1 de julho de 2012

ACORDO ORTOGRÁFICO: ANTÔNIO HOUAISS RECONHECIA O VALOR DIACRÍTICO DAS CHAMADAS CONSOANTES MUDAS - Antonio Fernando Nabais

Foi no mural do Francisco Belard que descobri o vídeo republicado no fim deste texto. É possível assistir a um excerto de uma entrevista, em 1990, a Antônio Houaiss, eminente linguista brasileiro e um dos impulsionadores do acordo ortográfico.

O estudioso brasileiro começa por reconhecer que fazia sentido a oposição dos portugueses, já que as modificações ortográficas decorrentes do acordo eram em maior quantidade do que as que ocorreriam no Brasil. Houaiss, prescindindo de ser linguista, limita-se, então a ser um negociante, fazendo referência ao preço a pagar pela unidade ortográfica, que, mesmo que tivesse sido alcançada, nunca seria suficiente para criar uma quimérica uniformização da escrita, ao contrário do que afirmam os vendedores da banha da cobra acordista que propagam aos quatro ventos a ideia de que, agora, se escreve da mesma maneira em toda a lusofonia.

Houiass começa por revelar um bom conhecimento da pronúncia portuguesa, ao explicar por que razão não faria sentido impor aos portugueses o acento agudo em palavras como “ideia” ou “aldeia”, uma vez que o “e” não é “aberto”.

No final do excerto, o estudioso brasileiro comete, no entanto, um erro, ao explicar que o “a” inicial de “actividade”, em português europeu, se pronuncia “aberto”, o que não é verdade.

Curioso, no entanto, é ouvir Houaiss afirmar que a “abertura” do timbre da vogal se deveria ao facto de estar antes de “c”, o que deixa bem explícito que o linguista brasileiro reconhece a existência de consoantes com valor diacrítico, ou seja, consoantes que desempenham uma função semelhante à de um acento. O reconhecimento desse facto deveria ser suficiente para impedir a supressão dessas consoantes, como é óbvio.

É claro que nunca me passou pela cabeça que Antônio Houaiss, um dos maiores linguistas da língua portuguesa, não soubesse da existência de consoantes com valor diacrítico, mas confirma-se que o acordo foi feito por linguistas que desprezam a Linguística.

Finalmente, gostaria muito que alguns defensores do acordo, que chegam a negar a existência de consoantes cuja função é “abrir” o timbre da vogal precedente, viessem, agora, contrariar o que afirmou Houaiss.


Extraído do sítio Aventar

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários serão moderados. Não serão mais publicados os de anônimos.