30 de junho de 2012

ACORDO ORTOGRÁFICO DA TANGA


Em qualquer argumentação, o raciocínio válido é necessário para uma exposição honesta dos nossos pontos de vista e sem argumentos que falhem em provar o que alegam ou que provem algo descabido. A esta última prova, a aparente prova de algo errado, chama-se um engano propositado.

Este tipo de engano é usado pelas mais diversas pessoas na nossa vida incluindo ascendentes, descendentes, amantes e governantes. É a vulga tanga. Não a tanga que o actual presidente da Comissão Europeia dizia que o nosso país envergava mas as tangas com que nos alimentam diariamente. Argumentos logicamente inconsistentes mas colocados de forma hábil para, propositada e criminalmente, enganarem os mais incautos.

Considerar o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa como um passo em frente no projecto de unificação ortográfica da Língua Portuguesa como fundamento da unidade da lusofonia é uma tanga.

Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Timor Leste utilizam a grafia portuguesa. O Brasil não. Unificação significa tornar uno ou reunir várias partes num só. Primeira premissa: há mais países a utilizarem a grafia portuguesa. Segunda premissa: somente o Brasil utiliza uma grafia diferente. Terceira premissa: unificar significa tornar a grafia comum a todos. Logo, quem tem que mudar é o Brasil. Silogismo sem falácias políticas.

Segunda tanga: desaparecem o "c" e o "p" nas palavras onde não se lêem (são mudos). Ao contrário do que os brasileiros possam pensar, escrever ou falar, em grande parte dos casos estas consoantes são lidas. Recessão não se lê da mesma forma que recepção, por exemplo. Se adoptarmos a grafia brasileira e escrevermos “receção”, estamos simplesmente a regredir. Ou seja, se as consoantes não são mudas porque alteram a sílaba tónica não podem ser omitidas.

Terceira tanga: Deixa de ter acento diferencial a forma verbal de «para». Alto e pára o baile! Também vão argumentar que o acento é mudo?

Obviamente que, entre tantas medidas brilhantes, o uso do “h” teria que ser uma das alterações. A humidade passa a ser umidade, por exemplo. Curiosamente, o verbo em que os portugueses mais erram, o verbo haver, mantém o “h” embora perca o hífen nas formas monossilábicas como “hás-de” que passa a “hás de”. Felizmente, não passa a “hades”. Se a padronização do erro é um dos objectivos deste acordo, também o verbo haver deveria perder o “h”. Não existe asneira mais vulgar do que o uso de “á” em vez de “há”. Assim, todos nós, portugueses verdadeiros e portugueses iletrados de bandeira da selecção à janela, teremos a faculdade de escrever correctamente.

No que diz respeito à correcção e bons costumes, ninguém hesitou em referendar a lei da interrupção voluntária da gravidez. Muito francamente, é um pouco absurdo que homens e mulheres que por qualquer razão não possam ter filhos, tenham votado. Não lhes dizia respeito mas votaram e a lei passou. Ainda bem. A língua portuguesa diz respeito a todos nós. Um referendo impõe-se.

E tenho a certeza absoluta do resultado das votações se os portugueses de Fátima e do futebol não estiverem ocupados a ver um jogo de futebol na tasca mais próxima.

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