transferir parte de suas estruturas para o Chile. Mendoza faz fronteira com o país vizinho, onde os controles do governo de Cristina Kirchner podem ser driblados.

Muitas vinícolas exportam a granel o vinho produzido na Argentina para ser engarrafado no Chile e, posteriormente, exportado a outros mercados. As empresas fogem da alta dos salários e da energia e dos impostos altos, afirma Espert.

Os empresários reclamam das restrições ao dólar e às importações. As empresas não podem redistribuir seus lucros e nem realizar remessas ao exterior. Também são impedidas de importar peças e máquinas. "Todo mundo depende da autorização de Moreno, que não entende coisas básicas como o fato de a indústria nacional não produzir a maioria das máquinas e peças que usamos na fabricação de vinhos", reclama o gerente de produção de uma das vinícolas.

Com a restrição das importações, os empresários ficam à mercê de apenas dois fabricantes nacionais de garrafas e dois de embalagens de papelão. "São poucos fornecedores nacionais para o tamanho da indústria e a importação é praticamente nula, somente permitem importar algumas rolhas", comenta o gerente.

A primeira empresa a transferir uma parte de suas operações comerciais para solo chileno foi a Trivento, da holding Concha y Toro, em junho. A razão foi matemática pura: o Chile é 20% mais competitivo que a Argentina.

Extraído do sítio Estadão

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