31 de outubro de 2012

BIÓGRAFO DE CLARICE LISPECTOR COMENTA TEXTOS FALSOS ATRIBUÍDOS À AUTORA NA INTERNET - Guilherme Sardas

Benjamin Moser. Crédito:Márcio Lima

Depois de perceber que não levava jeito com os ideogramas ao tentar aprender o chinês, o escritor, crítico literário e tradutor norte-americano Benjamin Moser descobriu a língua portuguesa e, de quebra, a paixão pela obra de Clarice Lispector, a biografada de seu livro de estreia “Clarice,” (2009, Cosac Naify).

Publicado nos EUA pela editora da Universidade de Oxford, pela Haus Publishing, no Reino Unido, e pela Civilização, em Portugal, a obra deve ser lançada ainda na França e na Alemanha. Também é tradutor de “Nove Noites”, de Bernardo Carvalho, e dos romances policiais do também brasileiro Luiz Alfredo Garcia-Roza.

Graduado em História pela Universidade de Brown, nos EUA, e mestre e Ph.D pela Universidade de Utrecht, na Holanda, onde vive, Moser falou à IMPRENSA sobre a popularização da obra de Clarice Lispector pela internet, além da falsificação crescente de seus textos na rede - fenômeno compartilhado por outros escritores e tratado pela revista nesta edição de novembro. Confira:

IMPRENSA – É de conhecimento comum que, no Brasil, lê-se muito pouco. De repente, as redes sociais estão repletas de frases e referências literárias. Como você vê isto?

BENJAMIN MOSER – Sempre achei essa ideia de que se lê muito pouco no Brasil é um lugar comum. Quando vejo o amor que os brasileiros têm por Clarice, vejo que alguém está lendo no Brasil. Aliás, o livro no Brasil tem sido caríssimo, e o acesso difícil, até para a classe média. Finalmente, isso está mudando, mas ainda há muito caminho a andar. Tem mais a ver com a economia e a política educativa do que com a falta de interesse do povo. 

E quanto à migração de frases e trechos de obras para a Internet?

Quanto às frases na internet é uma maneira de popularização. Não vejo mal nisso. Mesmo se 1% das pessoas que encontram essas frases soltas se inspiram a ler uma obra de Clarice, já é 1% mais do que teriam feito sem essa publicidade. 

Clarice é apontada, de forma geral, como campeã de “falsificações” na internet. Você acha que isso, de fato, ocorre?

Acontece, e muito! Acho engraçado. Porque a própria Clarice, que morreu bem antes da internet, falou que outra pessoa poderia muito bem escrever o que ela escreveu. Acho maravilhoso que a obra dela continue a ser escrita, talvez bruscamente, décadas depois da morte da autora... 

A seu ver, é possível sondar um motivo da popularidade de Clarice na rede?

Porque a Clarice é maravilhosa, tem frases perfeitas que vão ao âmago do que uma pessoa está sentindo e em pouquíssimas palavras consegue traduzir o coração das pessoas. 

É possível citar as falsificações mais comuns da Clarice?

"Eu adoro voar" é uma delas. Tem também o tal de poema que você lê de cima para baixo e depois de baixo para cima. Mas, há outros milhões.

Extraído do sítio Portal Imprensa

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