5 de março de 2013

BLOG DO LINCOLN: CAÇADORES DAS HORAS PERDIDAS - Vitor Knijnik

Que vergonha. Um bilhão de pessoas assistiram Lincoln perder o Oscar de melhor filme para Argo. Vou te contar, essa eu não precisava. Eu estava bem confortável, repousando na glória da posteridade. Além disso, durante a cerimônia, parecia que tudo rumava para uma grande celebração. Michelle Obama entregaria o prêmio de melhor filme para Lincoln e o mundo receberia a imagem pronta, completa e acabada, sem margens para interpretação, de minha contribuição histórica se refletindo até os dias presentes.

Do Blog do Lincoln

Não culpo os membros da academia. O responsável por este fracasso é o Spielberg. Tenho que confessar que até eu dormi me vendo. O filme é um tédio. No final do meu segundo mandato, os Republicanos Radicais, a facção abolicionista do Partido Republicano, me criticou pelo avanço lento na abolição da escravatura. Isso porque eles não viram Lincoln.

Por que logo comigo este rapaz resolveu ser contido? Até a trilha de John Willians está econômica. Quando soube que Steve estaria na direção de Lincoln, passei a delirar. Imaginei que ele me transformaria num Indiana Jones, num Schindler ou até num ET, aos moldes do que fez o diretor Timur Bekmambetov em Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros, só que com mais talento. Nada disso. Minha cena de maior ação no filme é quando conto piadas para a tropa.

Entendo a escolha de Spielberg. Ele preferiu concentrar-se nos meses de 1865 que antecederam o fim da guerra civil. Resolveu ser mais fiel aos fatos e mostrar didaticamente como foi que consegui expurgar a escravidão do Estados Unidos. Mas a narração da história da aprovação da 13ª emenda saiu pior do que o soneto. Se Spielberg queria fidelidade que comprasse um cachorro, como diz Mister Catra. A plateia quer mesmo é chorar, rir, se emocionar. Lincoln só quer ensinar. É um docudrama, sem a parte do drama.

Claro que a película tem qualidades. A direção de arte é linda e mereceu o Oscar. Pena que, devido as circunstâncias, o prêmio pareceu mais um troféu de consolação. Daniel Day-Lewis está fantástico em sua interpretação. Mas isto não chega ser uma surpresa. Ele faz qualquer papel difícil com um pé esquerdo nas costas.

Bom, de todo episódio triste pode-se tirar uma conclusão. A minha é esta: se você quiser ganhar o Oscar de melhor filme, não basta que a sua temática seja ostensivamente patriótica. É preciso também saudar, através da auto-referência, a importância de hollywood.

Extraído do sítio CartaCapital 

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