6 de dezembro de 2011

ORHAN PAMUK E O NOVO ROMANCE BURGUÊS NA ERA DA INTERNET - Samir Oliveira

Orhan Pamuk encerrou a temporada 2011 do ciclo de palestras Fronteiras do Pensamento em Porto Alegre | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Para Orhan Pamuk, o romance é uma arte urbana e burguesa. O escritor turco, que esteve em Porto Alegre nesta segunda-feira (5) para participar do ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento, acredita que o desenvolvimento econômico de países como Brasil, México, Turquia e China altera a correlação de forças na produção literária global e faz emergir outros tipos de leitores e autores. “Esses países estão ficando mais ricos e uma nova classe burguesa está surgindo. O que classificam de mercados emergentes eu costumo chamar de humanidade emergente”, comparou.

O romancista considera que além da realidade política e social dos países emergentes, outro fator já está afetando a forma como as pessoas leem ou escrevem livros hoje em dia: a internet. Ele avalia que a web é um “mar de anarquia”, onde absolutamente tudo pode ser acessado, sem uma distinção entre o que é bom ou ruim, belo ou horrível, verdadeiro ou falso.

“É por isso que bons editores e boas companhias de livros são necessários. Precisamos de alguma seleção para que possamos ler o que há de melhor”, defendeu, acrescentando que “a internet é boa para quem quer se expressar e não consegue publicar em alguma editora”.

Orhan Pamuk: “A revolução tecnológica mistura a chamada alta cultura com o que qualquer pessoa escreve de sua casa. Algo novo surgirá disso tudo” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
A posição de Orhan pode parecer conservadora, mas ele reconhece que as redes sociais acabam se convertendo numa espécie de catapulta para novos escritores. “A internet influencia o surgimento de novos autores. Conheço editores que publicaram determinados livros porque leram primeiramente em blogs”, comentou.

O escritor projeta, ainda, que a internet trará novos atores à cena cultural, na medida em que reúne diferentes tipos de manifestações. “A revolução tecnológica mistura a chamada alta cultura com o que qualquer pessoa escreve de sua casa. Algo novo surgirá disso tudo”, estima.

Pamuk não ignora as implicações econômicas da conversão de livros em bytes, que dispensa o uso de papel, de espaço físico para armazenamento das obras e de um sistema de logística para sua distribuição. “Parece que tudo está mudando e o chão desaba sobre nossos pés. É muito difícil prever o futuro, mas uma coisa é certa: os livros serão mais baratos”, prevê.

“Fico feliz que as nações árabes estejam recuperando sua dignidade. Mas não podemos esquecer que o exército ainda está no comando. E os grupos islâmicos estão apenas aguardando para assumir o lugar dos militares” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
“O pior que pode ocorrer é a união entre o autoritarismo islâmico e o militar”

O escritor turco Orhan Pamuk conhece bem a intolerância e o ódio cego contra determinadas ideias ou grupos. Chegou a ser ameaçado por nacionalistas e processado pelo governo da Turquia por criticar o silêncio que reina no país a respeito do genocídio contra a população armênia.

O massacre ocorreu entre 1915 e 1917 e até hoje parte da sociedade turca nega que cerca de 1,5 milhão de vidas foram ceifadas no holocausto que atingiu a população armênia que vivia no antigo Império Otomano. Por criticar publicamente a negação desse genocídio, Pamuk foi acusado de ofender a identidade nacional e poderia ter pego até três anos de prisão.

Em entrevista coletiva nesta segunda-feira (5) em Porto Alegre, o escritor turco disse estar feliz com a queda de ditadores nos países árabes do norte africano, mas lembrou que em muitos casos os militares permanecem no poder. “Fico feliz que as nações árabes estejam recuperando sua dignidade. Mas não podemos esquecer que o exército ainda está no comando. E os grupos islâmicos estão apenas aguardando para assumir o lugar dos militares”, alertou.

Pamuk confessou que está cansado de assistir a alternância entre o autoritarismo islâmico e o autoritarismo militar nos países árabes. “O pior que pode acontecer é a união desses dois grupos”, lamentou.

Ramiro Furquim/Sul21
Extraído do sítio do Sul21

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