10 de junho de 2013

A AUSTRÁLIA PODE TER SIDO DESCOBERTA PELOS PORTUGUESES

Dois documentos abordados em um livro de 2007 levaram académicos australianos a acreditar na chegada dos portugueses à Austrália no século XVI.

Um estudo aprofundado sobre dois documentos do século XVI – um que cita uma expedição ordenada pelo rei D. Manuel I ao Oceano Índico em 1519 e outro com um mapa com nomes portugueses que parecem representar a costa leste da Austrália – levou académicos australianos a acreditar em uma teoria discutida desde a metade do século XIX – de que os portugueses das Grandes Navegações já estiveram no continente da Oceania, cem anos antes dos holandeses e 250 anos antes da expedição inglesa de James Cook.

Foi confeccionado em Dieppe, cidade costeira do norte da França, um atlas do mundo como era conhecido em 1547, cuja autoria ficou atribuída ao cartógrafo Nicholas Vallard. O Atlas Vallard contém dois mapas com uma misteriosa formação continental, cujo contorno litorâneo muito lembra o da costa leste da Austrália e que por muito tempo erroneamente acreditava-se ser um prolongamento da ilha de Java, na atual Indonésia.

Mapa do que pode ser a costa leste da Austrália no Atlas Vallard de 1547: região seria conhecida no século XVI pelos navegadores portugueses vindos da Índia.

Uma “Ilha do Ouro”, “para lá da Ilha de Sumatra”

A ideia da presença portuguesa na Austrália no século XVI é defendida pelo professor emérito de História da Universidade Nacional da Austrália, John Molony, que estudou detalhadamente os nomes de 54 locais citados no Atlas Vallard e constatou que esses nomes – todos de santos da Igreja Católica – estão ligados à Igreja da então Índia Portuguesa.

A tese do descobrimento da Austrália pelos portugueses é reforçada por outro documento pertencente à coleção Documentos sobre os Portugueses em Moçambique e na África Central, digitalizada por um projeto financiado pela União Europeia. Esse documento noticia a partida de uma esquadra a mando de D. Manuel I, vinda do porto de Cochim, Índia, em maio de 1521, para procurar uma lendária “Ilha do Ouro”, que se acreditava estar “para lá da Ilha de Sumatra”.

A esquadra, que navegou por dois anos pelo Oceano Índico próximo a Sumatra, era comandada pelo fidalgo português D. Cristóvão de Mendonça e tinha o capitão francês Pedro Eanes como cartógrafo da expedição. Nesta primeira etapa da navegação, a frota teria passado ao longo da costa oeste da Austrália.

A expedição portuguesa teve ainda uma segunda etapa em que, a partir de Malaca, teria explorado parte da costa norte e leste australiana e chegado ao Oceano Pacífico, inclusive descobrindo diversas ilhas da Melanésia e da Polinésia – e, provavelmente também, o que seria a Nova Zelândia –, antes de retornar à Índia Portuguesa em 1523.

Esse segunda viagem foi cartografada por Pedro Eanes, “o Francês” – o que explica a mistura ortográfica da Língua Portuguesa com o francês nos nomes dos locais, supostamente na costa leste da Austrália, que aparecem no Atlas Vallard, inclusive com oito nomes de localizações em francês.

Detalhe do mapa de Vallard: os nomes dos locais cartografados aparecem ou em português ou em uma versão galicizada do português.

Há um professor português que contesta a tese

Porém, no texto que acompanha a edição fac-similada do Atlas Vallard, o académico Luís Filipe Thomaz, da Universidade Católica Portuguesa, contestou a tese da descoberta portuguesa da Austrália e disse que Portugal na época tinha apenas “uma noção muito vaga do continente australiano” e que no máximo conseguiriam “apenas vislumbres dele”. Curiosamente, um professor português opôs-se à inclinação que os académicos da Austrália começam a fazer diante das evidências da chegada dos portugueses das Grandes Navegações ao grande continente meridional entre os oceanos Índico e Pacífico.

De toda forma, é digno de nota que a muito provável descoberta da Austrália, somente 30 anos após a chegada de Cristóvão Colombo à América, trata-se de outro marco histórico de relevância das Grandes Navegações portuguesas pelo mundo. 

Clique aqui para ler a reportagem detalhada do semanário Sol, assinada por Peter Trickett, jornalista britânico radicado na Austrália e autor do livro Para Além de Capricórnio, publicado em 2007, sobre a tese da chegada dos portugueses à Austrália no século XVI.

* Baseado em TRICKETT, Peter. Como os portugueses chegaram à Austrália antes de toda a gente. Do semanário Sol – Lisboa, Portugal. Publicado em: 23 maio 2013.

Extraído do sítio Ventos da Lusofonia

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