23 de fevereiro de 2013

O B(O)OM DO CINEMA CHILENO

García, ganhadora do Urso de Ouro de melhor atriz no Festival de Berlim, ao lado de Sebastián Lelio, que a dirigiu em "Gloria”

Abram alas, os que ainda não notaram, que o cinema do Chile quer passar.

Se você for ao país hoje e procurar uma produção vasta e constante, distintas vias de distribuição, abundância de salas e obras que se conectem com o público chileno – uma indústria cinematográfica em pleno funcionamento, enfim –, é provável que não encontre. Mas certamente vai se deparar com uma porção de prêmios, reconhecimentos, indicações e outros fuzuês recentes ao redor de alguns filmes.

O fato é que o Chile é a atual menina dos olhos de importantes festivais internacionais. Esse fenômeno aparentemente aleatório, que já se deu no passado com outros países, como a Argentina, vem se fortalecendo de dois anos pra cá. E ficou evidente no começo deste ano, em que duas indicações importantes foram anunciadas: a escolha de No, de Pablo Larraín, para disputar o Oscar estrangeiro no próximo domingo (24/02) e a seleção de Gloria, de Sebastián Lelio, na competição oficial do Festival de Berlim – que anunciou seu palmarês no último dia 17.

Tanto Larraín como Lelio são representantes de uma geração de jovens e talentosos cineastas formados em Santiago, não necessariamente em cinema, que através de coproduções com outros países e de apoio estatal (nessa ordem) conseguem realizar filmes autorais, combinando questões universais à realidade chilena e conquistando plateias, sobretudo as dos festivais. Eles têm paciência e perseverança e, depois de acumular certa experiência, começam a se posicionar em cenários de destaque mundial.

Gloria, por exemplo, é o quarto longa-metragem de Sebastián Lelio, 39, e o segundo título chileno a entrar no páreo de um Urso de Ouro (o primeiro foi La frontera, de Ricardo Larraín, em 1992). Apesar de ter sido aclamado como um dos favoritos em Berlim, não levou o prêmio de melhor filme. Ao invés disso, entregou o Urso de Ouro de melhor atriz a Paulina García e, além disso, foi celebrado pelo público do evento – o que se traduziu em múltiplas ofertas de vendas. Com isso, terá vida longa, passeando por muitos outros festivais e sendo lançado comercialmente em várias praças. No Brasil, a distribuidora Imovision já anunciou a compra do filme, que acompanha as tentativas de Gloria, uma mulher na entrada da terceira idade, para escapar do marasmo da velhice e dar significado à vida com um novo amor.

No, que Pablo Larraín, 37, lançou no Festival de Cannes do ano passado, tem uma trajetória parecida – êxito em festivais, lançamento comercial –, mas foi mais longe, tendo garantido ao Chile sua primeira indicação ao Oscar e podendo garantir a estatueta. Seu tema – o plebiscito que tirou o ditador Augusto Pinochet do poder, retratado do ponto de vista dos publicitários responsáveis pela campanha de TV que antecedeu a votação – estimula discussões acaloradas e conquistou tanto críticos como espectadores comuns.

O que é que o Chile tem

Interessante é notar que esse boom do cinema chileno se dá com histórias que não são aleatórias, nem muito menos insignificantes.

No caso de No e de Gloria, ambas nascem de uma profunda avaliação do que é ser chileno hoje, ponderando os ânimos de uma sociedade que suportou 15 anos de violenta ditadura e a eliminou com apoio da TV ou então, simplesmente, o que é adentrar a maturidade a tropeços – comparando a personagem Gloria ao próprio Chile, como fez Sebastián Lelio em entrevistas concedidas em Berlim.

É possível que os festivais alternem sem maiores razões suas paixonites por uma ou outra cinematografia. Mas que bom que chegou a vez do Chile mostrar a cara de um país que poucos sabem como realmente é, chilenos incluídos. E que essa missão esteja nas mãos diplomáticas de filmes de qualidade.

Extraído do sítio Opera Mundi

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