23 de junho de 2012

BOIS DORMINDO (I) - Zila Mamede



A paz dos bois dormindo era tamanha 
(mas grave era a tristeza de seu sono) 
e tanto era o silêncio da campina 
que se ouviam nascer as açucenas. 

No sono os bois seguiam tangerinos 
que abandonando relhos e chicotes 
tangiam-nos serenos com as cantigas 
aboiadeiras e um bastão de lírios. 

Os bois assim dormindo caminhavam 
destino não de bois mas de meninos 
libertos que vadiassem chão de feno; 

e ausentes de limites e porteiras 
arquitetassem sonhos (sem currais) 
nessa paz outonal de bois dormindo.

Zila Mamede in O Arado

Extraído do sítio Jornal de Poesia

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