28 de junho de 2012

AO RIO DE JANEIRO - Fagundes Varela

Rio Antigo. Foto: Prof. Otávio Cruz Innocencio 
Adeus! Adeus! Nas cerrações perdida
Vejo-te apenas, Guanabara altiva,
Mole, indolente, à beira-mar sentada,
Sorrindo às ondas em nudez lasciva.

Mimo das águas, flor do Novo Mundo,
Terra dos sonhos meus,
Recebe azinha no passar dos ventos
Meu derradeiro adeus!

A noite desce, os boqueirões de espuma
Rugem pejados de ferventes lumes,
E os loiros filhos do marinho império
Brotam do abismo em festivais cardumes.

Sinistra voz envia-me aos ouvidos
Um cântico fatal!
Permita o fado que a teu seio eu volte,
Oh! meu torrão natal!

Já no horizonte as plagas se confundem,
O céu e a terra abraçam-se discretos,
Leves os vultos das palmeiras tremem
Como as antenas de sutis insetos.

Agora o espaço, as sombras, a saudade,
O pranto e a reflexão...
A alma entregue a si, Deus nas alturas...
Nos lábios a oração!

Tristes idéias, pensamentos fundos
Nublam-me a fronte descaída e fria,
Como esses flocos de neblina errante
Que os cerros vendam quando morre o dia.

Amanhã, que verei? Talvez o porto,
Talvez o sol... não sei!
Brinco do fado, a dor é minha essência,
O acaso minha lei!...

Que importa! A pátria do poeta o segue
Por toda a parte onde o conduz a sorte,
No mar, nos ermos, do ideal nos braços,
Respeita o selo imperial da morte!

Oceano profundo! Augusto emblema
Da vida universal!
Leva um adeus ainda às alvas praias
De meu torrão natal.

In Cantos Meridionais, 1869


Extraído do sítio Portal São Francisco

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