16 de outubro de 2012

O COMETA DO PRÊMIO NOBEL TOMAS TRANSTÖRMER - Pedro Justino Alves

Desconhecido do grande público (e do pequeno…), Tomas Tranströmer ganhou o Prémio Nobel da Literatura do ano passado. Aos poucos, as editoras nacionais editam as obras do sueco, como a Sextante, com «As minhas lembranças observam-me», o livro de memórias do sueco, única obra que o autor escreveu em prosa.

«´A minha vida.` Quando penso estas palavras, vejo diante de mim um rasto de luz. Observando melhor, a luz tem a forma de um cometa, com uma cabeça e uma cauda. A extremidade mais luminosa, a cabeça, é a infância e a idade do crescimento. O núcleo, a parte mais densa, é a primeira infância, quando são determinados os traços principais da nossa vida. Tento recordar-me, tento chegar lá. Mas é difícil movimentarmo-nos nessas regiões muito condensadas, é perigoso, tenho a sensação de que chegaria muito próximo da morte. Mais adiante, o cometa dilui-se: é a parte mais comprida, a cauda. Torna-se cada vez menos denso, mas também mais largo. Encontro-me agora num ponto muito avançado da cauda do cometa; tenho sessenta anos no momento em que escrevo estas linhas.»

Começa assim «As minhas lembranças observam-me», uma «introdução» que demonstra que estamos perante um texto acima de tudo poético, que apresenta um cuidado extremo com o uso das palavras, que são racionalizadas ao limite para que não estejam a perturbar o seu significado.

Um texto pequeno, embora marcante. Sem alarido, Tomas Tranströmer revela aos poucos, sem pressa, parte da sua biografia, os primeiros anos, a importância da família, as principais recordações infantis e adolescentes, a guerra, o medo, a escola, os seus gostos culturais… Ao contrário de livros semelhantes, o sueco não escreve uma tese sobre a sua vida, preferindo revelar pequenos acontecimentos que acabaram por ser determinantes na sua formação, mas sem se perder do essencial.

São apenas oito pequenos textos, de uma simplicidade cativante, embora de uma sensibilidade enorme. Aos 60 anos, Tranströmer olhou para o seu passado e resolveu oferecer parte dele ao leitor. No fundo, o autor procura entender como a sua vida se encaminhou para a poesia, como a poesia «raptou» a sua vida. Aqui estão algumas pistas…

A edição de «As minhas lembranças observam-me», escrita pouco antes de um AVC que foi vítima, apresenta ainda fotos do autor aquando da sua infância e juventude, além de «Primeiros Poemas», inéditos em Portugal. Conta ainda com um Posfácio de Pedro Mexia.

Extraído do sítio Diário Digital

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