28 de fevereiro de 2013

A BENÇÃO DA TECNOLOGIA - Mauro de Bias

Biblioteca do Vaticano disponibiliza na internet 256 dos seus 80 mil manuscritos. Em parceria com a universidade de Oxford, o processo de digitalização do acervo vai levar mais de dez anos para ser concluído.

Manuscritos mais frágeis terão prioridade na digitalização

Fechados pelo enorme aparato de segurança do Vaticano e guardados com extremo rigor no cuidado com temperatura e umidade do ar, mais de 80 mil manuscritos passam por um processo de digitalização na Biblioteca Apostólica Vaticana. As primeiras 256 obras jão estão disponíveis no site da instituição e, entre elas, há preciosidades como 'Variae epistolae', do ano 537, de autoria do monge calabrês Cassiodorus Senator.

O esforço para digitalizar todos os manuscritos da biblioteca é lento, custoso e delicado, conforme explicitou o monsenhor Cesare Pasini, prefeito da institutição. Todas as obras disponíveis agora e no futuro podem ser consultadas gratuitamente.

O procedimento é feito com tecnologia chamada Fits (Flexible Image Transport System), desenvolvida pela Nasa - a agência espacial dos Estados Unidos. Para esta primeira fase da digitalização, a Biblioteca Vaticana recebeu 2,5 milhões de euros da fundação londrina Polonsky. A biblioteca Bodleian, da Universidade de Oxford, também terá manuscritos digitalizados. Estima-se que 1,5 milhão de páginas sejam fotografadas, sendo dois terços correspondentes às coleções do Vaticano.

O prefeito da Biblioteca Vaticana conta que há uma prioridade. Escritos hebreus, gregos e incunábulos (obras impressas com tecnologia ainda incipiente) do século XV foram os escolhidos para virem à público primeiro, devido à importância histórica. “As obras são de vários períodos históricos, vão da Idade Média ao século XV. Decidimos por digitalizar antes os manuscritos mais delicados e antigos”, explica Pasini.

Tudo é feito com doações e apoio de outras instituições, como a EMC Corporation, que oferece o suporte técnico. “Eles nos deram máquinas para digitalização, conservação e também apoio financeiro”, conta Pasini. A Biblioteca Vaticana mantém ainda outro projeto de digitalização em andamento, em parceria com a Universidade de Heidelberg, na Alemanha. Com ele haverá a reconstituição digital da antiga Biblioteca Palatina, a qual chegou a ser considerada tesouro da Alemanha no século XVI, cujo acervo se encontra, na maioria, em Roma.

“Esses bens dizem respeito à Humanidade. Tem cultura clássica, humanística, pré-colombiana, asiática, chinesa, japonesa. São livros que podem interessar a todas as pessoas curiosas do mundo”, enumera o dirigente da biblioteca. “As pessoas vão poder ler e ver as imagens; isso se torna um serviço de conhecimento e liberdade”, completa.

Muitos anos pela frente

Manuscritos disponíveis são de períodos da Idade Média até o século XV

O trabalho, porém, será longo. No ano passado, quando o projeto foi anunciado, a expectativa era de completá-lo em até cinco anos. Mas a escassez de recursos pode atrasar - e muito - o processo. “As dificuldades financeiras destes anos tornaram difícil encontrar colaboradores. Portanto, o projeto deve levar mais de dez anos para ser concluído”, avalia Pasini. A biblioteca agora está procurando instituições que possam ajudar a financiar o projeto, já que o dinheiro disponível só deve assegurar mais três anos de trabalho.

O professor de paleografia João Franklin Leal, avalia a digitalização dos manuscritos com empolgação. “A gente aplaude, porque é realmente uma coisa estupenda. Não é só maravilhosa, é estupenda”, diz. Para o historiador, que já visitou a Biblioteca Vaticana, ter os manuscritos online gratuitamente é uma forma de democratizar o conhecimento.

“Agora não vai ser mais preciso pegar avião, se hospedar em hotel, passar pela burocracia do acesso. Isso tudo leva tempo. Para consultar um livro é preciso esperar uma semana. Imagina o preço que fica”, comenta. “Com tudo digitalizado e na internet, o acesso é em casa”, destaca Leal.

Há, porém, uma única desvantagem da iniciativa, segundo Leal: “Só é uma pena que as pessoas vão perder a oportunidade de visualizar a beleza da própria estrutura física da biblioteca e dos exemplares. Uma coisa é ter digitalizado. É bonito, é fantástico, a informação está ali. Mas outra coisa é sentir o produto na sua frente, tocar nele. Isto não dá para substituir”, suspira.

Extraído do sítio Revista de História

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários serão moderados. Não serão mais publicados os de anônimos.