21 de fevereiro de 2013

DOCUMENTÁRIO MOSTRA PERSEGUIÇÃO DO GOVERNO CHINÊS A AI WEIWEI - Piero Locatelli

Documentário ajuda a entender obra e vida do artista chinês. Foto: Reprodução

Em 2008, um terremoto fez cerca de 68 mil vítimas na China. Após o desastre, o artista e ativista Ai Weiwei foi à província de Sichuan documentar os estragos. Durante seus trabalhos, Weiwei levantou os nomes das cerca de cinco mil crianças mortas em escolas construídas de forma precária na região, um aspecto da tragédia que provocou constrangimento internacional e manifestações contra o governo chinês. Entre os voluntários, havia uma única ocidental: a jornalista e cinegrafista norte-americana Alison Klayman, então com 24 anos. Foi em Sichuan que Alison decidiu fazer um documentário sobre Weiwei. “Trabalhando lá, eu percebi que meu melhor lugar seria documentando a história de Weiwei, em vez de filmar só o que sobrou do terremoto.”

O resultado foi o documentário Ai Weiwei: never sorry (Ai Weiwei: sem perdão) que serve como uma introdução didática à obra do artista. O filme contextualiza momentos chave da vida de Weiwei, indissociáveis de suas obras de arte. Em uma dessas ocasiões, o filme mostra Weiwei sendo surpreendido e agredido pela polícia em Chengdu, cidade no sul da China onde ele prestava depoimento. Devido às agressões, o artista foi operado para a retirada de um coágulo do cérebro quando estava em Munique, na Alemanha. O filme também retrata a destruição de seu estúdio em Shanghai. Erguido com a ajuda do próprio Estado, em uma aparente manobra para manter o artista no país, foi demolido pelo partido Comunista em janeiro de 2011.

Reconhecimento fora do país. Desde que o documentário começou a ser feito, Weiwei se tornou a voz mais conhecida de oposição ao partido comunista chinês e foi considerado duas vezes pela revista ArtReview como o artista mais influente do mundo.

Alison conta que o reconhecimento do artista fora do país é completamente diferente da percepção dos chineses sobre Weiwei. “Ele tem um lugar muito importante no circuito de artes e ativistas chineses, mas não há pessoas parando e falando com ele no meio da rua”, diz a diretora. “Eu só percebi o tamanho de tudo quando eu vi milhares de pessoas indo vê-lo na Alemanha. Eu não pensava nele naquele contexto.”

Na Alemanha, Weiwei fez uma grande instalação com mochilas, onde cada uma simbolizava uma criança morta durante o terremoto de Sichuan. Na Inglaterra, é mostrado o assédio de jornalistas quando Weiwei montou um imenso jardim formado por sementes de girassol feitas de porcelana.

Arista na abertura da sua exposição em Londres. Foto: Reprodução

Diretora não conhecia Wewei. Alison conheceu o artista por acaso quando procurava trabalho em Pequim. Ela havia se mudado para a China e fazia vários bicos para se manter quando foi chamada por uma amiga para fazer um pequeno vídeo sobre uma exposição de Weiwei. “É um pouco triste, mas eu só fiquei sabendo que ele existia naquela época.” Em 2008, Weiwei já escancarava sua briga com o partido. Ele havia se recusado a comparecer a abertura das Olimpíadas de Pequim no Ninho de Pássaro, estádio olímpico projetado com a sua ajuda.

Durante a filmagem do documentário, Liu Xiaobo, amigo de Weiwei e ativista chinês, foi preso e posteriormente ganhou o prêmio Nobel da paz, em 2010. Quando Alison acabava de fazer o filme, em abril de 2011, era o próprio Weiwei que, ia para a cadeia, sob a alegação de sonegar impostos. “Eu estava editando o filme em Nova Iorque. Em abril, Weiwei devia ir pra lá me encontrar, porque nós combinamos que ele veria o corte final,” diz a diretora. Alison teve que adiar o lançamento do filme para que o artista pudesse assisti-lo. Desde então, o filme já foi traduzido para 24 línguas diferentes e rodou o mundo. Weiwei continua sendo tratado como inimigo do regime. Por conta da acusação de sonegação, não está mais sob custódia, mas continua impedido de sair de Pequim.

Museu da Imagem e do Som de São Paulo – MIS-SP - Avenida Europa, 158, Jardim Europa, São Paulo - 21/02 – quinta-feira, 20h - 22/02 – sexta-feira, 20h - 23/02 – sábado, 15h - 24/02 – domingo, 19h30 - R$ 6 | R$ 3 (meia)

Extraído do sítio CartaCapital

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