Estrela triste a refletir na lama,
raio de luz a cintilar na poeira,
tens a graça sutil e feiticeira,
a doçura das curvas e da chama.
Do teu olhar um fluido se derrama
de tão suave, cândida maneira
que és a sagrada pomba alvissareira
que para o Amor toda a minh'alma chama.
Meu ser anseia por teu doce apoio,
nos outros seres só encontra joio,
mas só no teu todo o divino trigo.
Sou como um cego sem bordão de arrimo
que do teu ser, tateando, me aproximo,
como de um céu de carinhoso abrigo.
Cruz e Sousa, em Últimos Sonetos (1905, póstumo)
Extraído do sítio Portal São Francisco
João de Cruz e Sousa
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