6 de dezembro de 2011

ABRIGO CELESTE - Cruz e Sousa



Estrela triste a refletir na lama, 
raio de luz a cintilar na poeira, 
tens a graça sutil e feiticeira, 
a doçura das curvas e da chama. 

Do teu olhar um fluido se derrama 
de tão suave, cândida maneira 
que és a sagrada pomba alvissareira
que para o Amor toda a minh'alma chama. 

Meu ser anseia por teu doce apoio, 
nos outros seres só encontra joio, 
mas só no teu todo o divino trigo.

Sou como um cego sem bordão de arrimo 
que do teu ser, tateando, me aproximo, 
como de um céu de carinhoso abrigo.

Cruz e Sousa, em Últimos Sonetos (1905, póstumo)
Extraído do sítio Portal São Francisco 


João de Cruz e Sousa

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