22 de outubro de 2012

DEIXEI DE SER AQUELE QUE ESPERAVA - Fernando Pessoa


Deixei de ser aquele que esperava,
Isto é, deixei de ser quem nunca fui...
Entre onda e onda a onda não se cava,
E tudo, em ser conjunto, dura e flui.


A seta treme, pois que, na ampla aljava,
O presente ao futuro cria e inclui.
Se os mares erguem sua fúria brava
É que a futura paz seu rastro obstrui.

Tudo depende do que não existe.

Por isso meu ser mudo se converte
Na própria semelhança, austero e triste.

Nada me explica. 
Nada me pertence.
E sobre tudo a lua alheia verte
A luz que tudo dissipa e nada vence.

In Poesias Inéditas. Fernando Pessoa.

Extraído do sítio Domínio Público

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