24 de outubro de 2012

LIVRO COM TEXTOS INÉDITOS REVELA OUTRAS FACES DE GRACILIANO RAMOS - Gabriel Camões

Obra lançada para marcar os 120 anos de nascimento do autor traz 14 crônicas publicadas em 1921.

Livro é homenagem ao nascimento do escritor
A obra Garranchos – Achados Inéditos de Graciliano Ramos (Record/R$ 49,90/378 páginas), com organização do pesquisador paulista Thiago Mio Salla, 32 anos, é no mínimo reveladora. A publicação reúne 81 textos - produzidos entre 1910 e 1950 - do escritor alagoano Graciliano Ramos (1892-1953), um dos mais influentes e respeitados autores do Brasil.

Lançado para marcar os 120 anos de nascimento do autor, que se completam nesse sábado, o livro torna visível matizes pouco conhecidas da obra do autor de Vidas Secas (1938). Garranchos reúne publicações na imprensa, discursos, cartas, um conto e até o primeiro ato de uma peça teatral. 

“A ideia do livro é mostrar textos desconhecidos e novas nuances da obra deixada por Graciliano”, explica Thiago Salla, que nos últimos sete anos tem se dedicado a investigar a obra de Graciliano.

Imprensa 

Já na parte inicial de Garranchos, é apresentada uma diversidade de textos escritos por Graciliano nos anos 20, quando ele regressa do Rio de Janeiro e retoma suas atividades de jornalista no interior de Alagoas. 

Ao se estabelecer na cidade de Palmeira dos Índios, ele começa a colaborar com o periódico O Índio, em que fica responsável por três seções. 

O livro traz 14 crônicas publicadas em 1921, numa dessas seções, batizada por Graciliano de Garranchos, em textos assinados sob o pseudônimo X. “Era uma forma inteligente de rebaixar o próprio texto e captar a benevolência do público”, conta Salla, que batizou a obra com este termo, por esta revelar, na maior parte de seus textos, um Graciliano atuante e participativo.

Engajado

No fim dos anos 20, ainda em Palmeira dos Índios, Graciliano foi eleito prefeito, mas ocupou o cargo apenas por dois anos e renunciou em 1930. Em uma das suas autodescrições, disse: “Quando prefeito de uma cidade do interior, soltava os presos para construírem estradas”. 

Ao abandonar a vida política, mudou para Maceió e essa fase é mostrada na terceira parte de Garranchos, que traz textos de Graciliano publicados em vários jornais do Nordeste, sob o pseudônimo de Lúcio Guedes.

Nas crônicas, ele elucida problemas de gestão em prefeituras alagoanas, a educação no estado e sai em defesa da literatura nordestina produzida na época.

Esse engajamento político e a sua preocupação com questões sociais estão presentes também na última parte da obra, com textos produzidos após o ingresso de Graciliano no Partido Comunista do Brasil (PCB), em 1945. 

Nessa seção, Thiago Salla destaca a crônica Prestes, de 1949, escrita por ocasião do aniversário do líder e mito comunista Luís Carlos Prestes (1898-1990). “Apesar de ser um texto elogioso, ele consegue descrever Prestes como homem, e não como herói ou mito”, aponta.

Conto e peça 

Dois textos de Garranchos chamam atenção por iluminar mais claramente as experiências que Graciliano fez ao transitar por outras searas literárias. O primeiro é o conto O Ladrão (1915), quando Graciliano tinha 22 anos. “Se você o lê com atenção, já dá para ver o narrador em primeira pessoa e outros elementos que ele exploraria futuramente em sua obra”, comenta Thiago Salla.

O outro é uma peça de teatro inacabada, chamada Ideias Novas (1942): “Não se sabe por que ele não deu continuidade. Mas isto elucida uma incursão dele pelo gênero teatral, uma aproximação efetiva com as artes”.

Celebração 

Além do livro, outras ações marcam as comemorações do aniversário de nascimento do escritor. Três capitais abrigam o seminário Graciliano Ramos - 120 Anos. Ontem, o evento estreou em São Paulo e hoje, às 19h30, é a vez de Belo Horizonte recebê-lo, com participações do crítico literário Benjamin Abdalla e o escritor Luiz Ruffato. 

Na próxima semana, Recife segue com o projeto e as homenagens. E, em julho de 2013, o “Velho Graça”, como era conhecido na roda de amigos escritores, será o homenageado da 11ª Festa Literária Internacional de Parati (Flip).

A amizade dos mestres Graciliano e Jorge Amado

Entre as personalidades mais citadas nos 81 textos que compõem Garranchos está o escritor baiano Jorge Amado (1912-2001). Ele também é tema central de um dos cinco manuscritos que Thiago Salla, organizador da obra, localizou no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB). 

No texto, Graciliano Ramos faz uma espécie de balanço das obras que o marido de Zélia Gattai já havia publicado e faz menção a personagens dos romances Suor (1934), Jubiabá (1935) e Mar Morto (1936). 

O escritor alagoano mostra toda sua admiração pelo fato de Jorge Amado construir suas histórias com personagens reais, com seus defeitos e qualidades. “Os mestiços de Jorge Amado não são bons nem maus, ou antes são as duas coisas ao mesmo tempo, e por isso confundem-se com os brasileiros de carne e osso”, afirma Graciliano no texto. 

Na crônica O Romance do Nordeste, de 1935, ele se refere aos trabalhos de Jorge Amado e do paraibano José Lins do Rêgo (1901-1957): “São políticos, são revolucionários, mas não deram a ideias nomes de pessoas: os seus personagens pensam como nós, sentem como nós, preparam suas safras de açucar, bebem cachaça, matam gente e vão para cadeia”. 

A amizade entre o alagoano e Jorge Amado é notória. Tudo começou em 1933, quando Jorge teve acesso aos originais do romance Caetés, de Graciliano Ramos. Empolgado com o talento de colega, ele viajou para Maceió só para conhecê-lo, iniciando uma amizade que duraria até a morte de Graciliano, em 1953. Mas os laços não se perderam. 

A filha do mestre Graciliano, Luiza de Medeiros Ramos, casou-se com James Amado, irmão do escritor baiano. Da união entre as duas famílias nasceu, em 1959, Fernanda Ramos Amado, neta de Graciliano Ramos e sobrinha de Jorge Amado.



Extraído do sítio Correio 24 Horas

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